É relativamente seguro afirmar que se não tivesse havido as aventuras andarilhas dos beats, "descobrindo a verdadeira América" como eles gostam de afirmar, e a literatura posterior relatando estas descobertas, dificilmente se poderia conceber o movimento jovem da década de sessenta, nos termos em que se sucederam. Pois foi justamente esta literatura beat, com livros como "On The Road", que incentivaram milhares de jovens a deixarem os seus lares de classe média e igualmente irem explorar por si, seu próprio país. Porém diferentemente dos beats, muitos destes jovens criaram raízes pelo meio do caminho, formando colónias e comunidades alternativas.
A palavra beat em si é sinónimo para batida ou compasso (seja musical ou cardíaco). A palavra também significa ser vencido. O termo "beat" é gíria antiga, utilizada nas ruas entre as pessoas de poucos meios, basicamente reafirmando a ideia de estar cansado e vencido (pela vida). O termo também passou a ser usado pelos marginais para designar uma negociação de tráfico que terminou mal. Pagar por heroína e descobrir depois que levaste açúcar ou talco, é ser beat (vencido).
O termo beat tornou-se popular entre as décadas de trinta, pós-recessão e quarenta, pós-Segunda Guerra Mundial. Para aqueles que viveram estes tempos na ponta mais baixa da escada social, ser beat é roubar ou ser roubado, é estar no mais baixo da baixaria. É estar sem dinheiro, sem tecto, ou sem a dosagem diária necessária de birita ou entorpecente para se atingir o nirvana particular, evitando assim as cólicas da abstinência que ficam sempre à espreita, aguardando escondido nas partes mais sombrias do seu id.
A geração que surgiu entre estes dois períodos foi definida por Jean-Paul Sartre como sendo 'The Lost Generation' - A Geração Perdida. Sua alcunha procurava passar o sentimento de angústia, abandono e desespero daquele período. Recordando o termo Geração Perdida, reza a lenda que sentados numa cafeteria em Times Square, no meio de um Novembro gélido de 1948, Jack Kerouac e John Clellon Holmes procuravam uma definição para a falta de perspectiva que viam e sentiam ao seu redor. Foi quando Kerouac casualmente filosofou, "somos mesmo uma beat generation". Holmes pulou da cadeira como quem acaba de testemunhar uma revelação divina, e gritou: "É isso! Você tem razão!"
Quem são os Beats?
"Aparentemente sou algum especie de agente de outro planeta.
Mas não tive minhas ordens decodificadas ainda"
- William Burroughs
Então, está tudo explicado e definido? Bem... talvez não. Cada um dos escritores identificados como sendo beat definem o termo de uma maneira diferente, quase sempre sob um prisma pessoal. De todos, Kerouac foi o primeiro a fazer questão de dispensar definições mais objectivas, dando-se ao trabalho de utilizar a palavra "beat" em contextos diferentes, mantendo assim um aspecto indefinível para o termo.
Outros poetas da chamada geração beat, igualmente desconfortáveis com o modismo que o termo passou a atrair, tentam esvaziar o excesso de mítica criada. Gary Snyder, poeta e autor do livro "Myths And Texts", falou certa vez meio a brincar, que não existia na verdade nenhuma 'Geração Beat' pois meia dúzia de pessoas não constituem uma geração. Aparentemente este também é o raciocínio de Hettie Cohen Jones, autora do livro "How I Became Hettie Jones". Ela deduziria que o termo Beat Generation era um nome mal empregado pois, naquela altura, toda a Geração Beat cabia na sua sala de estar, e no seu entender, uma geração inteira não poderia caber em apenas uma sala.
Seria Allen Ginsberg quem mais se esforçaria a definir e projectar o termo beat e a consciência literária que ele sugere. Seu esforço promocional era direccionado para conseguir publicações em revistas de renome e status. Não somente para os seus trabalhos, como também para os dois amigos, cujo trabalho Ginsberg mais respeitava e admirava, Jack Kerouac e William Burroughs. Ginsberg porém, nem sempre foi tão obstinado quanto ao seus objectivos. Ele sofria de dúvidas constantes sobre tudo que ele acreditava que a literatura deveria ser. Isto é, até certo dia, quando recitou "Howl".
É possível concluir hoje em retrospectiva que existiam dois grupos ou segmentos distintos de beats. O primeiro, surgindo em Nova York durante a década de quarenta e o outro, se encontrando em San Francisco na década de cinquenta. O grupo inicial, formara-se sem premeditação quando Jack Kerouac, Allen Ginsberg, John Clellon Holmes, William Burroughs, Herbert Huncke, Lucien Carr, Hal Chase e Gregory Corso se conheceram em diferentes ocasiões durante o decurso do ano de 1943. No ano seguinte conheceram Neal Cassady, de passagem em Nova Iorque vindo do oeste. Juntos e individualmente, criaram uma poesia urbana e uma forma ou estilo de escrever específico e à parte de qualquer outro estilo corrente.
Quase uma década depois, Ginsburg e Kerouac vão juntos para o oeste à procura de Neal Cassady. Primeiro Ginsburg e mais tarde Kerouac acabam por se fixar em San Francisco, ainda que por um curto período. Lá acabam atraídos e atraindo poetas igualmente inconformados com a América dos anos cinquenta. Uma América onde o boom industrial mais servia como um sedativo, fazendo cada nova invenção em electrodomésticos o principal factor de interesse das massas.
Neste segundo grupo estão poetas, escritores, artistas e intelectuais como Lawrence Ferlinghetti, Gary Snyder, Kenneth Rexroth, Norman Mailer, David Meltzer, George Herms, Wallace Berman, Bruce Conner, Philip Lamantia, Michael e Joanna McClure e vários outros. Abriram a percepção que estava fechada em literatura urbana para algo mais abrangente, atingindo a pintura e escultura, como também uma literatura que possa falar não só da cidade, como do campo e do espírito. Pode-se deduzir que foi em San Francisco que o beat se tornou de facto um movimento.
Foi em San Francisco, no dia 7 de outubro de 1955, que um grupo de poetas desconhecidos, sem onde ou como apresentar seus trabalhos, resolvem desafiar o que era considerado bom gosto, e fizeram um recital gratuito em uma galeria velha que ficava no bairro negro da cidade. Colocaram cartazes pelos arredores, incluindo o bairro latino vizinho, e realizaram o recital. A galeria chamava-se “The Six Gallery”, e na verdade tratava-se de uma antiga oficina mecânica transformada naquele ano em galeria de arte. Kerouac, recém-chegado em San Francisco e desconhecido ainda da maioria destes poetas desconhecidos, estava presente apenas como espectador. Ele logo tratou de promover uma vaquinha angariando recursos para comprar algumas garrafas de vinho barato por oitenta e cinco centavos o galão. Tornou-se então parte do programa a distribuição gratuita de vinho tanto para os artistas como para o público, que se calcula em torno de cento e cinquenta pessoas presentes.
Esta era uma época de repressão moralista, de guerra fria e caça aos comunistas. A censura já conseguira taxar como pornografia para então proibir quadros e livros produzidos dentro do período. Então para o público presente, composto de muitos negros e latinos, imigrantes de vida difícil, o recital com os seus poemas questionando tantas certezas do modo de vida americano, soou particularmente real. Talvez tenha sido o vinho. Ou o cunho subversivo dos pensamentos em relação com a corrente em prática. Talvez não. Até porque não é subversivo, é contracultura, em sua forma mais pura e plena, sem a máquina promocional diluindo sua integridade. Talvez o público tenha ouvido com atenção, aplaudindo de pé, manifestando sua concordância com estes pensamentos e ideias oferecendo gritos espontâneos de é isso aí, porque estas mesmas desilusões eram vivenciadas na pele deles também.
Tendo Kenneth Rexroth como mestre de cerimónias, o programa abriu naquela tarde com Philip Lamantia e as suas poesias surrealistas. Seguiu então Philip Whalen, que em seus poemas misturava de forma convincente o género e ironia beat com teologia Zen budista. Michael McClure recitou poemas sobre a natureza, seja retratando o assassinato de baleias ou amores intensos. Gary Snyder explorava histórias com aventuras na natureza, para oferecer profundos conceitos ecológicos.
Por último, recitou Allen Ginsberg, já com vinte e nove anos; neste dia lê pela primeira vez em público, aquele que é considerado até hoje, o poema mais famoso e representativo de toda contracultura beat, "Howl for Carl Solomon".
"Eu vi as melhores mentes da minha geração destruídas pela loucura,
esfomeados nus e histéricos,
arrastando-se pelas ruas negras no poente
à procura de um rancor injetável".
Após este evento, deu-se início a uma espécie de renascimento da poesia em San Francisco. Começavam a brotar espaços, com recitais em bares e festas praticamente todas as semanas na cidade. Nas palavras de Gary Snyder: "Tivemos a nítida sensação de termos alcançado uma liberdade de expressão, termos nos libertados da Universidade que tanto sufocava os poetas, indo além da tediosa e inútil discussão sobre Bolchevistas versus o Capitalismo que tanto esvaziava a imaginação de tantos intelectuais do mundo".
O poema já foi interpretado de várias formas, e o consenso sugere que se tratava de impressões sobre a vida e a mente humana. Uma visão das entranhas da era Eisenhower, representando as pessoas sofridas e marginalizadas, tornando-se sua voz. "Howl" - Úivo! - é descrito pelo próprio Ginsberg como sendo montado em três partes como uma pirâmide. Trata-se de um protesto contra a automatização desumana da cultura Americana, como também a afirmação da compaixão humana individual. Credita-se a esta leitura no Six Gallery, para uma audiência apreciativa e entusiástica, o ponto crucial para que Ginsberg percebesse sua vocação, perdendo toda e qualquer dúvida que até então lhe atormentava a mente. Todavia Ginsberg não usava o termo "escritor da beat generation", este somente passaria a ganhar asas no final de 1957, após o lançamento de "On The Road" de Jack Kerouac.
A Popularização do Beat
"Imaginação não é apenas sagrada, é necessária. Não é apenas feroz, é prática. Homens morrem todos os dias pela sua ausência, ela é vasto e elegante".
- Diane Di Prima
Entre a leitura de "Howl" na Six Gallery em 1955 e a publicação de "On The Road" em 1957, houve o famoso processo jurídico onde Lawrence Ferlinghetti, ao publicar o livro "Howl and Other Poems" de Allen Ginsberg, passou a ser acusado pelo governo de promover pornografia. É um momento histórico desfavorável à mudança, onde há no governo dissidências radicais. Liderados pelo Senador Joseph McCarthy, criou-se uma cruzada contra actividades rotuladas anti-americanas. No final do julgamento, o poema não só foi inocentado, como definido como sendo "de valioso conteúdo social". Mais importante ainda foi a cobertura diária da imprensa no julgamento, que tornou os termos Beat, Beat Poet e Beat Generation repentinamente conhecidos por todo o país, embora raros seriam aqueles que realmente entendiam do que se tratava.
Esta seria uma das primeiras vitórias da arte sobre a censura dentro deste período histórico americano. Mas se a poesia conseguiu vencer na justiça porque não testar as leis com prosa? Foi o que fez Barney Rossett, o corajoso dono da Grove Press, ao publicar o livro "Lady Chatterley's Lovers" de D. H. Lawrence. Romance impregnado de descrições de conduta sexual, dentro e fora do casamento, o livro foi igualmente taxado como pornográfico pela censura, rendendo outra disputa na justiça avidamente acompanhada pela imprensa. Rossett tinha-se colocado numa posição em que poderia ser mandado para a prisão e defendeu inteligentemente o livro. A justiça deu-lhe razão e os escritores de romance puderam escrever mais aliviadamente.
Enquanto estes julgamentos se desenrolavam, "On The Road", escrito em 1951, contando uma série de aventuras que haviam acontecido cerca de cinco anos antes, é finalmente publicado. Jack Kerouac, que se chamava aliás Jean-Louis Lebris de Kerouac e crescera a falar um dialecto do francês canadiano, o joual, escreveu o livro de um modo muito especial: um longo rolo de folhas de papel coladas umas às outras – como as folhas de um blogue que estivesse exposto num ecrã gigantesco e no qual nunca houvesse esquecimento. Estava mal escrito do ponto de vista dos escritores perfeccionistas, por corrigir, por rever, embora Kerouac estivesse a trabalhar no texto desde 1950.
Como que desafiando a justiça a condená-lo, Rossett publicou outro livro, o romance beat intitulado "Naked Lunch", de Williams Burroughs. Este romance não só falava de sexo fora do casamento, mas sexo dentro do casamento com a adição de múltiplos parceiros. Criava cenas contendo sexo homossexual, além de uma contínua prática no uso indiscriminado de entorpecentes pelo seus personagens. Em cada uma destas batalhas judiciais, que acabavam geralmente ganhas pelas editoras, a cobertura da imprensa servia para promover o livro e o autor. Foi assim que América como um todo descobre o movimento literário chamado Beat.
A literatura beat passa a ser ao mesmo tempo elogiada por alguns críticos, e arrasada pelas associações literárias conservadoras e mote de gozos da imprensa em geral. É neste contexto que nasce o termo Beatnik, que surgiu no San Francisco Chronicle em uma coluna assinada por Herb Caen em Abril de 1958. O sufixo nik, inspirado do Sputnik, oferece ao beat, a sugestão de ser subversivo, uma vez que Russos e Americanos simbolizavam a antítese entre Comunismo e Capitalismo. Não demoraria muito e Beat seria compreendido como um estilo de escrever, e Beatnik um estilo de viver. Curioso é como o nome beat ressoa bem no subconsciente da mecânica da sociedade consumista. Menos de dois meses depois de "On The Road" e ainda com todo o bruá em relação ao julgamento, o termo passa a ser usado em anúncios da editora Atlantic para vender discos de jazz.
Foi justamente com este excesso de publicidade em relação aos beats que se criou em San Francisco o que passou a ser visto como o circuito turístico, concentrando-se primordialmente em North Beach, ponto antigo dos beats originais. Passou a aglomerar no local uma horda de gente jovem, a maioria querendo ser ou passando por beats, todos estereotipados com boinas, barbichas e costeletas largas, óculos escuros e tocando bongós enquanto ouvem jazz. O sítio morrera para os autênticos beats, e muitos voltaram para a estrada, alguns indo parar ao México, outros à Europa e ao norte da África.
Se a referência original do termo beat era de conotações negativas, foi Ginsberg quem mais se esforçou em abrir o termo para englobar aspirações mais positivas. Beat é tratado como um algo que sugere uma percepção abrangente, aquele que observa sempre de olhos bem abertos. O termo passa a implicar que quando algo é Beat, automaticamente oferece uma percepção particular e real da natureza das coisas. Ser beat é ser aberto e receptivo para uma visão.
Clellon Holmes seria um dos que mais romantizaria a vida beat, transformando degradação e desencantamento em busca intelectual de novos valores. Ele iria definir beat como sendo a versão Americana para o existencialismo europeu. Ser beat, segundo Holmes, era "despir a mente e a alma. Optar por reduzir-se ao que é mais básico, no lugar de aceitar a visão convencional de uma América complacente, próspera e homogénea". Quando, em Fevereiro de 1958, foi solicitado pela revista Esquire a definir o movimento do qual fazia parte, escreveu o hoje famoso artigo "The Philosophy of the Beat Generation". Nele Holmes faz questão de esclarecer que a qualidade principal dos personagens do livro "On The Road" de Jack Kerouac, não era a de serem vagabundos boémios ou destruidores de ícones, mas sim, o fato de estarem em uma busca, que chega ser de uma natureza espiritual. Holmes conclui no final que o Beat Generation é basicamente uma geração religiosa.
Jack Kerouac, que até então sempre fugiu de definições mais específicas, ao ler o artigo de Holmes irritou-se por encontrar nele constantes referências às drogas. Isto acabaria por motivá-lo a publicar a sua versão no curioso artigo intitulado "Aftermath: The Philosophy of the Beat Generation", na mesma revista Esquire no mês seguinte. Nele, Kerouac também romantiza um pouco a alienação social dos Beats originais, tornando-os ainda mais atraentes. Define sua geração como "louca, iluminada, viajando pela América à boleia." Kerouac usa expressões como estando por baixo, porém cheias de intensidade. Utiliza adjectivos como sérios, curiosos, beateiros, e concluindo que os Beats são belos de uma forma feia, porém graciosa.
Kerouac faz questão de frisar que o termo nada tem a ver com delinquência juvenil. Beats são pessoas espiritualizadas que não montavam gangues para agredir pessoas, mas pelo contrário, eram andarilhos solitários, porém solidários.
A Herança Beat no Rock?
Seria também Kerouac quem primeiro observaria e tentaria traçar uma linha entre os Beats originais da década de quarenta e uma nova geração de jovens que surgia na década de cinquenta. Geração esta que abraça e absorve o que era Beat. Eles são definidos por Kerouac como sendo uma geração pós-Guerra da Coréia, que por um milagre da metamorfose, emerge "cool" e "beat". De fato, vêm desta nova geração a maior parte das nossas referências para a conduta rebelde que seria definida como sendo roqueira nas décadas seguintes.
A linguagem e roupas dos "hipsters" passam a ser adaptadas pela nova geração via cinema. A herança Beat no rock 'n' roll provém inadvertidamente através de imagens geradas pelos ícones da tela grande, propagando a moda Beat que podem ser reconhecidos através de Montgomery Clift com o seu blusão e Marlon Brando com a camiseta, ambos absorvidos e reflectidos nos jovens com ainda maior intensidade através de James Dean. Por último, temos Elvis Presley com as costeletas largas.
Portanto definir o que é Beat, ou Beatnik continua a ser um exercício improdutivo. A força do termo podendo estar no seu poder de existir sem uma categoria ou definição definitiva. Podemos apenas definir o período, que se caracteriza por ser pós-Segunda Guerra Mundial, tendo sua auto-consciência ocorrido em 1948, mas "descoberta" pelos média quase uma década depois. Com a descoberta, veio a maior aceitação e por conseguinte, maior facilidade de seus autores de conseguir publicar obras que, em alguns casos, tinham sido escritas com até dez anos de antecedência.
A mais óbvia herança é a importância que a cidade de San Francisco ganhou, ponto dos Beats quando surgiram via imprensa para o povo, e mais tarde, já na década seguinte, ponto dos hippies e do surgimento do chamado Acid rock. A cidade passaria então a ser considerada e hoje ainda lembrada como sendo a capital dos hippies. O fim do período mais popular dos Beats, como sendo a ponta de lança de uma nova consciencialização, pode ser detectado em 1966, quando a nova geração de jovens intelectuais, os novos "hipsters", embora prezando os Beats, já não se consideram como uma extensão do que foi Beat. A geração de sessenta opta por substituir o jazz por Bob Dylan e rock 'n' roll. Igualmente acabam substituindo a liamba (canabis) por LSD (como alguns Beats o substituíram por morfina). Finalmente afastam-se de nomes como Beat e Beatnik para definir-se. Não são mais hipsters. Agora são hippies.
Vários dos Beats originais se dedicavam ao budismo, comprovando a tese de que a verdadeira geração Beat era mesmo espiritualizada. Philip Whallen tornou-se um pastor Zen budista e abade do centro Zen em San Francisco, onde actuou por mais de vinte e cinco anos. Gary Snyder, além de budista, tornou-se um ambientalista actuante conhecido internacionalmente. Michael McClure gravou alguns poemas com Ray Manzarek ao piano colorindo e acentuando passagens, muito como Jack Kerouac havia feito no início de sessenta com Steve Allen ao piano.
Entre outros Beats que ou gravaram ou apareceram em filmes está Laurence Ferlinghetti, que lê um poema no filme "The Last Waltz" de Martin Scorsese. Ken Kesey teve o seu livro "One Flew Over The Cuckoo's Nest" transformado em um filme digno a vencer um Oscar. Mas ninguém esteve em todas como Allen Ginsberg. Durante décadas Ginsberg esteve em vários dos grandes festivais e shows importantes. Andou com Bob Dylan, definindo-o como a maior confirmação de que a sua geração Beat não será como uma rua sem saída. Diz Allen, "Quando eu ouvi 'Masters of War' eu chorei. Foi a noção plena que a tocha foi passada para a próxima geração."
Conheceu, conversou e fez amizades com um cem número de personalidades, principalmente no meio musical. De Charles Mingus a Philip Glass, de Beatles e Stones a Clash e Sonic Youth. Allen Ginsberg gravou e apresentou-se com Ornette Coleman, Elvin Jones, Herman Wright, Bob Dylan, Dave Mansfield, Arthur Russell, Philip Glass, Steven Taylor, The Clash, The Lounge Lizards, Arto Lindsay, Bill Frisell, Marc Ribot, Paul McCartney, Lenny Kaye, Patty Smith, Gus Van Sant, Thurston Moore e Lee Ranaldo.
Outro dos mais badalados entre os Beats originais é William Burroughs. Igualmente conheceu bem os Rolling Stones quando estes se hospedaram no mesmo hotel que o seu em Tanger, Marrocos. Fez amizades com Lou Reed e David Bowie na década de setenta. Andou com Patti Smith, tendo até comparecido na festa de seu vigésimo nono aniversário. Os seus textos e as suas personagens dariam nome a inúmeras bandas das décadas que se seguem. Na década de oitenta grava com Laurie Anderson a canção "Sparkey's Night" e depois ainda faz uma pequena aparição no filme "Home Of The Brave", da musicista minimalista. Aparece também em outra ponta no filme "Drugstore Cowboy" de 1989.
Na década de noventa, teve seu romance "Naked Lunch" finalmente transformado em filme. Infelizmente o escritor já havia falecido. Tributos incluem poemas escritos por respeitados poetas roqueiros de Nova York como Richard Hell e Patti Smith. Talvez William Burroughs seja mesmo o nome que mais se vê ligado ao rock. Basta ler alguns de seus romances que serão encontrados expressões como Heavy Metal, Steely Dan, Soft Machine, Naked Lunch e Soft Boys. Todos nomes de livros ou personagens criadas pela mente de Burroughs e que hoje representam nomes de bandas, algumas mais conhecidas do que outras.
A geração Beat acabou, os grandes e mais lembrados nomes estão todos falecidos. Jack Kerouac, Neal Cassady, LeRoy Jones, John Clellon Holmes, Herbert Hunkle, William Burroughs, e por último, Allen Ginsberg. Embora sem a aura do termo, encontram-se poetas que escrevem dentro de um estilo compatível com o Beat. E, de tempos a tempos, encontramos poetas musicalmente inclinados que acabam tendo uma carreira relevante, se não popular. Nomes como Ed Saunders, Tuli Kupferberg e Ken Weaver, três escritores que montaram a banda The Fugs na década de sessenta, Patty Smith e Tom Waits na década de setenta, Nick Drake na década de oitenta e John Hall na década de noventa. Aguardamos para conhecer quem irá surgir durante a primeira década deste novo milénio.
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