Para cada mulher em nossa mulher,
para cada identidade que não é a namorada ou a esposa, podemos gerar um amante
específico. Podemos envolvê-la sem que ela abandone uma identidade para virar
“o nosso amorzinho“.
Podemos ir até seu trabalho e
seduzir a identidade que brota dentro do escritório. Conquistar a menininha que
surge quando a família está ao redor. A mulher poderosa quando desce do palco
depois de um show ou de uma palestra. A garota putinha que sai pra dançar
quando está irritada com você. A velha desanimada e reclamona quando encontra a
casa suja. A serelepe de cabelo preso do grupo de amigas da faculdade. A
doutoranda aplicada lendo Foucault no sofá. A mãe, a massagista, a designer, a
blogueira, a garota da academia, faxineira, a meditante, a turista… Podemos
comer todas elas.
Olhamos para nossa mulher e vemos
várias. E vemos também que muitas nos são invisíveis. Então abrimos mais os
olhos. Quando chega uma delas, a funcionária cansada, lembramos que ela não é
aquilo e logo miramos outra com nossos olhos, falamos com a outra como se ela
estivesse atrás ou dentro da mulher que
está à sua frente. Abrimos espaço para que outras surjam. E do nada sai a
salseira, a dançarina, a party girl. E ela não está cansada, afinal não saiu de
casa o dia todo!
Em vez de respeitar o cansaço, você
diz sem dizer: “Foda-se o que você viveu hoje, eu quero te fazer esquecer, eu
quero você comigo hoje”. Às vezes o cansaço dela se desfaz no primeiro segundo
do beijo. Basta explicitar nosso desejo, ativar outras mulheres, trair nossa
mulher cansada com a mulher pronta pra sair, fazer com ela tudo o que
fantasiamos diariamente e facilmente faríamos com outras.
Ao usar sua mulher, ao olhá-la
como sua amante, algo incrível acontece: você passa a ser o amante também. Ela
ganha espaço para fazer aquilo que não vislumbrava ser possível com você,
aquilo que nem mesmo ela conseguia imaginar sozinha. Ela vai usá-lo, vai trair
sua identidade careta com o bad boy, vai pedir coisas que você mesmo nunca
imaginaria ser viável, que nunca teria coragem de propor. Pode acreditar: as
mulheres são muito mais loucas do que pensamos.
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