sábado, 26 de maio de 2012

Detroit Rock City




Quem ouve hoje o som dos Detroit Cobras, White Stripes, Soledad Brothers ou Dirtbombs pode perguntar-se de onde saiu tal mistura de garagem, rhythm'n'blues e soul music. A resposta é simples: só podia ter saído de Detroit, sede da Motown e também berço da garagem e do pré-punk, nos anos sessenta e início dos anos setenta. Por Detroit, entenda-se também a próxima e agregada cidade universitária de Ann Arbor, e seu clima liberal. De lá para cá, as diferentes vertentes sonoras aproximaram-se e o volume aumentou.
 
Na era pré-Beatles, a gravadora Motown inundou o mundo com seus intérpretes e grupos vocais, onde se destacavam Smokey Robinson & The Miracles, Marvin Gaye, The Supremes e Jackson Five, de onde saiu Michael Jackson. O rhythm'n'blues embalado em arranjos 'esbranquiçados', mas com forte apelo rítmico, influenciou toda a geração 'anos sessenta', que produziu milhares de covers de hits da gravadora. Dos Beatles aos Stones, passando por Animals, e centenas de outros grupos, ninguém escapou de fazer suas releituras do som da Motown.

Em meados da década, com a explosão da beatlemania, a música 'branca' produzida na cidade ganhou outros contornos, mais radicais, agressivos e, depois, pesados. Esta mistura explodiu nos anos setenta, alimentando o universo roqueiro com bandas antológicas, que influenciaram as gerações seguintes, especialmente o punk rock e o som de garagem. Incendiando e sustentando a cena, destacava-se a casa de espetáculos Grande Ballroom, que tinha com o DJ e produtor Russ Gibb, uma espécie de Bill Graham (o cara dos Fillmore East/West) local. Todos os grandes heróis do rock sessentista tocaram no Ballroom e nele foi gravado o clássico 'Kick Out The Jams', do MC5.
 
Liderada por Mitch Ryder, uma espécie de Little Richard branco e punk, a banda Mitch Ryder & The Detroit Wheels deu o tom do que viria pela frente na segunda metade dos anos sessenta. No início dos anos setenta, Mitch Ryder deu continuidade ao seu trabalho com o grupo Detroit, com um acento mais pesado. Da mesma época é a clássica ? Mark and The Mysterians, com seu órgão Farfisa, responsável pelo mega-hit '96 Tears', para muitos a matriz de todas as bandas modernas de garagem.Avançando na mesma direção sonora, em 1967, o MC5 já tinha acumulado a fama de melhor banda da cidade, o que veio a confirmar-se posteriormente, com o segundo álbum 'Back In USA', lançado em 1970. Além do som agressivo, que resultava em shows arrasadores, o MC5 contava com o apoio logístico de John Sinclair, líder dos Panteras Brancas, que agregava um tom político ao som do grupo.

Sem o mesmo discurso politizado, mas profundamente vinculada às tensões existenciais da juventude da época, o grupo The Stooges também surgiu em Detroit, no final da década de sessenta. Com Iggy Pop à frente, o grupo radicalizou a linhagem garageira, gravando três álbuns clássicos, que influenciaram o futuro punk. De vida curta, o grupo acabou em 1973, com Iggy Pop retornando algum tempo depois em carreira solo. Dos Stooges saiu ainda o clássico Ron Asheton's Destroy All Monsters, nos anos setenta. E da união de integrantes dos Stooges e MC5, o Sonic's Rendezvous Band.Outros grupos também destacaram-se na cena local e conquistaram seu lugar na história do rock. Entre eles, The Amboy Dukes (de Ted Nugent), The Rationals (de Scott Morgan, também Guardian Angels) e, ainda, SRC, todos direcionados para a garagem e/ou psicodelia, com forte acento de rhythm'n'blues. Também saíram da cidade para o sucesso nacional e mundial os grupos Brownsville Station, de Cub Koda e, principalmente, Grand Funk Railroad, com seu radiofônico som pesado-pop.
 
Ainda de Detroit é o grupo Alice Cooper, que mudou-se para a cidade antes de explodir internacionalmente com sua agressividade 'trash-pop' nos álbuns 'Scholls Out' e 'Killer', de 1972 e 1973, respectivamente. E The Up, o braço musical dos Panteras Brancas, também sob a direção de Sinclair, que se mantém na ativa até hoje, à frente do selo Total Energy, subsidiário da Bomp Records.
 
Outros grupos também se destacaram nos anos setenta, especialmente The Rockets, Uprisig, The Sillies, The Ramrods, Coldcock. Mais recentemente, nos anos noventa, The Gories, The Lovemasters e The Hentchmen deram seqüência ao som de garagem da cidade.


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