domingo, 22 de setembro de 2013

Bruce Springsteen - Discografia Completa Comentada



Depois do Show de ontem , fiquei na obrigação

Greetings from Asbury Park, NJ – 1973

A estreia oficial de Bruce Springsteen, apesar de elogiada pela crítica, passou batida pelo público. Enquanto “Greetings from Asbury Park, NJ” vendeu 25 mil cópias em 1973, “Houses of The Holy”, do Led Zeppelin, teve 11 milhões de exemplares vendidos no mesmo ano. John Hammond, que descobriu Bob Dylan, queria transformar Springsteen no novo ídolo folk, e tentou convence-lo a gravar um álbum inteiramente acústico, mas Bruce e seu então manager Mike Appel decidiram alugar um estúdio vagabundo e registrar eles mesmos as canções (o que, de certa forma, explica o som embolado do álbum) evitando a má influência da gravadora. Após apresentar o material (e Hammond salientar sua preferência) ficou decidido que “Greetings from Asbury Park, NJ” seria dividido em dois sets de cinco canções: um com a E Street Band (super-banda que acompanha Bruce até hoje) e outro voz e violão – este segundo set acabou reduzido à intensa “Mary Queen of Arkansas” (uma das grandes canções do álbum é sobre uma personagem que poderia frequentar a letra de “Walk on The Wild Side”, de Lou Reed). Sob pressão do chefão da gravadora, que não via nenhum single entre o material gravado, Bruce deixou três canções de lado e gravou duas novas, “Blinded by the Light”, com uma guitarrinha reggae até a entrada da E Street Band consolidando uma sonoridade que Bruce elevaria a perfeição em discos posteriores, e a grande e arrepiante balada soul “Spirit in the Night”. Destacam-se ainda a rebelde “Growin’ Up” e “It’s Hard to Be a Saint in the City”, as duas gravadas por David Bowie (a primeira nas sessões do álbum “Pin Ups”, de 1973, e a segunda lançada em 1975), em um repertório de boas canções, e produção desleixada.


The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle – 1973

Gravado no mesmo estúdio de segunda categoria em que boa parte de “Greetings from Asbury Park, NJ” foi registrado, “The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle” mostra uma sensível evolução tanto na produção, que consegue separar melhor os instrumentos, como no entrosamento da E Street Band em estúdio, com longos improvisos e uma sonoridade soul (intensamente influenciada por Van Morrison) que soa uma sequencia de “Spirit in the Night”, uma das últimas faixas gravadas para o disco anterior. Nessa época, Bruce Springsteen já era conhecido por fazer shows bombásticos, e, embora o disco tenha sido novamente aclamado pela crítica, os elogios não se converteram em sucesso. Ainda assim, é em “The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle” que o saxofonista Clarence Clemmons e o tecladista David L. Sancious colocam as manguinhas de fora, criando uma massa sonora impactante para as belas canções do álbum – são apenas sete faixas, três delas acima dos 7 minutos, e uma com quase 10 de duração. “The E Street Shuffle” abre o álbum suingando enquanto Bruce posa de cronista das ruas nova-iorquinas observando Little Angel comandar todos os garotos da redondeza como se os hipnotizasse. “4th of July, Asbury Park (Sandy)” é uma balada épica e romântica que se transformou em um hino para os fãs ao lado da intensa “Rosalita (Come Out Tonight)”, ambas possivelmente escritas para a namorada de Springsteen na época, Diane Lozito. Bruce arrebenta no solo do blues soul “Kitty’s Back” enquanto “Wild Billy’s Circus Story” é a porção Dylan do disco.


Born To Run – 1975

Em 1973, Bruce havia lançado dois álbuns (um em janeiro, outro em setembro), e só obtivera elogios da crítica. O fracasso comercial dos dois discos fez com Bruce decidisse dedicar um tempo maior àquele que seria seu terceiro álbum. A longa espera (14 meses – seis deles gastos apenas na lapidação da faixa título) fez com que seu produtor até então, Mike Appel, abandonasse o barco. Para o lugar, Jon Landau, jornalista da Rolling Stone, foi chamado, e levou Bruce para um estúdio melhor, o Record Plant. Se seus dois primeiros álbuns são exemplos de um artista caminhando no deserto em busca de sua musicalidade – com influências devotas e explicitas de Bob Dylan, Van Morrison e The Band –, “Born To Run” é Bruce alcançando a Terra Prometida. Sob uma base de gaita e piano, “Thunder Road” abre o álbum com o interlocutor observando sua Mary dançando uma canção de Roy Orbison, e a convida para fugir com ele: “Está é uma cidade cheia de perdedores e eu estou pulando fora daqui para vencer”, diz a letra de uma das melhores canções de abertura de um álbum na história. O single “Tenth Avenue Freeze-Out”, a explosão de “Night” e a grandiosidade dos arranjos de “Backstreets” e “She’s the One” são exemplos práticos do avanço de Bruce em relação aos álbuns anteriores (principalmente na produção), mas é com “Born To Run”, a poderosa faixa título (ainda produzida por Mike Appel no mesmo estúdio tosco dos dois primeiros álbuns), que ele alcança seu melhor resultado como cronista de uma juventude perdida em meio ao sonho americano.


Darkness On The Edge Of Town – 1978

Após o sucesso de “Born To Run”, Bruce estava pronto para entrar em estúdio em 1976 e gravar o novo álbum, mas desentendimentos com Mike Appel o fizeram afastar o empresário e efetivar Jon Landau. Não satisfeito, o ex-empresário, que detinha os direitos das canções de Bruce até então, entrou com um mandado judicial o proibindo de trabalhar com Landau e, inclusive, de entrar em estúdio. Bruce respondeu juridicamente alegando fraude, abuso de confiança e influência indevida de Mike Appel. O processo se arrastou por três anos em que Bruce frequentou mais tribunais que palcos. Esse período desgastante fez Bruce amadurecer na marra, e “Darkness on the Edge of Town” é o retrato desta fase. Bruce compôs mais de 70 canções no período de abstinência, e gravou 52 nas sessões de “Darkness on the Edge of Town”, selecionando 10 para o álbum (outras 22 foram lançadas em 2010 no duplo “The Promisse”). “Darkness é sobre pessoas se recusando a abrir mão de sua humanidade”, explicou Bruce ao jornalista Tony Parsons. Denso, melancólico e menos comercial (as palavras “Trevas” e “Escuridão” aparecem em seis das 10 faixas) que “Born To Run”, “Darkness” abre com o hino “Badlands”, e Bruce joga as cartas na mesa: “Estou com minha cabeça explodindo, Esmagando minhas tripas, cara / Estou preso num fogo cruzado que não entendo / Mas tem uma coisa que tenho certeza, garota / Eu não tô nem aí para os que ficam em cima do muro”. “Promise Land” (irmã de “Badlands”) é outra com Bruce olhando nos olhos do inimigo e dizendo que irá seguir em frente. Na balada melancólica “Something in the Night”, ele reflete que é melhor seguir como nasceu, sem nada, pois “assim que você consegue alguma coisa, alguém aparece para tentar tirar de você” enquanto na bela “Racing in the Street”, o interlocutor pede para sua garota esquecer os sonhos partidos ao menos por uma noite. “Factory” foca nos homens cansados (e “com morte nos olhos”) após um dia de trabalho e em “Streets of Fire” ele conta que só tem conversado com pessoas estranhas. Uma das canções mais emblemáticas do álbum, “Prove It All Night” abre com Bruce dizendo que está trabalhando duro e fazendo o possível para continuar com as mãos limpas. O Bruce que o mundo viria a admirar nasce em “Darkness on the Edge of Town”. Dolorido e obrigatório.


Pièce de Résistance (1978) – Live ( 3 cds )


The River – 1980

As cicatrizes ganhas durante o período conturbado de “Darkness on the Edge of Town” mudariam Bruce para sempre. O olhar adolescente da primeira fase daria lugar a uma consciência social que exibe suas garras em “The River”, e se expandirá em discos seguintes (como “Born In The USA”, “The Rising” e “Wrecking Ball”). A ideia inicial era lançar um disco simples, que tinha o nome provisório de “The Ties That Bind” e contava com algumas das (dezenas de) canções que ficaram de fora do álbum anterior. Porém, conforme Bruce foi trabalhando em estúdio e os Estados Unidos entravam em uma séria recessão (que abalou o mercado de construção, colocando centenas de milhares de trabalhadores na rua), o álbum tomava um novo rumo. O cerne do álbum duplo (com 20 músicas) que chegou às lojas em outubro de 1980 é a faixa título, que conta a trajetória (tão comum) de um rapaz (desempregado) que engravidou a namorada Mary e teve que se casar aos 19 anos. “The River”, o disco, combina o lado explosivo de “Born To Run” com a veia reflexiva de “Darkness”. O chefão critica as pessoas que escolhem viver na solidão (“The Ties That Bind”, “Two Hearts” e “Out in the Street”), emociona ao narrar a partida de um filho da casa do pai que nunca o entendeu (“Independece Day”), filosofa sobre sonho e realidade (na dolorida e belíssima “Point Black”) e se choca ao presenciar um acidente na estrada (“Wreck on the Highway”). Certa noite encontrou Joey Ramone, que o pediu uma canção para sua banda. Ele então compôs “Hungry Heart” na madrugada, mas seguindo orientação de seu produtor, decidiu guardar a canção (ele já havia “dado” “Because The Night” para Patti Smith, “Fire” para o Pointer Sisters, e “Blinded by the Light”, para o Manfred Mann’s Earth Band – as três entraram no Top 20 da Billboard, posição que Bruce ainda não tinha alcançado sozinho). Em outubro de 1980, “Hungry Heart” chegou ao número 5 do ranking da Billboard, tornando-se o primeiro grande sucesso de Bruce, e até hoje um dos grandes momentos de shows do cantor.


Nebraska – 1982

Após a recessão do governo Jimmy Carter, os Estados Unidos viviam um momento de expectativa com Ronald Reagan e seu ousado plano econômico. O país que Bruce via em suas andanças de turnê, no entanto, era bem diferente, e “Nebraska” é um retrato perfeito do período. Bruce gravou o álbum todo sozinho em um pequeno estúdio portátil de quatro canais (que se transformaria em objeto de culto para a cena lo-fi posteriormente), tocando guitarra, violão, gaita, bandolim, pandeiro e órgão. As (até então) demos foram levadas para a banda em estúdio, que preparou os arranjos e gravou as novas canções. Porém, comparando as versões acústicas com as elétricas, Bruce optou por lançar a versão lo-fi que ele havia gravado em sua própria casa. A opção valoriza um grupo de letras cujos personagens, criminosos e pessoas desesperadas, compõe um retrato brutal dos Estados Unidos. Na faixa título, que abre o álbum, Bruce relembra a história real do casal Charles Starkweather (17 anos) e Caril Ann Fugate (14), responsável por 11 assassinatos entre 1957 e 1958: “Eu e ela saímos para um passeio / e 10 pessoas inocentes morreram”, diz a letra. Em “Atlantic City”, um casal planeja fugir de mafiosos. Em “Johnny 99”, um trabalhador é despedido, toma um porre e acaba matando um homem. A condenação do júri: 99 anos de prisão. “State Trooper”, por sua vez, é sobre suicídio. Não espere alegria. Não há. Apesar de não repetir o êxito comercial dos discos anteriores,


Born in the USA – 1984

Álbum que apresentou Springsteen ao mundo (pouco antes de “We Are the World”), “Born In The USA” já estava praticamente gravado desde 1982, mas só chegou às lojas em 1984. Se “Nebraska” era marcado por uma visão aterradora dos Estados Unidos, “Born in the USA” exala otimismo (encharcado de cinismo) em relação ao país de Reagan. A influência do tecnopop vigente na época contribuiu na sonoridade pop rock do disco sem prejudicar a pegada encorpada da E Street Band, e 15 milhões de norte-americanos foram às lojas atrás do álbum. O cinismo afiado da faixa-título, que questiona o tratamento do governo para com os veteranos do Vietnã, passou batido por muitos, que, focados no refrão, tomaram a canção como um elogio à vida norte-americana (enquanto a letra, crava: “Sob a sombra da penitenciaria / Ou perto das chamas de gás da refinaria / Estou há 10 anos sem rumo / Nada para fazer, nenhum lugar para ir: Nasci nos Estados Unidos”, provoca Bruce). Estes também não entenderam “Glory Days”, com sua batida rancheira e letra que elogia o passado em confrontação ao presente infeliz. A poderosa “Downbound Train” narra o fim de um romance após a perda do emprego enquanto “No Surrender” dá o recado: “Aprendemos mais com uma canção de três minutos do que jamais aprenderemos na escola”.


Live, 1975/1985 (1986) – 3 cds


Tunnel of Love – 1987

Após a festa do sucesso de “Born In The USA” veio a ressaca com “Tunnel of Love”. No quesito musical, a E Street Band é desfeita (eles só irão se reunir para gravar um disco no século seguinte) e Bruce assume o controle do álbum usando bateria eletrônica e sintetizadores (com um ou outro membro da banda trabalhando separadamente em algumas das faixas). No quesito pessoal, o casamento de Bruce com a atriz Julianne Phillips, oficializado em maio de 1985, estava indo pro buraco pouco menos de dois anos depois, e “Tunnel of Love” é praticamente um acerto de contas com o matrimônio, uma tentativa de salvar um casamento com um disco. Logo na faixa de abertura, “Ain’t Got You”, Bruce diz que tem toda sorte de dinheiro e ouro, títulos bancários, caviar, mas não o amor de sua garota. Em “Tougher Than the Rest”, o interlocutor promete: “Talvez seus outros namorados / não tenham passado no teste / se você estiver preparada para o amor / serei mais forte que eles”. A faixa título explica, com simplicidade tocante, o amor: “Deveria ser fácil, deveria ser simples / Homem encontra uma mulher e eles se apaixonam / Mas a casa é assombrada e o passeio fica difícil”. A grande canção do álbum é “Brilliant Disguise”, balada acelerada de partir o coração: “Agora você interpreta a mulher apaixonada / E eu, o homem fiel / Nós ficamos de pé no altar / A cigana jurou que nosso futuro estava ok / Mas então vêm os pequenos momentos / Bem, talvez a cigana tenha mentido”. Poucos meses depois do álbum lançado (número 1 nos EUA), Julianne Phillips pediu o divórcio. Vão se os anéis, ficam as canções de um disco confessional e bonito.


Chimes Of Freedom (1988) - Live


Human Touch / Lucky Town – 1992

Cinco anos após “Tunnel of Love” e seis meses após o Guns n’ Roses lançar dois álbuns ao mesmo tempo (“Use Your Illusion I” e “Use Your Illusion II”), Bruce Springsteen retorna ao cenário pop também com dois álbuns simultâneos lançados no mesmo dia e com a arte da capa parecida. Ele havia se mudado para Los Angeles e usou músicos de estúdio nas gravações dos dois álbuns. “Human Touch”, o primeiro, traz três melodias do pianista Roy Bittan, que Bruce gostou e decidiu colocar letra, uma recriação de uma canção de Sonny Boy Williamson (”Cross My Heart”) e um número tradicional (”Boy Pony”). O Chefão soa confiante e as canções são alegres, pra cima. A temática das letras resvala em temas caros ao compositor (trabalho, carros, felicidade), mas o resultado é um belo grupo de canções que não faz frente ao repertório pré “Born in the USA”. Após uma pausa nas gravações de “Human Touch”, Bruce retornou ao estúdio em 1991 para gravar mais uma canção para o álbum, “Living Proof”, e acabou gravando 10. Nascia o irmão gêmeo, “Lucky Town”, um disco mais despojado e direto. Em “Better Days” ele diz que está voltando pra casa enquanto a pungente “Book of Dreams” traz o noivo admirando a noiva no dia do casamento. A sensação, como em boa parte dos álbuns duplos, é que o repertório teria muito mais força se Bruce tivesse se concentrado em metade das 24 canções, mas o real valor da dobradinha “Human Touch” / “Lucky Town” é manter o compositor na ativa.


In concert, MTV Plugged (1993)


Satans Jewel Crown (1993) – Live


The Ghost of Tom Joad – 1995

Como seria “Nebraska” se fosse gravado em um estúdio de verdade? “The Ghost of Tom Joad” é a resposta. Se por um lado, a segunda incursão de Bruce Springsteen pelo folk tradicional quebrou uma sequencia de oito discos Top 5 da Billboard (alcançou “apenas” a 11ª posição em vendas), por outro marca a retomada de qualidade após três discos medianos (para o padrão Bruce). Tom Joad é o protagonista do livro (adaptado para o cinema) “As Vinhas da Ira”, de John Steinbeck, e, assim como em “Nebraska”, os temas são sombrios focando personagens desesperados tentando sobreviver na América. Não é nada fácil. Na faixa título, que abre o álbum, a letra avisa que “famílias dormem nos seus carros / sem casa, sem trabalho, sem paz, sem descanso”. Tanto “Youngstown” quanto “Galveston Bay” revisitam a temática do abandono dos veteranos de guerra na canção “Born in the USA”, mas de forma séria (“Enviamos nossos filhos para a Coréia e o Vietnã / E agora nós nos perguntamos pelo que eles estão morrendo”, diz a letra da primeira) enquanto “Across the Border” e “Sinaloa Cowboys” foca nos mexicanos que tentam atravessar a fronteira em busca de uma vida melhor nos Estados Unidos (“Eu construirei uma casa para você / No topo de uma colina coberta de grama / Em algum lugar do outro lado da fronteira”, diz a sonhadora “Across the Border”). “The New Timer” guarda parentesco com a canção “Nebraska” enquanto “My Best Was Never Good Enough”, a faixa de encerramento, caçoa de ditados populares (e de “Forrest Gump”) num disco que merece ser redescoberto.


Blood Brothers (1996)


Before the Fame (1999)


Live in New York City (2001)


The Rising – 2002

Semanas após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, Bruce Springsteen (que havia completado 50 anos em 1999) já tinha composto 11 das 13 canções de “The Rising”, álbum que quebrava um silêncio de sete anos sem material original e reunia a E Street Band 18 anos depois dos dias gloriosos em que Bruce dançava no escuro nos anos 80. Não à toa, “The Rising” é um irmão distante de “Born In The USA”. Nas letras, o assunto são os atentados, e Bruce passa longe do populismo sem sentido e do patriotismo pomposo ao contar histórias simples de pessoas simples. “Lonesome Day” abre o disco contando a história de um bombeiro em um dia solitário. “Into The Fire” tem levada folk, voz rasgada e letra comovente: “Que sua força nos de força / Que a sua fé nos de fé / Que a sua esperança nos de esperança / Que seu amor nos de amor”. Já a tocante “Waitin’On A Sunny Day”, maior hit de Bruce nos últimos 20 anos, clona “Glory Days”, provavelmente intencionalmente. Se a segunda debochava da época Reagan relembrando outros dias gloriosos, “Waitin’On A Sunny Day” sugere a inocência de quem apenas espera por um dia ensolarado. “The Nothing Man” (de clima semelhante a “Secret Garden”) visualiza uma cidade inalterada após o atentado e arrepia no refrão enquanto “Countin’ On A Miracle” traz guitarras mais pesadas destacando a produção cuidadosa de Brendan O’Brien (Pearl Jam, Stone Temple Pilots, Korn) que parece ter sido escolhido visando atualizar o som “Bruce” para a molecada. Foge do clima Springsteen básico a estranha “Worlds Apart”, com longa introdução world music até se definir num rockão de estádio. Para fechar o álbum, uma grande canção: “My City of Ruins”.


Devils & Dust – 2005

Décimo terceiro álbum da carreira de Bruce, e terceiro de pegada acústica, “Devils & Dust” é praticamente uma limpeza no baú do compositor. A maioria das canções foi composta em quartos de hotel em 1997, ao final da turnê de “The Ghost Of Tom Joad”. A mais antiga, “All The Way Home”, data de 1991. Já a faixa-título foi escrita em 2003, após o início da guerra do Iraque, e traz o ponto de vista de um jovem soldado buscando um sentido para tudo aquilo: “Estou com o dedo no gatilho / mas não sei em quem confiar”. “Reno” narra o episódio em que um rapaz se encontra com uma prostituta – e as referências sexuais fizeram o disco ganhar uma tarja de conteúdo para adultos, mais comum em álbuns de rap. “Silver Palomino” e “Long Time Comin’” são bonitas odes à juventude (e a segunda à esperança também). A sonoridade não chega a ser esquálida como as de “Nebraska” e “The Ghost Of Tom Joad”. O folk está lá, com melodias simples, o violão, uma gaitinha esperta e o piano habitual. A influência de seus velhos gurus, Woody Guthrie, Hank Williams e Dylan, também – o último vem a mente na balada “Jesus Was An Only Son”, que remete a “If You See Her, Say Hello”. Springsteen, porém, fortalece o som com órgãos, cordas discretas em segundo plano e até com uma cítara (em “Reno”). Arrisca um namoro tímido com seu lado rocker em “All The Way Home” e “Long Time Comin’”, flerte que dissipa um pouco a aridez do álbum, mas não é um voo elétrico tão alto quanto os dos discos com a E Street.


We Shall Overcome The Seeger Sessions - 2006
Primeiro álbum da carreira de Springsteen inteiramente composto por versões, “We Shall Overcome The Seeger Sessions” começou a nascer em 1997, quando o Chefão foi convidado para participar de um álbum tributo a Pete Seeger, um dos maiores nomes da canção de protesto nos Estados Unidos. Ao pesquisar o repertório de Seeger, Bruce ficou encantado e começou a divertir-se tocando em casa as velhas canções de protesto do mestre. Em 2006, por intermédio de Soozie Tyrell, violonista da E Street Band, Bruce começou a ensaiar um set list de canções de Pete Seeger com um grupo desconhecido de músicos, e o resultado se mostrou tão positivo que Bruce decidiu registrar como um álbum. O clima das sessões de Pete Seeger remete a uma jam ao vivo em estúdio, e mais parece uma reunião de amigos que se junta para cantar umas canções tradicionais em uma autentica festa country/folk (politizada). “Old Dan Tucker”, canção tradicional registrada em 1843, abre o álbum com a voz forte de Bruce sobre uma base deliciosa de banjo. A arrepiante “O Mary Don’t You Weep” é um spiritual datado de 1915, e que muitos críticos definem como uma canção de esperança e resistência escrava. Uma segunda edição do álbum acrescentava cinco novas canções às 13 editadas anteriormente, destacando a empolgante valsa irlandesa “American Land”. Faça uma festa em casa e deixe esse disco tocando. Diversão garantida.


Magic – 2007

Brendan O’Brien volta a assinar a produção em um álbum que soa como uma continuação melódica de “The Rising” (que, por sua vez, era quase um “Born In The USA” 2), sem soar diretamente tão político quanto seus álbuns gêmeos (embora soe mais sombrio). “Radio Nowhere” abre o disco de forma acelerada e empolgante. O som das guitarras é sujo, mas cristalino, e serve para dar corpo a uma canção que clama por outras do mesmo quilate: “Eu quero mil guitarras / Eu quero baterias martelando / Eu quero um milhão de vozes diferentes“. Mais duas canções seguem por este mesmo caminho: “You’ll Be Comin’ Down” (com piano a frente das guitarras que fazem um riff circular por trás) e “Last to Die”, com cordas na introdução abrindo caminho para uma porrada musical que tem a guerra como tema (“Quem será o último a morrer por um erro”, diz a letra). A romântica “I’ll Work for Your Love” traz boas guitarras, vocação pop rock de estádio, mas fica no grupo das canções menores do álbum. “Livin In The Future” se sai melhor: é dançante e destaca o reconhecível sax de Clarence Clemons. “Girls in Their Summer Clothes” é uma balada ensolarada enquanto “Gypsy Biker” começa com violão e gaita para virar um rockão portentoso lá pelo meio. “Long Walk Home” segue a linha de “Gypsy Biker” (com percussão no lugar da gaita) e também inspira. As duas canções falam sobre voltar pra casa depois da guerra. Para o final, o único folk “folk mesmo” de todo o repertório, “Terrys Song”, dedicada ao amigo Terry Magovern, morto naquele ano, e que versa sobre maravilhas do mundo (as Pirâmides do Egito, a Capela Sistina, a Mona Lisa, o amigo falecido) e conclui que o amor é maior do que a morte. “Magic” (outro álbum nº 1) soa como um álbum em que Bruce tenta esconder a melancolia sobre uma produção encorpada, e é um bom disco, ainda que menos impactante que os demais dos anos 00.


Working On a Dream – 2009

Mais esperançoso e menos sombrio que o disco anterior, “Working On a Dream” traz outra vez Brendan O’Brien na produção, e é a prova que o chefão chegou num ponto da carreira em que – assim como Elvis Costello e Neil Young – tudo que toca vira ouro. Porém, este décimo-sexto disco é o menor em tempos de álbuns ótimos como “The Rising” (2002), “Devils & Dust” (2005) e “The Seeger Sessions” (2006). Não é que “Working On a Dream” seja um disco ruim: o nível que é alto. “Outlaw Pete” (que poderia ter metade do tempo) abre o álbum de forma épica enquanto “What Love Can Do” é, provocava Bruce, “o amor nos tempos de George W. Bush”: “Querida, eu não posso parar a chuva / Ou transformar esse céu escuro em azul / Bem, deixe-me mostrar-lhe o que o amor pode fazer”. A alegre “This Life”, a esperançosa faixa título e “The Wrestler”, tema do filme “O Lutador” (2008), de Darren Aronofsky, valem seu sorriso, mas no computo geral, “Working On a Dream” sinaliza cansaço – ou mesmo falta de assunto. Se esse era o problema, uma crise financeira mundial (e que abalou severamente os Estados Unidos) colocaria a carreira de Bruce nos eixos novamente.


The Promise (2010)


Wrecking Ball – 2012

Bruce inspira-se nos eventos da crise financeira para lançar seu melhor disco desde “The Rising”. “We Take Care of Our Own”, o primeiro single, é uma “Born In The USA” acelerada em que o cantor acusa o governo de não ajudar as pessoas (uma crítica feroz ao “american way of life”, que proclamou o capitalismo com uma religião que não perdoa os fracos). Bruce toca guitarra, banjo, piano, teclado, percussão e bateria eletrônica enquanto uma seção de cordas (de oito violinos, três violas e dois violoncelos) faz a melodia grudar na memória (e ecoar em estádios). Um coral soul surge em “Easy Money” para levar aos céus o personagem, que, como um pirata pronto para saquear, “está indo para a cidade em busca de dinheiro fácil”. Em “Shackled and Drawn” (da frase “Liberdade é uma camisa suja”), Bruce se entrega ao soul (que ecoa em todo o álbum) e cita “Street Fight Man”, clássico dos Stones. A melancólica “Jack of All Trades” traz Tom Morello na guitarra solo, uma seção de sopros extremamente lírica e uma letra que diz que os banqueiros fazem o que sempre fizeram (engordar), e ameaça: “Se eu tivesse uma arma, eu iria atrás dos bastardo”. Na emblemática marcha celta “Death to My Hometown”, ele diz: “Nenhuma bomba caiu do céu. Foram os ladrões gananciosos que trouxeram a morte para a minha cidade natal”. A baladaça “This Depression” traz novamente Tom Morello, agora na guitarra climática, enquanto a faixa título e “Land of Hope and Dreams” trazem o velho parceiro Clarence Clemons (morto em 2011) no sax. “You’ve Got It” e “Rocky Ground” surpreendem pela simplicidade do arranjo (a primeira ainda destaca uma letra bonita), e ratificam a aura soul que permeia todas as canções do álbum (e se estendem de forma surpreendente nos shows da turnê). A sensação é de que Bruce não desperdiça um segundo de sulco em “Wrecking Ball”, um álbum crítico que retrata o lado podre das pessoas em arranjos suntuosos.


Senha dos Arquivos: muro
Texto by screamyell.com.br



5 comentários:

Unknown disse...

os arquivos pedem uma senha, será que você poderia disponibilizar ?

Anônimo disse...

A senha é muro

Anônimo disse...

para que le pones contraseña si no dices cual es????

Jack Oldpunk disse...

contraseña es muro

Anônimo disse...

When you run through Google translate it says wall. No wonder it didn't work for me. Took me a few tries to realise!