– Eu sinto fortemente que não é suficiente simplesmente viver no mundo
como ele é e fazer o que os adultos disseram que você deve fazer, ou o
que a sociedade diz que você deve fazer. Eu acredito que você deve
sempre estar se questionando. Eu levo muito a sério essa atitude
científica de que tudo o que você aprende é provisório, tudo é aberto ao
questionamento e à refutação. O mesmo se aplica à sociedade. Eu cresci e
através de um lento processo percebi que o discurso de que nada pode
ser mudado e que as coisas são naturalmente como são é falso. Elas não
são naturais. As coisas podem ser mudadas. E mais importante: há coisas
que são erradas e devem ser mudadas. Depois que percebi isso, não havia
como voltar atrás. Eu não poderia me enganar e dizer: “Ok, agora vou
trabalhar para uma empresa”. Depois que percebi que havia problemas
fundamentais que eu poderia enfrentar, eu não podia mais esquecer disso.
A declaração acima não foi feita por nenhum grande estadista , nenhuma famosa celebridade , nenhum rebelde em dedo em riste para a camera.Essas palavras foram proferidas por Aaron Swartzque , que foi encontrado enforcado em seu apartamento de Nova York na sexta-feira, 11 de janeiro. Provável suicídio.
Talvez a maioria não o conheça, mas Aaron está presente na nossa vida
cotidiana há bastante tempo. Desde os 14 anos, ele trabalha criando
ferramentas, programas e organizações na internet. E, de algum modo, em
algum momento, quem usa a rede foi beneficiado por algo que ele fez.
Isso significa que, aos 26 anos, Aaron já tinha trabalhado praticamente
metade da sua vida. E, nesta metade ele participou da criação do RSS
(que nos permite receber atualizações do conteúdo de sites e blogs de
que gostamos), do Reddit (plataforma aberta em que se pode votar em
histórias e discussões importantes), e do Creative Commons (licença que
libera conteúdos sem a cobrança de alguns direitos por parte dos
autores). Mas não só. A grande luta de Aaron, como fica explícito no
depoimento que abre esta coluna, era uma luta política: ele queria mudar
o mundo e acreditava que era possível.
E queria mudar o mundo como alguém da sua geração vislumbra mudar o
mundo: dando acesso livre ao conhecimento acumulado da humanidade pela
internet. E também usando a rede para fiscalizar o poder e conquistar
avanços nas políticas públicas. Movido por esse desejo, Aaron ajudou a
criar o Watchdog, website que permite a criação de petições públicas; a
Open Library, espécie de biblioteca universal, com o objetivo de ter uma
página na web para cada livro já publicado no mundo; e o Demand
Progress, plataforma para obter conquistas em políticas públicas para
pessoas comuns, através de campanhas online, contato com congressistas e
advocacia em causas coletivas. Em 2008, lançou um manifesto no qual
dizia: “A informação é poder. Mas tal como acontece com todo o poder, há
aqueles que querem guardá-lo para si”.
Indignado com a passividade dos acadêmicos diante do controle da
informação por grandes corporações, ele conclamava a todos para lutar
juntos contra o que chamava de “privatização do conhecimento”. Baixou
milhões de arquivos do judiciário americano, cujo acesso era cobrado,
apesar de os documentos serem públicos. Chegou a ser investigado pelo
FBI, mas sem consequências jurídicas. Em 2011, porém, Aaron foi
alcançado.
Em alguns dias, ele baixou 4,8 milhões de artigos acadêmicos de um
banco de dados chamado JSTOR, cujo acesso é pago pelas universidades e
instituições. Aaron usou a rede do conceituado MIT (Massachusets
Institute of Technology) para acessar o banco de dados, fazendo download
de muitos documentos ao mesmo tempo, o que era – é importante ressaltar
– permitido pelo sistema. Não se sabe o que ele faria com os
documentos, possivelmente dar-lhes livre acesso. Mas, se era esta a
intenção, Aaron não chegou a concretizá-la. Ao ser flagrado, ele
assegurou que não pretendia lucrar com o ato e devolveu os arquivos
copiados para o JSTOR, que extinguiu a ação judicial no plano civil.
Havia, porém, um processo penal: Aaron foi enquadrado nos crimes de
fraude eletrônica e obtenção ilegal de informações, entre outros
delitos. “Roubo é roubo, não interessa se você usa um computador ou um
pé-de-cabra, e se você rouba documentos, dados ou dólares”, afirmou a
procuradora dos Estados Unidos em Massachusetts, Carmen Ortiz (United
StatesAttorney). Aaron seria julgado em abril. E, se fosse acatado o
pedido da acusação, esta seria a sua punição: 35 anos de prisão e uma
multa de 1 milhão de dólares.
Esse Blog sempre destinado a assuntos mundanos ( Sexo , drogas , rock and roll , perversões das mais diversas e arroubos literários etilicos...) , presta uma homenagem a um cara que mudou o rumo da humanidade ou pelo menos tentou , um punk desse novo século...Obrigado cara
Não há justiça em seguir leis
injustas. É hora de vir para a luz e, na grande tradição da
desobediência civil, declarar nossa oposição a este roubo privado da
cultura pública.Precisamos levar informação, onde quer que ela esteja armazenada,
fazer nossas cópias e compartilhá-la com o mundo. Precisamos levar
material que está protegido por direitos autorais e adicioná-lo ao
arquivo. Precisamos comprar bancos de dados secretos e colocá-los na
Web. Precisamos baixar revistas científicas e subi-las para redes de
compartilhamento de arquivos. Precisamos lutar pela Guerilla Open
Access.
Se somarmos muitos de nós, não vamos apenas enviar uma forte
mensagem de oposição à privatização do conhecimento – vamos transformar
essa privatização em algo do passado. Você vai se juntar a nós?
Manifesto da Guerrila Open Acess
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