quinta-feira, 12 de abril de 2012

SHAM 69 - Historias de uma Banda de suburbio





O Sham 69 nasceu em 1976, na cidadezinha de Hersham, no sudoeste de Londres. A idéia do nome veio duma pixação num banheiro público homenageando um ano especial para o time de futebol local, Walton & Hersham '69, que o tempo tinha abreviado. A formação inicial tinha Jimmy Pursey, o guitarrista Dave Parsons, o baixista Albie Slider e o baterista Mark 'Dodie' Cain. Inspirados pelo movimento punk que emergia, porém menos "artístico" e mais ligado a suas raízes da classe trabalhadora, o Sham 69 comecou a espalhar amostras de seu som energético por todas as casas de show de Londres e arredores. Nessa época fértil, não demorou muito para que uma legião fiel e um contrato com a Step Forward Records aparecessem.

O primeiro single "I Don't Wanna" saiu em setembro de 1977. As letras emocionantes sobre o dia a dia, os refrões "singalong" que parecem hinos para serem cantados em coro num jogo de futebol e uma guitarra marcante e melódica trouxeram também um gênero que inspiraria uma corrente punk das mais vigorosas: o street punk, a música das ruas, da classe trabalhadora e também dos skinheads. Esse estilo que estava também sendo feito por outros como o Cock Sparrer, influenciaria bandas como o Angelic Upstarts, Infa-Riot e o Cockney Rejects que foi o primeiro a ser chamado Oi!.

A identificação do Sham 69 com esse estilo (e com os skinheads) trouxe não só um contingente de seguidores mas também certos estigmas não muito desejados pela banda: violência, racismo e todo tipo de intolerância. Vários incidentes começaram a acontecer nos shows mas por hora isso não afetava a trajetória da banda. 

Logo veio uma nova gravadora e um baixista: Polydor Records e Dave 'Kermit' Tregenna respectivamente. Em fevereiro de 1978 sai o single "Borstal Breakout" e em seguida o LP "meio ao vivo/meio estúdio" "Tell Us The Truth" que chegou ao 25º lugar entre os mais vendidos Reino Unido. Vários singles clássicos mantiveram o Sham 69 na parada inglesa nessa época: "Angels With Dirty Faces", "Hurry Up Harry" e "If The Kids Are United". Esse último é até hoje uma das músicas mais fantásticas do punk, com uma mensagem que mostra o quanto o Sham 69 estava tentando fugir das atitudes de boa parte de seu próprio público. Aproveitando o embalo, o segundo LP "That's Life" fica novamente entre os 30 mais vendidos.

O revés do sucesso começou a mostrar a cara: shows cancelados e até interrompidos no meio a pedido dos próprios integrantes. O motivo: violência por parte do público, as vezes confrontos ideológicos mas na maioria violência por violência mesmo, fora do controle. Cansados disso, os integrantes da banda resolveram dar um tempo aos shows e, entre rumores de mais um fim precoce na história do punk, dedicar-se às gravações do novo disco. Em março de 1979, sai o fantástico "Questions & Answers" e em seguida o maior "hit" da banda em sua história, "Hersham Boys" que chegou ao sexto lugar entre os singles mais vendidos na Inglaterra. Logo vem o LP "The Adventures Of Hersham Boys" e após alguns shows com os ex-Sex Pistols Paul Cook e Steve Jones, a banda foi batizada pelo público de 'Sham Pistols" com novos rumores do fim à solta.

Com o Sham 69 ainda afastado dos palcos e Jimmy Pursey trabalhando na produção dos discos dos Cockney Rejects, Angelic Upstarts e The Chords, muitos acharam que o vocalista ia deixar a banda e virar produtor. Novamente os rumores estavam furados e, com a entrada do baterista Ricky Goldstein ex-Automatics, o Sham 69 lançou o quarto LP "The Game" que foi um fracasso em vendas, mal aceito pelos fãs e arrasado pela crítica, algo totalmente injusto para um disco que inclui clássicos como "Tell The Children" e "Give a Dog a Bone". Dessa vez, no meio do 1980, a banda anunciou oficialmente seu fim. Jimmy Pursey continuou produzindo outras bandas e lançando discos solo bem aceitos. O primeiro foi ainda em 1980, Imigration Camouflage, que foi seguido por Alien Orphan (1982), Revenge is Not the Word (1983) e Lord Divides (1983). Dave Parsons e Dave Tregenna formaram o Wanderers com Stiv Bators do Dead Boys. Tregenna prosseguiu com Bators no The Lords Of The New Church. Ricky Goldstein encarnou 'Ringo Star' como membro dos Bootleg Beatles, algo como o Beatles cover!

E tudo ficou assim até 1987 quando Jimmy Pursey e Dave Parsons voltaram a ensaiar para um ano depois formarem a nova encarnação do Sham 69 com os desconhecidos Ian Whitehead na bateria, o baixista Andy Prince, o tecladista Tony Bic e a saxofonista do Controlled Bleeding, Linda Paganelli. Pela presença de teclado e sax, fica óbvio que as coisas tinham mudado após 7 anos. O novo Sham mostrou isso no disco "Volunteer" que saiu nesse mesmo ano (1988), um disco muito pop, sem pontos altos e considerado pela maioria dos fãs como o pior disco da carreira da banda.
 

Apesar da decepção com o LP, a banda continuou mostrando seu street punk em shows e vários discos ao vivo muito bons lançados entre 1988 e 1992 quando saiu Information Libre (re-lançado em 1995), dessa vez com um som bem mais parecido com o Sham 69 que todos conheciam, mantendo a formação de 1988. Depois vieram Soapy Water & Mister Marmalade e The A Files de 1997. A banda continua tocando e lançando raridades e discos ao vivo, mostrando o compromisso dos Hersham Boys Pursey e Parsons com sua música e seu público. Pelo número de grandes bandas de Oi! e punk rock que se dizem influenciadas por essa banda, fica difícil dar a sua dimensão e apesar de mal-entendida em vários momentos da carreira, o que o Sham 69 tentou realmente passar ficou nas cabeças e mentes de quem curtiu e curte a banda


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