segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A História da radio Ipanema FM



Essa é a história de uma rádio que foi a trilha sonora de toda uma geração contada por eles mesmos numa entrevista realizada nos estúdio de rádio da FAMECOS - PUCRS em 08/06/1999 que transcrevo aqui.Nilton Fernando, Mauro Borba, Katia Suman, Mary Mezzari contam o surgimento da rádio dos loucos.

A história:

Nilton: Eu vim para Porto Alegre para montar a Bandeirantes FM, que a rede Bandeirantes de São Paulo tinha esse canal e não tinha muito em mente o que fazer em relação a rádio mas sabia que ia ser uma coisa parecida com o que estava sendo feito em SP, até por que era muito querida dos ouvintes e era uma coisa que corria por fora da mesmice que rolava na época. Em plena Rua da Praia eu encontro o Mauro, com sua bolsa de couro, já fermentado ali depois de algumas assembléias, indo em direção a Oswaldo(Aranha). Era fase mais Califórnia da Canção Nativa. Ele era mais fã da música nativista que era uma coisa nova assim, fugindo do tradicional, folclore e fugindo também da tradicional música regional. Era uma coisa bem interessante, da música nativista via Califórnia. Aí falei para o Mauro sobre o tipo de rádio que eu tinha vontade de fazer, inclusive tocando música nativista no rádio. E convidei o Mauro para trabalhar comigo, por um bom período; o Mauro ficou trabalhando no banco e durante o dia na programação da rádio.

Mauro: Eu trabalhava na compensação de cheques das 6h à meia noite.

Nilton: Mas logo em seguida nós compramos o passe do Mauro.

P: A Band inaugurou em 1980?

Nilton: A Band foi em maio/junho, não tenho bem certeza.

Nilton: A rádio era bem pequenina, na verdade era toda gravada com locução minha. A parte musical, o jornalismo era uma coisa incipiente e logo em seguida se apresentou uma moça lépida e faceira, também "bicho grilo" que era a Beth Portugal. Ela me encantou por ser uma pessoa encantadora e fantástica. Ela disse: eu ouvi a rádio e quero trabalhar, e tal. Aí ela entrou no jornalismo da rádio.

Mary : Ela vinha da Rádio Continental (AM).

Nilton - Ela era redatora da Continental, acho que passou pela Folha da Tarde...
E ela ficou no jornalismo, o Mauro na programação. Tinha o Élton, também, que depois entrou na programação. Aí nós fomos aumentando aos pouquinhos.
Aí entrou o Eliseu Pacheco, que era um excelente locutor que nós tínhamos aqui, era da Rádio Guaíba, e que também estava formado em jornalismo, para fazer redação pela manhã e a Beth à tarde. E a rádio gravada aos pouquinhos abriu espaço para o Mauro com Noite Alta. E o Mauro se apavorou: "Pelo amor de Deus, falar em microfone não!!", Mas e aí Mauro, é uma horinha, uma vez por semana... aquela coisa... dicas culturais... e aí a gurizada do momento começou a se chegar para a Rádio, que era Bebeto Alves, e era um espaço onde o Mauro poderia rodar essas músicas, conversar com esse pessoal.

Mauro: É eu tava meio traumatizado, por que quando o Nilton estava em São Paulo, e a gente já estava montando e fazendo as mudanças na casa para instalar a rádio, o Nilton falou para eu ir falar com um senhor que eu não lembro o nome, que era o responsável pela parte comercial: Vai lá fala com ele, te apresenta e diz que tu vai trabalhar na rádio, e tal e já vai te integrando às coisas. E aí eu fui. Cheguei lá os caras montando a mesa de som, e tal. É uma coisa emocionante tu ver uma rádio começar do zero. É uma coisa difícil, né?! E aí, eu bati um papo com e ele e ele disse: Mas o que é que tu vai fazer? Olha eu nem sei direito, sei que eu já faço parte da equipe e tal. Aí ele assim: É nós vamos ter que definir tudo isso, agora, mas locutor tu não pode ser...

Mauro: Tu não tem voz de locutor

Katia: acabou contigo

Nilton: E esse senhor na verdade, era o representante da Rede Bandeirantes, chamada cadeia Verde-Amarela que a Bandeirantes tinha um monte de escritórios espalhados. Como ele já era o personagem Bandeirantes aqui, ele se auto intitulava o novo diretor, e tal. Aí quando chegou o tal de Nilton, começou a mudar um pouco. Então o tratamento com os que chegavam não era dos mais amistosos. Ele tinha a idéia de padrão de rádio daquela tradicional, tipo Guaíba. E na verdade não era nada disso que a gente estava querendo. 

Mary: Aliás, uma das características desse projeto era acabar com padrão, né?

Nilton: Sim

Mauro: É eu fazia o Noite Alta, era as quartas e sábados das 20h às 21h,. Daí eu tocava as fitas demo que começavam a pintar: Tinha Raiz de Pedra, o grupo Semente, do Marcel Dumond, lembra?

Nilton: Muito instrumental..

Mauro: Era do grupo Vende-se Sonho.

Katia: Isso é 1981?

Mauro: Isso é 80, 81

Mary: É, eu ainda não cheguei

Nilton: Tem o grupo de Santa Maria, também: Clorofila...

Mauro: Quintal de Clorofila

P: Esse programa é 1981?

Nilton: é um pouco antes... a rádio tinha alguns meses...

Mauro: Noite Alta praticamente estreou com a rádio.Aí eu tocava os gaúchos, tocava um disco novo e fazia um especial, e tal. Era um horário em que a gente sei lá ficava...

Katia: Mas era o único horário que não era gravado?

Nilton: Sim, no começo sim.

Mauro: Único horário ao vivo, era para ser todas as entrevistas, todos os papos e comentários nesse horário.

Nilton: Diga-se de passagem agora para comentar a programação. Estreou o programa de música nativista às 6 horas da manhã, é um marco em FM, por incrível que pareça: O Enquanto a Chaleira Chia.

Mauro: Não, o Enquanto a Chaleira Chia era domingo! E durante a semana era o Freqüência Nativa.

Nilton: perdão, troquei. O Freqüência Nativa foi o primeiro, que a gente ficou tentando achar uma coisa que fosse a palavra FM, mas não tinha nada com M gaudério que desse certo: FM = Freqüência Nativa. Deu tão certo, que a gente começou a fazer também aos domingos, então Enquanto a Chaleira Chia, que é uma citação do verso do Lupicínio Rodrigues.

Katia: canta a música no fundo

Nilton: É aquela coisa bem típica mesmo, do bate papo à beira do fogo.

Mauro: Daí para o The Cure foi um passo...

Nilton: o The Cure ainda não existia...E fazia-se coberturas. A famosa Califórnia da Canção Nativa. Então os nossos enviados especiais. E o Mauro foi o primeiro, acho que a Beth Portugal também foi... Eram acampamentos...

Katia: Mas então 50% da rádio era música Nativista?

Nilton: Não...

Nilton: Depois a gente continuava no mesmo pé. Egberto Gismonti da vida, na geração Mercedes Soza...

P: E dava para fugir da programação?

Nilton: Não a programação era a gente que fazia. Não tinha que fugir de nada. A gente criava a loucura na hora.

P: Era tudo na hora?

Nilton: Mauro, eu e o Elton éramos os programadores da época, programávamos... Mas não tinha locutor ao vivo... Não tinha nem porque. A própria liberdade de criação era ali na hora de fazer.

P: Essa era a idéia trazida por ti, de São Paulo?

Nilton: É essa coisa já vem assim. Não que eu fizesse o que se fazia em São Paulo, pois lá não era assim, aqui a liberdade era maior... criação... busca de uma linguagem...

P: E como a direção da Bandeirantes, aqui, encarava a Ipanema?

Nilton: Foi um caos, em relação as agências, pois muita gente dizia que isso aí não vende, não dá certo... Mas a gente começou a ter muita repercussão do público. Na verdade a Rádio nuca estourou em vendas, porque toda a rádio alternativa sofre isso. A gente fica insistindo numa história mas o comercial tem que ver um produto que os outros estão vendendo e os outros estão comprando, e aquela coisa toda. Mas como a gente tinha muita liberdade de criação não se estressava muito! Primeiro ano, assim a gente sempre recebeu grana de São Paulo pagava tudo e a gente era feliz, fazia churrasco todo o fim de semana, era uma coisa muito legal, assim...

Mauro: Mas a gente sabia que um dia isso ia acabar...

Nilton: Mas isso passaram-se 10, 12 anos, sei lá: mas um dia os homens descem e acabam com isso!! Mas na verdade como a rádio começou a se pagar e não dava problemas, fluía legal. Ela teve um conceito nacional, então a gente nunca teve uma pressão dos diretores. E eu até considero hoje, vendo com uma visão mais histórica da coisa também como um desleixo, da parte da direção...

Mary: Com certeza...

Katia: Péssima administração da Rede

Nilton: Mas a gente não era exemplo de venda, mas não era ruim. Mas como imagem a gente ia muito bem. O que mais a gente tinha de programas? Voltando aos programas assim, curiosidades... A gente tinha ao meio dia o comentário do Joelmir Bething, na época ele era da Bandeirantes, da Tv e fazia os comentários para a Rádio e nos mandava para rodar ao longo da semana. Alguns programas, os primeiros que vinham de São Paulo que eram: Mestres do Jazz, e esse programa a gente reproduzia aqui. Depois nós criamos aqui a Hora do Jazz, que eu nem sei se continua na Ipanema...

Katia: não

Nilton : era um dos programas mais antigos e sempre aos domingos. Além da hora do Jazz, também logo no começo tinha o América do Sol, com música latino americana, que era o auge da música latino americana. América do Sol era um programa que foi criado em São Paulo, pelo Abílio Manuel, que foi um grande sucesso, era uma espécie de Peninha da época... Aí acabou o programa na rede, e nós tivemos que criar aqui o Encontro latino, né? É esse o nome a versão local do América do sol?

Mauro : eu não lembro, não chegou a marcar muito, não durou...

Nilton : O que mais que a gente tinha de programas específicos?

Nilton: Aí tinha a necessidade de dicas culturais e precisava de mais gente na redação. Aí Beth Portugal disse: Olha tem uma moça legal, uma colega minha... assim, assim... podia fazer dicas de cinema... aí já disse que ela entendia tudo de cinema... que era a melhor pessoa para fazer cinema...

Nilton: E eu percebendo... Aí chega a Mary toda tímida, e fazia então as dicas de cinema. Aí ela passava a tarde inteira para gravar 4 ou 5 dicas de cinema, mas acabava gravando! Aí depois ela começou a gostar da latinha e fazia ao vivo. A essa altura a rádio já era ao vivo. O Mauro foi para a tarde...

Mauro: Eu comecei a fazer das 15h ...

P: Que ano é isso?

Nilton: Ela gosta de números....

Nilton: é 82, 81...

Katia: Quando eu ouvia a rádio, eu lembro que o Mauro era a tarde e a Mary entrava...
Katia: Então era 83

Nilton falava para Mary: Fazia parte do teu contrato... Tinha um programa especial aos sábados.

Todos: Não lembro o nome do programa....

Mary: Mas em umas férias do Mauro eu fiz latinha...

Nilton: Aí o Mauro viajou e não queria. Eu disse, não vai... na volta chorou por que não queria sair da latinha...

... Todos falam ao mesmo tempo....

Mary: Tinha uma locutora na noite, lembra?

Todos: Sim era gravada...

Mary: Ela foi embora e aí a Katia chegou...

Nilton: A Tetê Machado tinha todo um estilo próprio, fez muito rádio, Tv, tinha um padrão Guaíba, foi locutora da Rádio Jornal do Brasil muitos anos, e tal... Era muito legal, só que ela estava em um outro mundo, outro universo... A linguagem realmente não batia.

Mary: A rádio tava indo por uma caminho....

Nilton: Tava mais jovem, a gente era mais instrumental, mais hermética, a rádio estava mais rock'n'roll

Mary: ela tinha uma padrão mais tradicional...

Nilton: É quando surge o Ricardo Barão.

Mauro: O Barão um dia entra na sala da produção e aí diz: "Bah véio, o negócio é o seguinte.."..
Mauro: (imitando o Barão) "A rádio é do caralho, é a fudê, mas tá faltando rock cara! E eu tenho tudo... Eu tenho Led, eu tenho os discos tudo... Isso com os discos na mão!"

Mauro: Aí eu achei interessante a história, porque eu não era um roqueiro, claro que conhecia, Beatles e Credence desde ( qu eu morava em ) Cachoeira do Sul, mas eu não tinha cultura de rock. Não tinha escutado um Led atentamente...

Mauro: Mas eu não tinha como fazer um programa de rock! Nem pensar! Aí o Barão pintou com essa possibilidade e eu fui falar com o Nilton: Acho que tá na hora, e aí o Barão entrou com Estúdio 546.

Katia: Porque?

Nilton: Por causa do Studio 54, era uma brincadeira em cima...

P: Bandeirantes era 99.3?

Nilton: Isso aí tudo ainda é Bandeirantes... Ainda não fomos para a Ipanema, ainda tem 15 anos pela frente....

Katia: Aí vem a Guerra do Paraguai...

Mary: Aí existia um canal de freqüência modulada, que era Difusora Fm, que era uma rádio 100% Brasil, com chorinho...

Nilton:... Só tocava chorinho... E diga-se de passagem que o canal da Difusora FM foi o primeiro canal que ficava no ar simultâneo com a Difusora AM. Eu lembro que tinha um tal de canal FM, que a gente não sabia que bicho era aquele, mas transmitia simultâneo com a AM. ( Nota : fazia link de irradiação da AM para a torre de transmissão, em Canoas) A Rádio Difusora fazia parte da Rede Difusora. 2 ou 3 anos depois da Bandeirantes FM estar no ar com toda essa história que a gente está contando...

Mauro: Foi de 1980 a 1983

Mauro: A Ipanema entra no ar em 1983.. ( Nota : com o canal da antiga Difusora FM).

Nilton: Aí a Rede Bandeirantes adquire a Rede Difusora em Porto Alegre, com a Tv ( Canal 10 ) e as emissoras de rádio. Aí surge um drama que depois virou solução! Quem é que conta.... Eu contei essa historia tantas vezes...

Mauro: O que acontece é que a Bandeirantes não dava resultado, não tinha faturamento, não tinha audiência. Era muito respeitada, muito elogiada, mas não tinha audiência... Como a Bandeirantes era uma rádio muito forte, tinha um transmissor excelente, eles pensaram assim: Vamos pegar esse pessoal que tá fazendo a Bandeirantes FM e vamos oferecer o canal da Difusora FM para eles...

Nilton: que era mais fraquinho..( Nota : que a o canal FM da Bandeirantes 99.3 ).

Katia: para eles fazerem essa coisa...

Mauro: A Difusora era uma rádio fraca... De potência, de estúdio... de tudo... E pegamos (eles pensando), o canal da Bandeirantes, que é mais forte e vamos fazer rádio para ganhar dinheiro... Coisa que eles não estão fazendo... E aí a gente pegou tudo e foi embora para o Morro, né! ( Nota : a Bandeirantes FM ficava na Rua José Bonifácio )

Nilton: Acabou a nossa casinha!

Mauro: E aí surge a Ipanema, só que... por que Ipanema, por que quando a gente foi para lá pensou: Pó! Difusora já era um nome que lembrava uma coisa que vinha de muitos anos, que não dava certo...

Mary: Uma coisa Múmia...

Mauro: Vamos mudar o nome da rádio?!! Já estávamos entregando a Bandeirantes para eles, então o que a gente quisesse na Difusora, não iam nos negar...

Mary: Mas e o nome Ipanema?

Nilton: Outra Novela...

...Risos...

Mauro: A gente queríamos um nome que tivesse a ver com a cidade de Porto Alegre.

... todos falam juntos...

...Quintana... Usina...

Nilton: A história do Quintana foi assim: veio o diretor da empresa para me consolar, por que era um fracasso, eu me sentia assim, era uma terrível derrota, né?. Dá o nome que tu quiser a rádio é tua, realmente esse nome é muito cafona, acha um nome para a rádio aí... É amanhã eu vou embora e tu me dá um nome. Eu fui para casa apavorado, achar um nome para uma rádio... Aí não me lembro se eu liguei para o Mauro, a gente se encontrou... Eu sei que eu passei a noite pirando assim... Que tal o rio de Porto Alegre: bah! esse já tem... Bairros de Porto Alegre, aí começamos a colocar bairros.. Bom Fim FM...

Mauro: Teresópolis FM...

Nilton: Eu queria uma coisa com a cara de Poa, por incrível que pareça o nome Bandeirantes e toda a estrutura de São Paulo, era a rádio mais Porto Alegre, era a cara de Porto Alegre. Então eu queria aproveitar esse gancho e fazer uma coisa com a nossa cara. Aí foram diversos bairros, e algumas idéias assim... Me deu um estalo. Eu me lembro que eu peguei a minha máquina Olivetti, eu tenho até hoje, escrevi um monte de "coisarada" e me veio o nome!!!: vamos homenagear o poeta. Quintana FM... Aí fiz todo um programa, né! Fiz uma pesquisa e liguei para um amigo que era pianista para fazer vinhetas em quintas musicais... Nas quintas-feiras, seria o projeto quintais. Eu já imaginava lá no estacionamento da Bandeirantes, com os grupos tocando ao vivo nas quintas feiras e tal. Aí a gente entrou em contato com a sobrinha do Quintana, que era quem na época administrava a vida dele...

Mary: Helena...

Nilton: Precisava ter aprovação.

Mary: Tinha que ter o aval do poeta!

Nilton: Eu me lembro que ele falou assim:

- Que bom que todo o dia posso acordar e ouvir meu nome, foi a resposta que ele me deu...

Maravilha! Aí eu fiz tudo em cima do projeto Quintaes. A rádio Quintana FM. No entusiasmo todo da minha piração eu botei: "Que tal quando tivermos uma rádio no Ceará, poderá ser rádio Queiroz FM, em Minas a Rádio Drummond FM, no Rio Vinícius FM...
Nilton: Aí me fui, né... Só que chegou lá e os caras piraram. Quem conversou com eles foi o Wladimir, o nosso gerente comercial da época. Cada um levou o nome de um bairro, e no meio dos malditos estava Ipanema. E o que é Ipanema? É um bairro que a gurizada fica nos finais de semana. E ficou Ipanema FM!!!

Mary: Na época tava surgindo a Itapema...

Nilton: que inaugurou na mesma semana...

...Todos falam juntos...

Nilton: e os caras queriam tirar proveito: Não, tem toda a infra da RBS, e tal... Quando falar Itapema já vai se falar Ipanema... E realmente... Não sei se até hoje havia aquela troca de correspondências...

Mary: A gente atendia telefonema para a Itapema...

Nilton: Porque surgiram juntas, tinha a mesma idade e diferença nem de meses, e sim dias...

Mary: a Itapema nem existe mais...

... Todos falam ao mesmo tempo...

Nilton: Aí nós enlouquecemos... Uma rádio carioca, com nome de butique no nosso espaço todo alternativo em Porto Alegre... e agente criou vinhetas do tipo: - "Não é o nome que faz a rádio e sim a rádio que faz o nome". E foi ao ar essa loucura.

Mauro: no primeiro dia eu não falei o nome da rádio, eu não falei de raiva!

Mary: Eu me lembro que eu queria que se chamasse rádio Usina mas no meio ia ficar "radiozinha"...Todo mundo ficou magoado....

Nilton: A gente não dizia o nome da rádio. Simultaneamente por 15 dias as duas emissoras, a Band e a Ipanema, que tava deixando de ser a Difusora transmitiram simultaneamente. E agente dizia: Você que está nos ouvindo aqui nos 99, a partir do dia tal você passa a ouvir só nos 94.9

...Todos falam ao mesmo tempo...

Nilton: e aqui seguirá a sua programação...

Katia: e a programação eram vocês que faziam?

Nilton: Sim das duas....

Mauro: era em cadeia....

...Todos falam ao mesmo tempo...

Nilton: acabou a Difusora e ficou simultâneo, então se ligava no dial as duas rádios com a mesma programação.

Mary: e eu ainda não estava na latinha!!!

Nilton: Em uma meia noite que foi do dia 04 de outubro...

...Todos falam ao mesmo tempo...

Nilton: em outubro de 19 83, tava o Barão no estúdio, tava o Mauro, quem mais que estava? A gente fez uma cerimônia qualquer e a rádio começou a andar sozinha. E a partir daquele instante a gente passava a transmitir sozinho, nos 94.9 com o nome de Ipanema FM. Aí nossos ouvintes que eram mais militantes do que ouvintes diziam: isso não é nome de rádio!!! Mas depois a gente acabou se acostumando. Foi rápido. Não doeu tanto como a gente imaginava... Aí ficou uma rádio rock'n'roll mesmo.Depois que a gente deu uma aliviada, mas no começo...

Mauro: Aí tava pintando aquela geração de rock Brasileiro.

Nilton: Que é a grande responsabilidade da Ipanema Fm, que a Katia pode falar bem...

...Todos falam ao mesmo tempo...

Katia: E eu cheguei no outro ano...

Nilton: E a Bandeirantes nessa época seguiu o seu caminho, que foi uma rádio adulta que não durou muito. Primeira fase adulta, mas assim: Toquinho e Vinícius, música popular brasileira....

Katia: Tipo Itapema, né?

...Todos falam ao mesmo tempo...

Nilton: Aí me convidaram para coordenar as duas e aí, depois resolveram fazer uma rádio mais contemporânea, mas mais jovem, que foi quando entrou o "Camarão."..

Mauro: Mas Bandeirantes penou muito... anos e anos...

Nilton: Só com o Camarão que ela se acertou.

Mauro: Eles pensaram: não, agora vamos ganhar dinheiro com a Bandeirantes.FM..

... Todos falam ao mesmo tempo...

Mauro: A Ipanema estourou a revelia deles. Aí, a rádio que eles pretendiam fazer dinheiro não dava e a Ipanema dava. A Ipanema chegou a terceiro lugar no IBOPE, com seis meses de existência.

Nilton: Então as gerações, o pessoal que vai conversar com a gente para saber da história, pergunta: Vocês se inspiraram na Continental? Também tem a novela da Fluminense e eu faço questão de dizer que não. Eu pouco ouvia a Continental, e o que a gente fazia, que era uma rádio mais instrumental, "geração riponga..."

Mary: O jornalismo forte, eu acho que era...

Nilton: Era uma rádio mais conversada, né. Mas a geração Continental, foi toda transferida para a rádio Cidade, que começou dois anos, três anos antes. Então, locutor, comercial e tudo o que era grande, velha e boa Continental, foi quem montou a Rádio Cidade. Aí eu acho que sempre há um equívoco. Na verdade a gente correu por fora, e por ser mais alegre, mais descontraído, entre aspas, pois a gente era muito rancoroso...

Mary: Mas o espírito da velha Continental, guerreira, a Ipanema...

Nilton: é mais por ser guerreira, no jornalismo eu até concordo, mas não: vamos fazer o que a Continental fazia. Bom, nesse meio tempo surgem notícias, do tipo: uma amiga minha disse que no rio tem uma rádio... Depois surgiu uma fita da rádio Fluminense, que por coincidência também era 94.9. Mas na verdade a Fluminense surgiu um ano depois da Ipanema. Por um acaso.

... todos falam ao mesmo tempo...

Nilton: Fluminense FM 94.9 a Maldita. Aí que a gente começou a se antenar.
...Todos falam ao mesmo tempo....

Nilton: Aí um amigo meu trouxe uma fita com o show do primeiro aniversário da Fluminense. Tinham algumas bandas: Paralamas, coisas assim. E a Fluminense na verdade, eu concordo que a programação musical se parece com a Ipanema. A locução era bem diferente, que lá era só feminina, e naquele ritmo mais padrão Atlântida e Cidade. Para Cima. Coisa que Ipanema nunca fez, e pelo contrário... Essa linguagem não é parecida com a Fluminense.

Mauro: E uma coisa, quando eu fui para o Rio, que eu soube da Fluminense eu fui lá. E eles nunca tiveram a estrutura que a Ipanema chegou a ter e já tinha. Porque era uma rádio legal, de rock, bacana, mas assim, não tinha o pique da Ipanema, não fazia o que a gente estava fazendo. A Ipanema já tava com um departamento comercial, faturando, fazendo festa de aniversário com ginásio lotado, e tal... E eles ainda não tinham isso. A estrutura da rádio era meio, era desleixada, era rock'n'roll, mas era precária, e agente já estava com um estúdio bacana.

Nilton: Era uma rádio muito querida da mídia impressa, assim... E tinha bons DJs, que faziam a programação, mas como estrutura ela era muito precária. Só tinham os guerreiros mesmo lá dentro. Era uma linguagem bem diferente da nossa.

Mauro: mas para muita gente nós estávamos imitando...

Nilton: Só essas duas grandes dúvidas históricas, que a gente fez um segmento da Continental, e eu não concordo, eu acho que só como a Mary lembrou muito bem, a parte jornalística mesmo, politizada. Então eu acho que quem seguiu o padrão da Continental foi a Cidade, até por que usou 5 ou 6 locutores.

Nilton: Nós na verdade criamos uma linguagem, né. É a história do rock brasileiro, que a Katia pode falar, porque daí ela já tinha chegado...

Todos... Pois tem que chegar...

..risos...

Katia: Aí eu cheguei. Enfim, eu fui fazer o horário da noite, Eu só tinha tido essa experiência em rádio, de 3 meses, na Atlântida, dois meses no verão nessa tal rádio Litoral, e enfim. No primeiro dia me deram uma programação, e já no primeiro dia eu não segui...

...Risos...

Katia: Já no primeiro dia eu comecei o problema.

P: Que ano foi isso?

Katia: Eu não sei... em 1984 eu passei por aquele estágio de 3 meses de trabalho lá, eu acho que é assim maio de... eu me lembro que acabou o verão e eu fui para a Ipanema, por que eu voltei do litoral e fui... Então março, abril e maio, e fui aprovada...

..risos...

Katia: aí no primeiro dia eu não segui, no segundo, terceiro, décimo...

Nilton: Aí ela lia só a Zero Hora, lia toda a Folha.( da Tarde )..

... Risos...

Nilton: Ela lia todo o Paulo Francis depois ela dava a réplica e a tréplica...

Katia: Eu lia bem devagarinho... Eu falava bem devagar e as pessoas achavam que eu estava drogada... Eu ria, eu isso, eu aquilo...

... Risos...

Katia: Não, eu não estava drogada....

... Risos...

Mauro: Mas teve um dia ...

Katia: Aquele dia tava todo mundo...

... risos...

Katia: Foi acontecendo... Logo depois... Foi logo depois que a Mary começou?

Nilton: Não, a Mary era antes...

Katia: Não eu digo no ar....

... todos ao mesmo tempo...

Mary: até quando saiu a Tetê, eu lembro que eu fiquei magoadíssima, pois eu pensei...

Nilton: o problema era administrar esses egos, por que quando saia alguém...

...Todos ao mesmo tempo...

Mary: Eu não me lembro do dia que eu entrei no ar assim...Não lembro o horário que eu fazia latinha...

Mauro: durante muito tempo tu me antecedeu, né? Tu saia às 3 e eu entrava às 3.

Nilton: Quando ela ficou magoada que o Mauro voltou de férias e tu ia sair do microfone foi criado um horário para ti... que acho que era do meio dia até às 3.

Mary: Isso mesmo... e tu (Nilton) ficava das 10 até `a uma da tarde.

Katia: Eu vivia muito fora daquele horário vital da rádio. Eu ficava muito isolada, e ia levando as coisas, só incomodando, o Nilton me cobrando coisas... mas é isso.

Mauro: Mas a história do rock brasileiro...

Katia: Sim, foi exatamente nesse momento, que as coisas começaram a acontecer.

Nilton: Aí houve o primeiro aniversário da rádio, já lançando essas bandas incipientes, nacionalmente falando, né.

... todos ao mesmo tempo...

Nilton: O primeiro grande show que a rádio fez foi no Taj Mahal,com o Barão Vermelho...

Mary: Gent,e a minha memória tinha apagado...

Nilton: Com o Cazuza

Mauro: O único show que o Barão fez em Porto Alegre com o Cazuza...

Katia: Não eu vi um no Gigantinho...

Nilton: É, foi no Gigantinho, no auge...

Katia: Barão no Gigantinho com Cazuza no Gigantinho...

...todos ao mesmo tempo...

Nilton: É que o Barão Vermelho era aquela banda que tava surgindo. O Caetano Veloso recomendando que achava lindo e maravilhoso... E eles fizeram essa apresentação no Taj Mahal.

P: Foi a festa do primeiro ano?...

Nilton: Não, o aniversário de um ano foi a festa do circo?

Mauro: Não, foi no União.

Nilton: Com o Legião?

Mauro: Não...

Nilton: Não, aí, com as bandas daqui.

Mauro: Garotos da Rua...

Mary: Não foi Folharada Blues Band?

Katia: Não folharada....

...todos ao mesmo tempo... risos...

Mary: Eu lembro que fiz baking nesse show do Garotos....

... todos ao mesmo tempo...

Mauro: Mas a única banda de rock que tocou....

Nilton: Aliás, o Mauro pediu as fotos para o livro e não me devolveu...

Mauro: É.

Nilton: Eu tinha certeza que ele não ia devolver!

Mauro: A única banda de rock que tocou no primeiro aniversário foi o Garotos, pois o resto era Nelson Oliveira, Nei Lisboa, Nelson Coelho de Castro...

Nilton: Era solo! Nós sorteamos uma moto! Mais de 2 mil pessoas...
Depois no Circo acho que foi só uma festa, não foi aniversário!

Nilton: Montamos um circo ali na frente do shopping, dia de chuva, com Paralamas.

Mary: Foi um momento histórico, que eu lembro que o Herbert Vianna tinha estourado com óculos, e a gente já tinha aquela história de não tocar só a música de trabalho e tocar tudo, e o Herbert foi ensinar a letra de uma música e o povo já sabia e cantava o disco inteiro.

Katia: Eu não me lembro disso...

Nilton: Tava uma loucura! O circo foi armado para fazer o show!

Katia: Isso foi aniversário?

Nilton: Não, foi uma festa.Aí depois, lá no outro clube.

Mauro: No segundo aniversário foi no Petrópole TC. Aí com Legião...

... Todos ao mesmo tempo....

Katia: Aí eu começo a me lembrar e acho até que eu estava grávida.

Mary: Não é nesse show que no mesmo dia tinha um show do RPM, e o Paulo Ricardo saiu do Gigantinho e foi para lá...

Nilton: E deram uma canjinha...

Katia: E aquele show que o Paralamas lotou 2 vezes o Gigantinho?

Mauro: Foi depois

Katia: Eu lembro também do Camisa de Vênus que a RBS foi ...

... todos ao mesmo tempo....

Nilton: Teve que fazer extra e lotou o extra também!

Nilton: Foi 2 shows no mesmo dia....

Mary: e o Camisa de Vênus

... todos ao mesmo tempo...

Mauro: Foi ali que a gente teve noção do tamanho...

... todos ao mesmo tempo....

Mauro: Isso foi em 1985.

Mary: O máximo que a gente lembra é o ano.

Mauro: Eu acho muito legal, por que quando o Paralamas tocou a primeira vez em Porto Alegre, no Circo, foi promoção da Ipanema, por que era só Ipanema que tocava...

Mary: e o pessoal sabia cantar por que a Ipanema tocava.

Mauro: Aí o Paralamas lança o segundo disco, e foi uma febre nacional, eles vem no Gigantinho, já com a promoção da RBS, Atlântida que na época pagou a peso de ouro para fazer a promoção e o Herbert Vianna não entendia porque a promoção era da Atlântida, se antes eles tinham vido com a promoção da Ipanema e tinham feito o show no Circo. E aí no meio do show do Gigantinho, que eles fizeram 2 apresentações e ele parou e dedicou Patrulha Noturna pra Galera da Ipanema que foi a Rádio que tinha tocado pela primeira vez...

Katia: Não, mas o show do gigantinho foi promoção da Ipanema.

Nilton: Não, do Paralamas não.

Katia: o que lotou 2 vezes?

Todos: não...

Katia: claro...

... todos falam ao mesmo tempo...

Katia: puta, mas não é não...Tem algum erro histórico aí.... Eu lembro perfeitamente, a gente falou durante anos isso. A única vez que o Gigantinho lotou 2 vezes foi promoção nossa... Não é possível que eu estava delirando...

...risos...

Mauro: Não, ali já era RBS, e agente ficou muito chateado...

Katia: Não, mas não pode ser...

Nilton: Sim Katia, as vezes a gente fazia mais promoção e mais divulgação, que era uma espécie de anti-guerrilha, assim.... a gente ia lá fazia cobertura, entrevistava.... Os artistas davam entrevista na Ipanema e acabavam nem indo na Atlântida... A guerra era assim...

Mauro: O primeiro show do Gigantinho que a gente fez promoção foi o Camisa de Vênus.

... todos aos mesmo tempo...

Flávia: Que ano foi esse Paralamas?

Katia: Eu não lembro...

Nilton: O único lugar que a gente poderia pesquisar é no arquivo da Zero Hora...

Katia: O próprio Gigantinho deve ter lá...

Nilton: duvido....

...risos...

Mary: Organizado do jeito que é aquilo tudo...

... todos ao mesmo tempo...

Katia: O interessante é que isso continua acontecendo: Raimundos foi assim, Jota Quest foi assim, Nativus...

Nilton: A gente acha que vai lembrar, mas estamos falando de 15 anos atrás...
Mas, a rádio fez grandes eventos, Tetê Espíndola, os espetáculos locais...

Katia: Aquela coisa de transmitir shows...O primeiro foi Engenheiros no Araújo.

Mary: Stray Cats...

Nilton: Os Engenheiros que levavam fitinha para a gente lá na rádio, né?

Katia: Todos eles levavam, eu me lembro o Charles Master, de calça curta.

Todos: literalmente...

Nilton: Aí na história da Ipanema começam os elementos, que foi a geração Jimi... Ou querem falar mais do rock nacional?

Mary: Não sei se a RBS fez Paralamas, mas era uma coisa assim: A Ipanema tocava a banda, as vezes conseguia trazer a banda para POA, e quando a banda estourava, no outro ano, a banda vinha com o esquema de grande mídia. Mas a gente sempre tinha isso de descobrir antes, de tocar antes...

Mauro: Mas não tinha como ser diferente...

Nilton: Sim, a gente não tinha jornal, Tv, era difícil...

Katia: E isso é até hoje...

P: Bom, o Nilton falou dos personagens...

Nilton: Julio Reny...

Mary: Aí já é 1990?

... todos ao mesmo tempo...

Katia: Tinha o Nilo, que entrou e saiu...

Nilton: Entrou o Kg...

Katia: não o Kg veio depois...

Nilton: Não, com a saída do Nilo veio o Kg.

...todos ao mesmo tempo...

Mary: mas eu substituí o Nilo...

Mauro: não o Nilo ... O Kg conviveu muitos anos com a gente como colaborador, levava disco, fazia férias.

Nilton: Mas ele entrou no lugar do Nilo, tinha a Narinha também que fez o Clube do Ouvinte e foi convidada a fazer férias, e acabou ficando...

Katia: E o Cláudio Cunha?

Nilton: Não é da minha época...

Katia: Mas olha só, a primeira vez que ele foi lá na rádio ele foi fazer um Clube do Ouvinte, e a gente não tinha CD ainda. O aparelho era vinil, e o pai dele era diplomata e ele levou um aparelho de CD. Então o primeiro CDque tocou foi ele que levou... Ele levou o aparelho...

Mauro: Aí tinha o Maldita Hora, que era o Jimi, o Marcel, o Billi e mais um outro...
Tocava The Cure...


Nilton: Foi ele que levou o The Cure para nós...

...todos ao mesmo tempo...

Mauro: Um dia eu fui na casa do Marcelo Ferla, e ele me mostrou New Order, que eu não conhecia, e ai eu trouxe em uma fita e comecei a tocar...

Nilton: Aí o Marcelo Ferla começou também a se " aprochegar..". fazendo férias e tal... e foi ficando e acabou ficando um período. Depois ele entrou na gravadora Warner, né?... Depois que ele foi para a RBS, para o jornal.

Quem mais que passou: Narinha, a grande Narinha, o Porã, que era estagiário... O Alexandre Brasil...

Nilton: Nunca mais vi o Alexandre....

Katia: Ele tá ali com guris do Acústicos no Bafo de Bira.

Nilton: O Alexandre fez locução, férias e acabou entrando...

Mauro: Mas o Alexandre já foi pós minha saída.

Mary: Tu saiu quando?

Mauro: Eu saí em 19 92.

Nilton: É o Mauro foi convidado para a FELUSP.

Mauro: Aí enfrentei um problema enorme de novo: o nome!!!

... Todos falam ao mesmo tempo...

Mauro: Não, é que a palavra FELUSP é legal, mas ela não tem um significado. As pessoas perguntavam o que era e eu não sabia....

Katia: parece nome de refrigerante...

Mauro: E os fax que chegavam eram assim: Feluspa, tinha gente que escrevia com I com E, uma coisa errada...

Nilton: Mas sempre se escreve errado, os nossos nomes sempre são escritos errado...

Katia: Katia Xuman... aí eu acho o máximo

Mary: Eu tenho uma coleção do jeito que se escreve mezario, com Y com I...

Nilton: com o nome da rádio...

Mary: tem muito ouvinte que liga e diz: Panema!!!

... todos ao mesmo tempo...

Nilton: seguimos nós sem Mauro Borba...

Katia: Quem é que entrou no horário da tarde quando ele saiu?

Nilton: Entrou o Kg.

... todos ao mesmo tempo..

tinha Julio Reny, tinha Porã, tinha Nara....

Nilton: Os horários eram uma salada.... A gente ia testando...Só a Katia era fixa na noite...

Mary: O Porã abria, parceria como Genésio.

Mauro: Eu, Genésio e Você...


... Risos...

Katia: O Eduardo tava lembrando que ele era operador do ( Isaías )Porto e o Porto fazia deitado, as vezes que ele chegava meio virado...

...risos, todos falam ao mesmo tempo...

Mary: Aí entrava eu, aí vinha o Mauro, o Kg...

... todos falam ao mesmo tempo....

Katia: Eu ficava até a meia-noite, depois era o Nilo. Aí o Nilo saiu e a Mary foi para a madrugada.

Mauro: E eu não podia ouvir a Ipanema nessa época, dava uma dor...

...risos...

Mauro: Não chorava, mas era uma coisa estranha...Era uma coisa que estava junta a 9 anos.

P: O que te deu? Foi a grana?

Mauro: Um pouco foi a grana, pois s Bandeirantes sempre foi complicada, com dinheiro, e para mim a proposta foi interessante. Também era um desafio, uma coisa nova. Eu tava precisando fazer. Mas me arrependi quando eu sai. Porque eu vi que a coisa ia ser muito difícil. Eu enfrentei problemas terríveis, assim... A rádio lá era muito desestruturada. Tinha muito problema interno de não ser de uma empresa se comunicação, de ser de uma universidade que não entendia certas coisas que um veículo tem que ter, em fim uma série de coisas que foram complicadas. Levei uns dois anos, até me entender. E ainda tive que concorrer com aquilo que eu tinha ajudado a criar, que era o qual mais me deixava perplexo. Eu tinha que fazer uma coisa para concorrer com a rádio que eu adorava. Eu ficava num beco sem saída. Eu ao mesmo tempo que eu queria vencer a Ipanema, eu não queria vencer.

Nilton: na verdade a gente tinha essa liberdade de criação em excesso, acabou nos dando problemas depois... eu também com a minha saída... pro Mauro...Eu saí em 1996.

Mary: Nesse meio tempo que o Mauro saiu, eu também saí... Em 1994 eu recebi uma proposta do Marcelo Rech e do Augusto Nunes, de trabalhar na ZH, foi ótimo uma experiência maravilhosa, o Augusto é uma pessoa boa de se trabalhar, ele é do ramo, é jornalista, mas aí um ano de copa do mundo... Um ano de ZH, dois anos de ZH...

Nilton: Sem latinha...

Mary: Sem latinha... aí comecei a me desesperar e preciso voltar...
Foi aí que o Nilton saiu, a Katia assumiu e eu comecei a encher o saco da Katia... Eu voltei para a Ipanema em 1997.

Katia: Quando o Nilton saiu o Kamarão assumiu por algumas horas....

Risos...

Mauro: aquilo foi um terremoto....

Risos...

Katia: Bateu o terror, a galera come, ou a se atucanar, o Jimi chutou o pau da barraca no ar, o Vitor Hugo foi embora, o Porã também... O Porã e o Jimi chutaram o pau. O Kamarão mandou embora o Vitor e o meu primeiro ato foi readmitir o Vitor.

Mauro: Nessas alturas eu só ouvia falar, né...

Katia: E no mercado o caos era um pouco maior. Todos diziam: Vai acabar, vai fechar... Era terror de todos os lados...

Mauro: Eu estava de férias na Europa, e liguei para a rádio e pessoal: Olha, a Ipanema acabou!!

...risos...

Mauro: E eu lá pensando... como assim, mas meu deus, agora muda um série de coisas... toda uma estratégia, e eu já imaginando...

Mary: vou buscar o fulano....

Mauro: Não o que teria acontecido, e o que poderia vir daí...

Nilton: É bom falar nessas mudanças até a minha saída, né... A minha demissão. Me demitiram, né! Foi uma revolução, pois a Rede Bandeirantes contratou um novo superintendente local que foi o seu Ubirajara Valdez. Que eu não tenho muitos motivos para elogiar. Não porque ele tenha me demitido, mas demitiu também outras pessoas interessantes para a rádio. Hoje reconheço que foi um momento bom para a minha profissão. Mas, houve uma grande virada na cara da Ipanema, né? E a Katia pode falar melhor, que... a moça que tinha que ser mandada embora, que me pressionavam para demitir acabou assumindo o meu lugar... São aquelas coisas interessantes... Se a Katia não servia para a rádio, dois dias depois ela tava assumindo o posto... São essas coisas e essas pessoas que acabam assumindo mandos que a gente vai deixando passar historicamente e eu não tenho nada pessoalmente contra o Bira, mas a administração dele. Como é que isso se passa...

Katia: Eu assumi no horror! No susto total, e meio para cobrir um furo. A intenção inicial era o Camarão fazer as duas. Ele não topou, por razões basicamente de grana, em fim... Num primeiro momento ele sentou e começou a ver a coisa do departamento comercial, da resenha comercial, coisas que eu jamais tinha pensado em rádio. Nesses termos. Como eu sempre vivi muito isolada lá na madrugada, aquilo ali para mim era o universo de ação. Era o meu horário e eu não tinha uma visão maior. Não sabia como funcionavam muito bem os esquemas comerciais, empresariais e hierarquia e as cobranças... Foi complicado mas tive que aprender...Meu primeiro instinto básico foi manter uma equipe que tinha uma sintonia... que era a mesma equipe... Eu não deixei o Vitor saí, busquei a Mary e agente tentou se fortalecer como grupo em uma estrutura que não era favorável.

P: Quando tu assumiu?

Katia: sei lá...


Risos....

Katia: Foi 1996...

P: e o Camarão...?

Katia: acho que ele ficou um mês... mas na verdade ele sabia que ele não sabia fazer aquela rádio que a gente sabia... e ele ficava o tempo todo nos consultando. Não chegou a botar o dedo e modificar o que estava sendo feito.

P: Com relação ao jornalismo forte que a Ipanema sempre teve?

Nilton: Era o que a Katia falou: sintonia de equipe. Para mim, um dos melhores textos é o da Mary, e ela sempre deu uma postura, uma cara... Dizer aquilo não como uma leitura...

P: Não existia censura.?..

Nilton: Não, bem pelo contrário, existia liberdade em excesso... Sempre houve um ranço que não era legal... é a tendência, quando se tem liberdade de mais... Hoje falta uma nova chama no rádio jovem. Acho que a gente fica em cima do bom e do mesmo que deu certo... Mas essa liberdade de jornalismo a gente tinha. De falar e dizer o que achava que era legal, para quem estava nos ouvindo. A gente sempre brinca que os nossos ouvintes eram militantes e parceiros... participavam e davam muitas dicas... tanto é que muita gente acabou trabalhando na rádio com a gente.

Mauro: A Ipanema tinha muita notícia, mesmo não tendo redação, assim... Notícias da Gang (Nota :rede de moda jovem ) marcou época... Eram 4 edições diárias, era um noticiário mesmo, com uma notícia" linkada" com a outra, tinha um fundo musical e uma linguagem crítica e irônica, bem legal... E sempre tinha muito toque...

Nilton: A Continental era muito satírica e engraçadinha e a gente era simplesmente irônico com uma tendência ao ranço. E até mais mal humorado, e a Continental não, era humorada, mais aberta e nós carrancudos....

Mauro: Até nessa história de ler a folha de São Paulo, que é uma coisa ,em certo aspecto, errada, ficar lendo um jornal em uma rádio...

Nilton: Uma coisa nova, até porque não tinha esse acesso que se tem hoje.

Mauro: Então a gente levantava coisas interessantes...

Mary: para quem não tinha o jornal...

Mauro: e a gente via que funcionava, por que as pessoas não estavam todas lendo a Folha. ( de São Paulo )..

Katia: Mas eu acho que esse viés critico que a rádio estabeleceu, essa coloquialidade que era inédit,a ela não perde o valor.... Era uma referência nova que se criou...

... Todos ao mesmo tempo...

Nilton: A gente sempre viveu nessa corda bamba, do tipo: até quando vão ser malucos, e tal?

Mary: Teve uma época que a gente radicalizou e assumiu a Rádio dos Loucos, para depois chegar a um ponto que eu acho legal. A gente não tem que ficar dizendo para o cara que isso é bom ou ruim, a gente procura sim, criar no cara que está nos ouvindo a consciência crítica. Tudo que ele ouvir ele vai duvidar, vai pensar e vai querer saber mais, para ter a sua opinião. Outra coisa que eu acho legal que a Ipanema alimentou e sempre alimenta é a interatividade com o ouvinte. Ele participar da rádio.

... todos ao mesmo tempo...

Nilton: ou se não um amigo que veio da Indonésia e trouxe um CD que não sabe o que, aí o seu Nilton, seu Mauro e sua Katia tocam tudo pois acham aquilo o The best.... a gente não conseguia avaliar. Aquilo poderia ser interessante lá na Indonésia, mas aqui...

Katia: Mas a gente é responsável pela formação musical de uma geração...

Nilton: mas, com certeza... e ninguém vai nos tirar...

Katia: ninguém....

Nilton: Eu acho que Porto Alegre hoje, é mais politizada culturalmente, essa coisa mais atenada para a música graças a Ipanema...

Katia: com certeza...

.. todos ao mesmo tempo....

Katia: Vocês não sabem o peso que é para manter isso...

Nilton: Claro.

Katia: A pressão da indústria é muito maior, pois é muito mais profissional, e tu não pode sair fora do esquema...

Mauro: tem outra coisa que eu acho interessante observar hoje, que na época a Ipanema tinha. Uma função que ela tinha de divulgar as bandas, os músicos gaúchos da MPG, tinha que dar notícias...

Nilton: ...tudo...

Mauro: no início, a gente era a única rádio rock. Hoje ( segundo semestre de 1999, na data da entrevista ) a Atlântida tá tocando rock, tá tocando coisas que nunca tocou. Quer dizer, as coisas foram pulverizadas também....

Katia: a Atlântida não, mas hoje, a 107 sim pode dividir.... a Atlântida em termos de informação não pode... ela não tem uma cara...O que dava certo antes era Atlântida, era aquele padrão da Rádio empacotada, durinha.... eu ouvi o cara falando e não acreditei, ele se orgulhando de tocar 60 músicas... feliz da vida.... é 60.. isso é de uma pobreza... mas dá certo....


Nilton: A mudança da 107 fez mexer com tudo isso aí... aquele padrão da Atlântida... e acho que isso preocupa até a Ipanema...

Katia: Já preocupou... não preocupa mais....

...todos ao mesmo tempo...

Nilton: eu acho que o berço rock'n'roll não é da Atlântida, não é da 107 e sim da Ipanema, pois todas as tendências precisam de berço.A Atlântida deu tiro para tudo que é lado... é uma rádio que vive da moda... é uma outra praia....

Mary: uma coisa bárbara na história da Ipanema, é que ela nunca foi atrás do modismo. A Ipanema correu na frente, então, a gente sempre mostrou antes para todo mundo, não tendo medo do novo nunca, metendo a cara e vamos ver no que dá... o que era bom rodava, o que não era teve os seus 15 segundos e fama e era isso...

...todos ao mesmo tempo....

Nilton: toda essa geração, das bandas, do Nei Lisboa, Bebeto... essa geração toda começou na Ipanema...