Provos, foi um “movimento” que surgiu na Holanda da
década de 1960 e é, em muitos aspectos, precursor e inspirador do famoso Maio
de 68 na França e da cultura hippie que se alastrou no final da década de 1960
e início de 1970.Os Provos foram um dos elementos decisivos daquela estranha
operação de alquimia que, por volta da metade dos anos 60, produziu uma
deflagração de consciências“.
O nome “Provos” vem da abreviação de provokatie
(provocação em holandês). O “movimento” Provos, se é que podemos chamá-lo de
“movimento”, nasce da apatia em que um mundo imerso na sociedade de consumo
pode provocar em seus habitantes. O excesso de conforto, de segurança e o amplo
acesso aos bens de consumo na Holanda da década de 1960 deixava tudo muito
chato, careta, sem graça, conformado. Na busca eterna do graal anti-marasmo,
alguns jovens holandeses, herdeiros bastardos da tradição anarquista, passaram a
fazer o que lhes parecia mais interessante no momento: provocar. Provocar a
sociedade de consumo, o poder civil organizado, a apatia das pessoas perante
aos meios de massa. Provocar.
A partir dessa insatisfação contra um suposto
“nada”, manifestações espontâneas e isoladas de performáticos contestadores da
indústria e da propaganda começaram a “pipocar” aqui e ali na venturosa
Amsterdam, que por ser um lugar mais do que especial merece um tópico a parte.
Não é novidade que Amsterdam sempre foi visto como
uma cidade de vanguarda, representante da exceção, durante séculos acolhida de
ideias e pessoas não convencionais – de judeus foragidos da Península Ibérica
(entre os quais, a comunidade de origem do filósofo Spinoza) aos huguenotes
franceses, brigados com a maioria católica na França dos séculos XVI e XVII – e
morada estilos de vida francamente liberais e anti-militaristas. Encontrar um
acordo sobre um modo de convivência para melhorar o próprio estilo de vida foi,
desde sempre, uma necessidade dos moradores daquele aglomerado que foi se
desenvolvendo ao redor de um dique no Rio Amstel, sempre sujeito à inundações e
sem qualquer barreira natural de defesa. A população teve que,
literalmente,”sair do pântano”, o que demandou uma relativa criatividade de sua
população para a busca de um bem-estar social.
Essa, digamos, criatividade natural do povo de
Amsterdam, somado à atitude de abertura à ideias e pessoas extravagantes,
tornou a cidade (a única capital do governo a não ser sede do governo, que se
localiza em Haia) particularmente turbulenta, resistente ao poder de quem fosse
e cenário propício para o surgimento de formas criativas e radicais de
protesto/provocação, como os happenings.
Desde o início da década de 1960, diferentes
movimentos contrários a ordem social conviviam em Amsterdam: os Nozems,
conhecidos como vândalos dos bairros populares ao redor do porto da cidade, um
dos maiores do mundo; jovens anarquistas, ansiosos em se rebelar contra algo;
os Pleiners, uma cambada que se vestia de preto e que buscava no jazz, na
filosofia e na arte novas formas de ver o mundo, possuindo um gosto particular
pela cultura francesa; além de “toda aquela fauna formada por artistas,
exibicionistas, beatniks, estudantes que largaram a escola, marginalizados
felizes, degustadores de LSD, sonhadores, vagabundos e poetas, que desde sempre
constituem o ingrediente básico de toda revolução“.
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