terça-feira, 19 de março de 2013

Provos - Parte II



A partir do crescente sucesso da ação do movimento – particularmente depois do casamento real da princesa Beatriz e do ex-nazista Claus von Amsberg, em 10 de março de 1966, onde os Provos, com suas bombas de fumaça branca, tomaram a dianteira dos protestos –  o movimento deixou de ser “underground” e tiveram suas idéias assimiladas por grande parte da população holandesa. Dentro do movimento, articulou-se a criação de um partido político, cujos líderes seriam alguns dos dirigentes da organização, que acabam candidatos para a Câmara de Vereadores de Amsterdam, numa campanha que é puro Provos, com sutiãs & janelas pintados com o número 12 da chapa, decorações natalinas disfarçadas de propaganda, esculturas florescentes e bonecos coloridos divulgando o “12″. Mesmo com tamanho jogo anti-político, e atrapalhados pelo fato de que só maioires de 23 anos votavam na Holanda da época, os Provos conquistam 2,5% dos votos e conquistam uma cadeira.

Bernad De Vries é o escolhido. Seu comportamento na câmara é exemplar: veste-se sempre de branco, ocasionalmente pintando o rosto e as mãos da mesma cor, anda sempre descalço e inicia suas falas com um sonoro arroto. É  prova de que os Provos não estavam interessados e/ou não sabiam o que fazer com o poder. A partir das eleições e da desistência da vida política por De Vries (que vai tentar ser galã de cinema, onde teve poucas chances), ocorreram divisões no movimento e os líderes acabaram optando pelo seu fim. Sob a alegação de que os Provos eram “um grande choque” enquanto eram considerados anti-sociais, porém, assim que o sistema começou a acolhê-los, seu real significado dissipara-se, o grupo optou pela dissolução.

Mas, como bons provocadores que eram, sua despedida não passaria em “branco”. Foi espalhado um Boato Branco, dizendo que as universidades americanas tinham interesse em adquirir os “arquivos provo“, documentos que na verdade não existiam. A Universidade de Amsterdam, temendo que o “tesouro sociológico” (basicamente uma caixa de papelão com todos os números de Provo) pudesse desaparecer além mar, rapidamente fez uma oferta que os provos não poderiam recusar. E assim, tão rápido quando surgiu, dissipou-se o movimento Provo.

A Revolta Provo – que durou efêmeros 2 anos, de 1965 a 1967 – foi o primeiro movimento em que os jovens, como grupo social independente, tentaram influenciar a política, fazendo-o de modo absolutamente original, sem propor ideologias, mas um novo e generoso estilo de vida anti-autoritário e ecológico. Caminhando contra a corrente do “cair fora” beat, pensavam em descaradamente permanecer “dentro” da sociedade, para provocar nela um curto-circuito”. À diferença do maio de 1968 na França, que queria levar a imaginação ao poder, o Provo utilizou a imaginação contra o poder ; semearam, por meio de imagens, as sementes de um novo modo de vida, um dos meios mais poderosos de influenciar pessoas.

Alguns projetos dos Provos vingaram e ainda hoje fazem parte da rotina de Amsterdam, como as bicicletas brancas e a liberalização da maconha. Além disso, os Provos tem muita cupla da cidade ser conhecida como “A cidade das bicicletas” e ter, em 2006, quase 500 mil bicicletas para uma população de pouco mais de 750 mil habitantes. O que parece permanecer, sobretudo, é semente de um outro modo de vida na sociedade holandesa, manifestada em falas como a desse artigo do conservador Telegraph, reproduzido no livro de Guarnaccia: “A sociedade holandesa nunca se recuperou das loucuras hippies, do flower power e das viagens para fora da realidade provocadas pela droga. Enquanto todas as sociedades ocidentais foram trazidas de volta à Terra, a sociedade holandesa ficou nas nuvens”.

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