quarta-feira, 4 de julho de 2012

A Historia Do Power Pop ( Parte II )


Garotinhos curiosos, com os dedos empoeirados de tanto fuçar a coleção de LPs dos pais, povoavam milhares de lares nos anos 70. Fascinados pelos detalhes da capa de Sgt. Peppers dos Beatles (e depois estupefatos com os detalhes sonoros que emanavam do vinil), se apaixonaram pela banda de Lennon e McCartney e toda a revolução músico-cultural que acompanhou a história do quarteto inglês. Os garotinhos cresceram, formaram bandas e prestaram a homenagem. É a nova geração do power pop. A estética sessentista revive, 30 anos depois, principalmente calcada no chamado 'som Beatles'. Bandas americanas como The Mockers, Cloud Eleven, Gigolo Aunts e Orange Peels, se esmeram na constante busca da canção pop perfeita. A forte influência setentista, esculpe o som, das também americanas, Chewy Marble, Vandalias, The Shazam e Jupiter Affect. Fundamentalmente a cena mundial do power pop se concentra na terra do Tio Sam. Mas grandes bandas têm surgido em vários pontos do globo, como: You Am I na Austrália; Sloan e The Flashing Lights no Canadá; Silver Sun e Supernaturals na Escócia; Cecilia Ann e Cooper na Espanha; The Merrymakers e Drowners na Suécia. Todos jovens nem nascidos enquanto, por exemplo, os Beatles estiveram ativos. E hoje buscam apaixonadamente a possibilidade de reviver épocas onde a juventude era mais ingênua, espontânea e original. Os noventa querendo ser sessenta. 

 
Em um mundo onde prevalece a lógica do 'menos é mais', esperto é o infiel, 'vida boa' é o golpista; popular pode ser o que se vende, o que engana, o que vai güela a baixo. E a pergunta não cala: Por que o power pop como estilo dos mais assobiáveis, com refrãos memoráveis e melodias adesivas, esteticamente puro pop, não é popular? Chris Colingwood, guitarrista da banda americana Fountains Of Wayne tem sua tese: "Toda a mídia (rádios, gravadoras, TVs, revistas) está dominada por algumas grandes corporações americanas. Se é bem mais fácil vender 100 clones da Britney Spears, é nisso que eles irão investir". Há quem ache, como James Broad do Silver Sun, que o problema é do próprio estilo, por ser muito derivativo. Talvez essa seja uma visão vaga e simplista demais. Já David Bash, idealizador do maior festival power pop do mundo - o International Pop Overthrow - e que sempre militou na cena por amor à música, se mostra o sonhador de pés no chão: "Os grandes selos parecem não acreditar que há uma viabilidade ou talvez um grande e suficiente público para a power pop music. Eles acreditam que os garotos não iriam comprar porque não é [a música] "nervosa" suficiente. Mas a verdade é que toda vez que toco power pop para o público mainstream, incluindo a garotada, eles simplesmente amam! Gostaria que os grandes selos e as rádios acordassem para esse fato!" Está dado o recado, David.

Fora em fenômenos isolados, dificilmente o power pop terá apelo comercial relevante no mundo atual da música. O bom mocismo, a postura às vezes cínica, mas quase sempre politicamente correta, a falta da rebeldia agressiva e ostensiva afasta o público juvenil. E a melodia doce, os temas de amor, os arranjos simples e a visão ingênua e sonhadora da vida acaba não interessante ao ouvinte mais 'maduro'.Enquanto oferecer uma flor à namorada for brega, devolver troco errado for coisa de otário, e se emocionar com a canção preferida for boiolice, o power pop estará, irremediavelmente, fora de qualquer moda. 
 
O Festival mais pop - International Pop Overthrow

 
"Por favor refaça suas perguntas, onde aparece o termo 'power pop', tire o 'power'", respondeu David Bash, chefão e idealizador do International Pop Overthow, depois de checar as nossas perguntas enviadas por e-mail. Ok, David, podemos até suprimir a tal palavrinha, mas seu festival é reconhecidamente o maior festival power pop do planeta. Além do nome, IPO, ser uma homenagem a um dos ícones do estilo. O próprio David confessa: "Sim, o nome [que foi tirado do clássico álbum do Material Issue], é uma homenagem ao líder do Material Issue, Jim Ellison, que tirou a própria vida um pouco antes de eu começar o festival".

O IPO reúne todo ano, no mês de julho, cerca de 140 bandas de todo o mundo. Durante uma semana são realizados centenas de shows em vários locais diferentes na área de Los Angeles. "Nosso objetivo é reunir a cena pop [sem o 'power'] de todo o mundo.

Muitas bandas que nunca souberam da existência uma da outra têm tido a oportunidade de se conhecerem. Também nos esforçamos para fazer o estilo penetrar nos ouvidos e corações do público mainstream", explica Bash. Pela primeira vez o IPO juntou mala e cuia e botou o pé na estrada. Rodou por Nova Iorque e Chicago, como conta Bash: "Fizemos o IPO de Nova Iorque em dezembro de 2001 e o de Chicago em abril último, e ambos foram ótimos, especialmente o de Chicago! O próximo passo é levar o festival a Londres e Barcelona". Aí, com o giro internacional, a abreviatura IPO só ficará precisando de mais um "P" para estar plenamente justificado. O "P" de power. 


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