Não votei nas últimas eleições . Tenho plena consciência de
que isto terá pouca relevância no que diz respeito ao resultado da
disputa, e esta é uma das razões para não votar. Mas tenho outras
razões. A principal delas é que não acredito em governo pela maioria,
nem pela minoria. Não acredito em governo de forma alguma.O sistema de governo eleitoral é um triste desastre, ainda que se suponha, por um momento, que ele seja correto em teoria.
Assim, alguns daqueles que buscam as eleições fazem isso pelos
lucros diretos que esperam receber ou, indiretamente, para promover seus
próprios interesses e satisfazer suas vaidades. Esses homens não
sacrificarão seus próprios objetivos pelo bem-estar público.No entanto, muitos candidatos são, em princípio, bastante
honestos em seus motivos e intenções. Mas uma pessoa que entra na
política logo descobre que fraude, astúcia, hipocrisia e trapaça são
livremente utilizadas por seus oponentes, e, para enfrentá-los com
sucesso, ela se vê obrigada a adotar suas táticas.
Ela pensa estar justificada pela conveniência ao fazer isso e,
talvez honestamente, acredita que pode usar essas armas para conquistar
vitórias para uma causa honesta. Mas ela está errada. Fraude e falsidade
nunca podem servir a um objetivo justo. Quem usa a trapaça, mesmo para
vencer a injustiça, já é um trapaceiro e não é moralmente melhor que
alguém que a usa para motivos reconhecidamente desonestos.
Mas, para a infelicidade do candidato honesto, zeloso pelo bem
público, que se recusa a se sujar com trapaças e fraudes - todas as
forças políticas estão contra ele. Recusando-se a agradar a todos e
recusando-se a ceder à ignorância e ao preconceito popular, ele não
consegue assegurar a simpatia da massa, e o demagogo inescrupuloso, que
faz promessas vãs, vence.A pessoa realmente honesta que cai na armadilha da política sempre acaba como um candidato fracassado.
A corrupção e desonestidade política é tão notoriamente visível
que mesmo aqueles que acreditam em governo, que defendem a ação
política, sabem perfeitamente de sua existência. Ainda assim, continuam
votando, com a fraca esperança de que, de alguma forma misteriosa, as
condições mudem e de que, em algum tempo, homens puros em número
suficiente sejam eleitos para garantir uma administração honesta das
questões públicas.
Suas esperanças nunca serão concretizadas. Novos homens entram e
novos partidos assumem o controle, mas os mesmos resultados são obtidos.
O verdadeiro problema é com o sistema, não com quem o administra. A
própria natureza e princípio do governo, da autoridade humana, é
desmoralizante, corruptora e errada.Enquanto a natureza humana for como é, não podemos esperar que
homens em posição de poder ignorem seus interesses pessoais, nem que
preservem o melhor de si mesmos das execráveis influências do poder.
Quem vota, ainda que vote para o candidato derrotado, expressa
sua concordância com todo esse esquema, com o processo eleitoral, com a
autoridade e com a coerção.
Não quero ser governado. Não reconheço e não admitirei o direito de
nenhum homem, ou conjunto de homens, de me governar; não quero governar
os outros. Não conheço nenhum princípio moral ou social dizendo que
tenho de fazer isso, e, consequentemente, me recuso a impor minhas
opiniões sobre os outros pela ação das urnas e acionar, desta forma,
toda a parafernália de força e violência - policiais, juízes, carrascos,
soldados, coletores de imposts, etc. - usada para coagir outros a agir
como acho que deveriam.
E vocês exaltam e perdem tempo e brigam uns com os outros e agem
muitas vezes como lunáticos, porque seus senhores generosamente
permitiram que vocês fizessem uma cruz em um pedaço de papel; e se vocês
tiverem sido bonzinhos e tiverem votado como eles querem que você faça,
eles te jogam uma migalha do pão que você trabalhou para fazer e que
eles te roubaram, e você lhes agradece satisfeito.
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