A gravadora mais power - Not Lame Recordings
Bruce Brodeen, ex-funcionário de gravadora em Los Angeles, depois de perder quase tudo em razão de uma forte recessão, resolveu seguir seu sonho de desde sempre: montar uma gravadora especializada em power pop. Junto com a nova retomada do estilo nos anos 90 (e parte responsável dela), a Not Lame utilizou-se da nova tecnologia para o bem, e se lançou sobre o mercado via internet, explorando um filão de amantes sedentos e carentes de boa música. Como diz o slogan da gravadora "Good Music For Good People" (Boa Música Para Boas Pessoas). Serviu também como um grande canal de escoamento, da produção de centenas e centenas de novas bandas. "Uma banda para estar na Not Lame só precisa, fundamentalmente de um requisito: me fazer querer 'tocar guitarra no ar' [quando estamos curtindo um som e tocamos uma guitarra imaginária, no ar]", entrega o romântico Bruce. E por que essa música tão singela e agradável não é mais popular? "Tenho me dedicado a isso em tempo integral por sete anos e não tenho uma resposta. Tudo o que posso fazer é me preocupar em descobrir mais dessas maravilhas para vender aos fãs que se importam com isso, e não com os porquês da indústria musical", desabafa Brodeen.
Álbuns Fundamentais Do Power Pop
O power pop pode ser facilmente
definido como música melódica, de refrão memorável, guitarra energética e
harmonia vocal perfeita adornando temas de amor. Isso pode, para alguns,
parecer claríssimo, com ‘exemplos musicais’ tocando automaticamente dentro da
caixola. Mas outros podem dizer: “Sim, e daí? A mim não disse nada, não consigo
imaginar tal som”. Usaremos, então, as obras fundamentais (seleção pessoal) do
power pop, para contar um pouco da trajetória do estilo, dos primórdios, nos
anos 60, aos dias atuais. Um ‘quem é quem’, com o que fez, como fez e porque
virou história.
The Beatles - With The Beatles ( 1963 )
A faixa “It Won´t Belong” abre o disco e inaugura todos os conceitos
básicos do que viria a se chamar power pop. Riffs marcantes, melodia colante e
letra ingênua camuflada em duplo sentido: “Não vai demorar até que eu pertença
a você, yeah, yeah”.
The Beach Boys - Pet Sounds ( 1966 )
Resultado da obsessão de Brian Wilson em superar criativamente os fab
four, “Pet Sounds” elevou os processos de composição e gravação a níveis nunca
antes alcançados. Temas adolescentes da surf music, como praia, garotas, carros
e festas, deram lugar a climas densos e relacionamentos fracassados,
direcionando a percepção musical para campos espirituais. O maior legado beach
boyniano ao power pop moderno são as angelicais, intrincadas e belíssimas
harmonias vocais.
The Zombies - Odessey And Oracle ( 1968 )
Bíblia de cabeceira de qualquer power popper que se preze, muitas vezes
mais influente que o próprio Beatles. Alcançaram o olimpo da melodia, com
pitadas de psicodelismo, melotron personalíssimo e direcionamento pop. “Care Of
Cell 44”,
“Beechwood Park”, “Brief Candles” e “Hung Up On A Dream”, são algumas das
maiores canções pop perfeitas de todos os tempos. Na época não tiveram o reconhecimento
esperado, o que levou, como sempre nesses casos, ao fim prematuro da banda.
The Raspberries - Collector Series ( 1971-75 )
Coletânea com os quatro álbuns da
banda de Ohio. Inclui seus maiores hits, como “Go All The Way”, “I
Wanna Be With You” e “Overnight Sensation”. Eric Carmen e suas framboesas viraram referência de toda
uma geração ao ir com desenvoltura da pegada rocker à balada romântica sem
perder a intensidade melódica.
Big Star - #1 Record/Radio City ( 1972-73 )
Os dois primeiros álbuns condensados em um CD. Dez entre dez
bandas power pop veneram Alex Chilton e seu Big Star. À época considerado um
sub-beatles, o grupo só colheu veementes fracassos comerciais. Foram precisos
20 anos para que seu apuro melódico, personalidade ‘soul’ e hits potenciais
fossem reconhecidos.
Badfinger - Wish You Were Here ( 1974 )
Segundo álbum lançado sem o carimbo maçã-verde da Apple, o que em parte
contribuiu para afastar a sombra
intimidadora da comparação com a banda dos ex-patrões “Wish...” traz um
Badfinger mais seguro e confiante de que eram mais que uma pálida cópia dos
Beatles. Segurança afirmada na beleza melódica de “Love Time”, no refrão
candidato a hit de “Meanwhile Back At The Ranch Should I Smoke”, no hino rocker
setentista “Just A Chance” ou no clima galopante country-pop de “Your So Fine”.
A nota triste: o guitarrista e vocalista Pete Ham se suicidaria meses depois.
The Records - Smashes, Crashes And Near Misses ( 1977-1982 )
Smashes, Crashes And Near Misses
é a coletânea definitiva do Records, abrangendo toda a curta carreira dos
britânicos (1977-1982) e apresentando 20 faixas pinçadas de seus três LPs –
Shades In The Bed, de 79; Crashes, de 80; e Music On The Both Sides, de 82.
Como as aparências enganam, inícios arrebatadores também. Sua primeira
gravação, o single “Starry Eyes”, se transformou em quase-hit nos Estados
Unidos e é considerado até hoje seu maior clássico. Vocal macio, melodia
ganchuda, riffs matadores. “Teenerama’, outro clássico instantâneo, valoriza
harmonias vocais sessentistas e oferece pegada energética nas guitarras. A
nobre intenção de se fazer seguidores dos artífices do power pop setentista,
Raspberries, Badfinger e Big Star, não salvou o Records da armadilha oitentista
do estilo: eles eram pós-punk, mod, new wave ou power pop? Claro, hoje, olhando
em retrospectiva, eram puro pop, power pop genuíno, garantindo lugar honroso em
qualquer galeria de clássicos do estilo.
Cheap Trick - Authorized Greatest Hits ( 1975-1990 )
Coletânea que abrange 15 anos de carreira da maior, “power pop arena band”
do mundo. Apesar de ser um nome referencial, o Cheap Trick não é exatamente uma
banda pura de power pop. Reúne fortes elementos de new wave, hard rock e
trabalha com temas irônicos e irreverentes. Emplacou seis álbuns no top 100 da
Billboard – o ao vivo Cheap Trick At Budokan alcançou a 4ª posição – e seis
singles na mesma parada – com a faixa que abre “Authorized Greatest Hits”, “I
Want You To Want Me”, atingindo o 7º lugar.
Teenage Fanclub - Bandwagonesque ( 1991 )
Nunca antes havia se fundido tão harmoniosamente melodia e distorção em
uma só peça. Pérolas pop de melodias angelicais entremeadas pelo poder do pedal
Hat de distorção. Clássicos como “The Concept”, “What You To Me” e
“Alcoholiday” injetaram energia e vitalidade nas veias do anêmico power pop de
então.
Material Issue - International Pop Overthrow ( 1991 )
Jim Ellison (guitarrista/vocalista) tirou a própria vida antes de ver
“International Pop Overthrow” em listas de obras fundamentais do power pop. O
álbum reciclou e mesclou suas influências sessentistas (Beatles) e setentistas
(Cheap Trick, Big Star), transformando-se em uma usina de hits. A urgência juvenil
imprimiu refrãos pegajosos e pungentes à coleção de títulos com nomes de
garotas: “Diane”, “Valeria Loves Me”, “Renee Remains The Same” e “Li’l
Christine”.
Weezer - Weezer ( 1994 )
Isso mesmo. Weezer é power pop, e dos mais representativos. É só ouvir
com atenção, está tudo lá: distorção cortejando a melodia; voz limpa e belas
harmonias vocais; batida energética e empolgante. “Weezer” ou “álbum azul”, é
referência inclusive no cenário nacional. Pergunte ao pessoal do Bidê ou Balde
e Vídeo Hits. E, ao Marcelo Camelo do Los Hermanos, quantas vezes ele ouviu
esse disco antes de compor Anna Júlia. E Anna Júlia é power pop, lembra?
Greenberry Woods - Big Money Item ( 1995 )
Como: Não, não é uma coletânea. Nem um Best Of, nem uma compilação de hits pop.
É um álbum simples, mas bem poderia ser tudo isso aí em cima. Trata-se de
“Big Money Item” de 1995, o segundo e último disco do Greenberry Woods. Que me
desculpem os puritanos ou saudosistas, mas você está diante de uma das maiores
bandas de power pop da história. E de uma das grandes coleções de canções pop
perfeitas de todos os tempos. Mais uma vez a frustração, seguida por ambições
pessoais, determinou o fim prematuro, um ano depois, de uma das grandes
promessas do pop mundial.
Matthew Sweet - 100% Fun ( 1995 )
A crítica especializada diria que
o álbum “Girlfriend” de 1991 é que deveria figurar nesta posição. Mas o ano de
91 se encontra muito bem representado por “Bandwagon...” e “I.P.O.”, permitindo
que 100% Fun faça as honras da casa. Apresentando o hit “Sick Of My Self” e
gemas pop como “Not When I Need It”, “We’re The Same” e “Come To Love”, o
guitarrista americano e power pop hero Matthew Sweet, passeia por harmonias
beatlenianas, melodias muito próximas às bandas do rock alternativo ianque e um
timbre de voz entre Bob Mould (ex-Hüsker Dü e Sugar) e Michael Stipe do REM.
The Shazam - Godspeed The Shazam ( 1999 )
Meninos de ouro da Not Lame – maior gravadora especializada em power pop
do mundo – o Shazam é provavelmente uma das bandas power pop mais respeitadas e
cultuadas da América. Em “Godspeed The Shazam”, seu segundo álbum, o power trio
assombra pela facilidade em unir timbres, sonoridades e peso do rock setentista
com a sutileza melódica dos anos 60. Atualmente estão com “Goodbye American
Man” (faixa de seu último disco, “Tomorrow The World”) estrelando, como trilha,
a campanha publicitária, em rede nacional, da tradicional cerveja americana
Coors.
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