sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Punks & Hippies

Eleito pela revista Time um dos norte-americanos mais influentes do século XX, Edward Bernays foi o criador da propaganda moderna. Ele utilizou as ideias de seu tio, Sigmund Freud, para manipular as emoções e os desejos das massas. Bernays acreditava que, ao conhecer as motivações das pessoas, seria possível influenciar seu comportamento sem que elas se dessem conta disso. Ao vincular bens materiais a desejos inconscientes, Bernays ensinou às indústrias como fazer as pessoas desejarem algo de que não precisam de fato.

A propaganda não se limitaria mais a apresentar o produto e a informar sobre suas qualidades. Agora, a publicidade teria o objetivo de influenciar a audiência, produzindo respostas emocionais e não racionais aos produtos. Nesse momento, surge a noção de consumismo como é compreendida atualmente, tornando-se uma forma de explorar mentes, emoções e identidades das pessoas. Medos e inseguranças são manipulados de modo a serem traduzidos em desejos de produtos materiais, e a sociedade é então condicionada a desejar sempre além.

Para aumentar o desejo das pessoas, o consumismo instiga as inseguranças e as carências emocionais, gerando cada vez mais ansiedade e depressão nos indivíduos. Tal fato ocorre pois a propaganda na cultura consumista é baseada em uma falsa promessa de felicidade. Os bens materiais são vendidos como uma forma de suprir carências que não são do âmbito material. Estimula-se a busca da solução de problemas emocionais através da aquisição de produtos comerciais. A propaganda vende a ideia de que mais produtos nos farão mais amados, mais estimados, mais felizes e mais valorizados. A verdade é que, quanto mais tempo o indivíduo gasta focado na aquisição dos bens, menos tempo ele possui para cultivar vínculos afetivos com a família, os amigos e a comunidade.

A dinâmica “mais produtos = menos vínculos” não foi pensada ao acaso. Bernays acreditava que as massas eram irracionais e perigosas e que deveriam ser controladas. Para ele, a democracia sem o controle da população configurava um fator de risco para a estabilidade social. Nesse sentido, seu método de propaganda buscava manter as massas ocupadas em busca da felicidade através de bens materiais. Quanto mais o consumismo é estimulado, menos as pessoas se interessam pela participação ativa na política.

Na cultura consumista, as pessoas são induzidas a acreditar que a felicidade não depende do Estado ou da sociedade, mas dos produtos criados pelas empresas. O cidadão que busca a realização pessoal através da participação política transforma-se no consumidor que passivamente aguarda as empresas realizarem seus desejos. A liberdade política torna-se então a liberdade de consumir. Dessa forma, a combinação de democracia e consumismo é a fórmula perfeita para manter o povo longe do poder e preservar o status quo.

 Além da apatia política, a cultura consumista estimula o egoísmo, a inveja e promove a desagregação social. Em uma sociedade baseada no consumismo, não basta ter o suficiente para viver bem; o consumismo é comparativo. Assim, manipula-se o desejo a fim de possuir mais do que o outro: mais do que o vizinho, mais do que o colega de trabalho, mais do que as pessoas que aparecem nas mídias sociais e tradicionais. Isso gera uma infinita insatisfação e um ciclo de consumo cada vez em proporções maiores. As pessoas tornam-se isoladas, centradas nos próprios desejos; e, por sua vez, a sociedade é construída de forma mais fragmentada.

O consumo tem se consolidado como o objetivo central da vida pessoal, arregimentando as esferas do lazer, da cultura, da vida social e familiar. Os shoppings estabeleceram-se como novos templos de dedicados súditos, espaços nos quais as pessoas reúnem-se, consomem e passam seu tempo livre. Entretanto, deve-se observar que, ao contrário dos antigos templos e das praças públicas, nos shoppings a vida social se empobrece e é reduzida ao simples ato solitário de comprar.

Porém, o consumismo nem sempre triunfou sem oposição. Algumas vozes dissonantes surgiram no decorrer do século XX. Dentre elas, as mais expressivas estão ligadas à cultura hippie nos anos 1960, e do movimento punk, nos anos 1970.

A cultura hippie floresceu nos anos 1960 nos EUA, epicentro do consumismo. Os hippies rejeitavam as hierarquias e as instituições estabelecidas, contestavam os valores da classe média, opunham-se às armas nucleares e à guerra e eram comumente vegetarianos. Eles utilizavam-se de artes alternativas como o teatro de rua e o rock psicodélico para expressar suas ideias e valores. Opondo-se à política tradicional, cultivavam ideias não doutrinárias e libertárias em favor da paz, do amor e da vida em comunidade.

Desiludidos pela sociedade moderna extremante individualista, egoísta e competitiva, decidiram viver em comunidades próprias e independentes, adotando um estilo de vida coletivo que estimulava a cooperação e a comunhão com a natureza. Nessas comunidades, as decisões são consideradas coletivamente, não havendo hierarquias, e todos os participantes exercem alguma função. Adota-se como prática o cultivo dos próprios alimentos e o comércio ocorre entre os moradores através da troca ou da permuta.

Já a cultura punk surgiu nos anos 1970 nos EUA e na Inglaterra. Ela se caracteriza por ser um movimento extremamente urbano que, de forma ampla, defende uma visão anarquista centrada na autonomia do indivíduo, opondo-se à mídia tradicional, ao Estado, às instituições religiosas e às grandes corporações capitalistas.

A primeira manifestação cultural do punk foi no âmbito musical. O punk rock surge como a retomada de um estilo autêntico, no qual o mais importante é a expressão individual, pois os membros estavam profundamente decepcionados com a cena do rock que, na época, se mostrava vinculada à grande indústria da música. O showbizz americano e inglês tinha como preocupação produzir estrelas e divulgá-las em grandes shows, criando artistas que, na visão dos punks, careciam de autenticidade.

Assim, a cultura punk começou a produzir músicas curtas e bastante simples, tocadas com pouco mais do que três acordes, sendo facilmente reproduzidas por qualquer pessoa sem formação musical. Essa concepção musical tinha como objetivo instigar outros jovens a criar suas próprias bandas. Surgia então uma grande expressão do anticonsumismo: a cultura do “faça você mesmo” (do inglês do it yourself – DIY).

O princípio do “faça você mesmo” relaciona-se ao questionamento tanto da necessidade de comprar coisas quanto dos processos existentes que impulsionam a dependência do indivíduo às estruturas sociais vigentes. De acordo com a cultura punk, os indivíduos podem se expressar e produzir trabalhos sérios, ainda que com recursos limitados. As bandas punks gravavam suas próprias músicas, produziam e distribuíam os álbuns, e se apresentavam em garagens ou em porões, evitando o controle das grandes corporações e assegurando a liberdade de suas performances. Suas ideias circulavam através de fanzines, isto é, publicações caseiras realizadas, editadas e distribuídas por fãs.

Aparentemente, esses dois movimentos culturais perderam a força inicial após alguns anos, tendo sido, de certa forma, assimilados pela moda e pela sociedade consumista, ainda que isso soe paradoxal. Entretanto, pode-se afirmar que suas ideias demonstravam força suficiente para, cinquenta anos depois, ressurgirem como uma possibilidade alternativa à atual cultura de consumo.

Na verdade, longe de estarem esquecidos, muitos desses valores permanecem na nossa cultura em áreas inusitadas. É possível afirmar que a contracultura dos anos 1960 promoveu o desenvolvimento do computador pessoal e a organização da internet. A concepção de uma grande rede mundial sem fronteiras, sem qualquer autoridade central, na qual indivíduos são livres para compartilhar informações, deve-se à influência hippie da cultura americana. Os valores hippies baseados nas ideias de comunhão e de colaboração mostram-se cada vez mais presentes no mundo virtual e tecnológico. Exemplo disso são os sites de construção coletiva estilo wiki; bem como os softwares livres e de código aberto, nos quais todos podem contribuir livremente e de forma espontânea para o desenvolvimento, o compartilhamento, a edição e a difusão de ideias e de conhecimento.

Na sociedade contemporânea, a internet permite o compartilhamento de ideias, tornando-se um instrumento capaz de estimular novas formas de consumo e de conexão entre as pessoas. A noção de consumo colaborativo vem crescendo em meio à troca de ideias, pondo em cena práticas alternativas que envolvem trocar, emprestar, reusar e revender objetos. Torna-se cada vez mais comum grupos que se organizam e se reúnem a fim de trocar roupas, brinquedos e livros; planejando caronas; compartilhando carros e aparelhos eletrônicos; praticando a permuta de serviços; fazendo uso do sistema de book crossing ou couchsurfing. As atividades são realizadas e negociadas diretamente entre as pessoas, estimulando os laços de comunidade e permitindo viver bem com menos dinheiro. Em tais práticas, o indivíduo é valorizado pelo modo como interage com a comunidade, marcando o surgimento de um novo tipo de capital: o capital social.

O movimento do “faça você mesmo” hoje é mais presente do que nunca. Através de vídeos e aulas pela internet, na rede é possível ter acesso a possibilidades infinitas de aprender a produzir e a divulgar suas próprias realizações, fugindo da cultura passiva consumista e buscando a realização pessoal de forma ativa. Hoje pode-se plantar vegetais em casa, fazer cerveja caseira, costurar as próprias roupas e até mesmo produzir objetos manufaturados.

A produção pode ser individual ou coletiva, e os objetos podem ser feitos para o próprio consumo ou para a venda, pois o século XXI aumentou a produtividade da produção de pequena escala. Pode-se exercitar a criatividade, desenvolver novas habilidades e talentos e a criatividade em novas formas de produzir bens de consumo. A ética do “faça você mesmo” dá poder aos indivíduos e às comunidades, encorajando o emprego de abordagens alternativas para a solução de problemas.

Assim, observa-se que a sociedade consumista enfraquece os laços sociais, estimula o individualismo, e retira a autonomia dos indivíduos, que se tornam consumidores passivos, cujo único poder é a escolha entre a marca A ou a marca B. Em contrapartida, a cultura hippie e seus ideais fortalecem a ideia de coletividade e de colaboração. O princípio do “faça você mesmo” estimula a autonomia, dá poder e liberdade aos indivíduos.

Um novo modelo cultural pode entrar em cena, criado à luz de ações que priorizam a partilha de produtos e de conhecimentos, a produção de bens de consumo, e o comprometimento crítico por seu modo de vida, a fim de consolidar conexões sociais e comunitárias.

Meio século depois do surgimento dos hippies, eles e os punks são mais atuais que nunca: já temos todas as ferramentas que possibilitam promover uma sociedade mais feliz, socialmente mais justa e ecologicamente sustentável, bem como o desenvolvimento de uma economia de abordagem essencialmente humana, e não simplesmente monetária. Teremos coragem para usá-los?

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Chave de Cadeia


USA Garage Greats 60 ‘s



O melhor Blog de musica da internet ( twilightzone-rideyourpony ) resolveu copilar em vários volumes as bandas de fundo de quintal dos anos 60 , as famosas Garage Bands....os primórdios da revolução punk que surgiria anos depois , junto com as indispensáveis Nuggets e Pebbles formam um verdadeiro tesouro musical , bandas que muitas vezes não passavam de um compacto simples , mas que  juntas formaram uma massa sonora...um semente de rebeldia plantadas nos corações jovens inquietos  ...todos os volumes são fantasticos , na dúvida baixe um para experimentar...duvido resistir ao encanto

USA Garage Greats 60 ‘s - Get Off  My Back

USA Garage Greats 60 ‘s - Total Rauch

USA Garage Greats 60 ‘s - Empty heart

USA Garage Greats 60 ‘s - Wild About You

USA Garage Greats 60 ‘s - No Count

USA Garage Greats 60 ‘s - Gotta Be

USA Garage Greats 60 ‘s - Baby Whats
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USA Garage Greats 60 ‘s - Dont Press
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USA Garage Greats 60 ‘s - I Lost You
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USA Garage Greats 60 ‘s - It Couldnt
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USA Garage Greats 60 ‘s - Jack The
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USA Garage Greats 60 ‘s - Flash In The Pan

USA Garage Greats 60 ‘s - Feelin Bad

USA Garage Greats 60 ‘s - In My Grave

USA Garage Greats 60 ‘s - I Said Move

USA Garage Greats 60 ‘s - 60 Seconds Swinger

USA Garage Greats 60 ‘s - Love Fades Away

USA Garage Greats 60 ‘s - Out Of My Head

USA Garage Greats 60 ‘s - Girl Its Over

USA Garage Greats 60 ‘s - How Many Times

Usa Garage Greats 60 ‘S - Go!

Usa Garage Greats 60 ‘S - Bustin Rocks

Usa Garage Greats 60 ‘S - Cant Tame Me

Usa Garage Greats 60 ‘S - Stay Away

Usa Garage Greats 60 ‘S - Blue Girl

Usa Garage Greats 60 ‘S - The Way I Feel

Usa Garage Greats 60 ‘S - Calm Me Down

Usa Garage Greats 60 ‘S - Instant

Usa Garage Greats 60 ‘S - The Cat

Usa Garage Greats 60 ‘S - You Lied

P.S - São quase 100 Volumes...vocês querem Mais ?

Grito Primal



“Wop-bop-a-loo-lop a-lop-bam-boo

Tutti Frutti, all over rootie,.....

Tutti Frutti, all over rootie,.....

A-wop-bop-a-loo-lop a-lop bam boo!”

Dica de Leitura - Esquina Maldita



Na Esquina Maldita (Avenida Osvaldo Aranha com a Rua Sarmento Leite), prosperou nos anos 1960 e 1970 um gueto boêmio com vida intelectual inquieta e independente. Nele, duas vertentes – a dos que pretendiam mudar o mundo e a dos que propunham revolucionar a própria vida – produziram uma boemia com ares existencialistas, que oscilava entre o proselitismo e a porra-louquice. Esse traço distingue a Esquina Maldita na cena noturna de Porto Alegre em sua época.

Uma dos livros mais legais que li nos últimos tempos......

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Cowabunga! The Surf Box ( Box Set ) 4 CDs



Da Série - Coletaneas Essenciais



CD 1: Ground Swells 1960-1963

CD 2: Big Waves 1963

CD 3: Ebb Tide 1963-1967

CD 4: New Waves 1977-1995

Pass: punkypaatin_sk8

MC 5 - Discografia Completa




Detroit é, até hoje, o coração do meio-oeste norte-americano. Após a Segunda Grande Guerra, a cidade viveu seu “boom” particular. Uma cultura industrial nasceu em torno dessa “máquina”, somando-se a isso a chegada de muitos imigrantes foragidos da Segunda Guerra e da Coréia. Aterrissaram aos montes nas cidades do norte para trabalhar nas fábricas. Nesse cenário, uma nova atitude e uma nova música jovem surgiram. Todos tinham emprego e a cidade prosperava. Talvez por isso, mais do que em qualquer outra cidade americana no mesmo período, os brancos e negros dialogavam abertamente. Detroit era uma cidade operária aberta ao novo, sem distinção de raça ou classe social. No início dos 60 os grandes nomes eram Duane Eddy, the Ventures, Beach Boys do começo, Motown, Stax, Otis Redding até a chegada da invasão inglesa, que incentivou a molecada a fundar bandas e mais bandas.

Fundado em Detroit no ano de 64/65 pelo vocalista Rob Tyner (durante a adolescência Tyner pegou emprestado o nome do pianista do John Coltrane, McCoy Tyner, para seu nome artístico) e pelos guitarristas Fred Smith (que tocava bongô antes das cordas) e Wayne Kramer (que ensinou Fred a tocar guitarra), a banda ainda contava com Bob Gaspar na bateria (já falecido) e Pat Burrows no baixo, que não desejavam findar seus dias como operários. Esse primeiro batera saiu reclamando: “Tenho que ficar dando porrada na bateria porque esses caras tocam cada vez mais alto! Tô fora!”. Michael Davis, que não foi o primeiro baixista, só entrou na banda porque usava botinhas iguais às dos Beatles (o que impressionou Kramer) e porque o baixista original ficou passado com Kramer alegando que não queria mais tocar aquela música maluca (a escola de Burrows era mais na praia da Motown, tipo James Jamerson) e caiu fora. Depois aterrissou o batera Dennis Thompson para completar a formação clássica.

No início, o MC5 era uma banda de covers (que tocava Who, Kinks, Them, Yardbirds, R&B, James Brown, Rolling Stones) com apenas uma canção inédita, a experimental e atonal “Black to Comm”, exatamente a mais “barulhenta”, que tornou-se a música que “expulsou” o baixista e o batera originais. A proposta musical do MC-5 não era só fazer barulho para entorpecer ouvidos, como pode parecer, mas sim trazer a liberdade artística e musical a todos. O conceito deles unificava linguagens aparentemente díspares como o rock and roll básico de Chuck Berry com o “freedom jazz” de figuras como Coltrane, Ornette Coleman, Albert Ayler e do louquíssimo Sun Ra, mais o soul de James Brown, a todo volume! George Clinton, do Funkadelic, comentou certa vez que, ao assistir o MC5 ao vivo, decidiu montar um grupo de negros que tocassem no mesmo volume, com o mesmo tipo de equipamento. Negros que influenciam brancos, que influenciam negros que influenciam...

A casa de shows que mandava na área era a Grande Ballroom, fundada pelo professor de Inglês e História Russ Gibb, que nas horas vagas era D.J. O sonho de Gibb foi trazer à cidade uma espécie de Fillmore, a grande casa de shows de rock da costa oeste dos Estados Unidos. O que faltava para Detroit era um lar para o rock and roll e a primeira banda residente passou a ser os “cinco”. A cidade ficou de pernas para o ar de uma hora para a outra. O MC5 se fez por lá com shows altíssimos e aterradores. Dennis lembra que eles adoravam tocar em um colégio católico da região porque colocavam no palco cabeçotes com oito caixas Marshall para as guitarras e mais duas cabeças Sunn para o baixo, isso sem microfonação para a bateria, o que obrigava Dennis a esmurrar o instrumento. O resultado de tantos decibéis era uma massa física impulsionada no ar pela força dos alto-falantes. O público adorava e o MC5 também, porque eles viam os chapéus das freiras (tipo Noviça Rebelde) balançarem por causa do impacto dessa massa sonora!

Todo mundo adorava, mas ninguém queria empresariá-los. O único que amou a banda de cara, e decidiu chamar a si essa tarefa, foi o maluquete/saxofonista/hippie John Sinclair que passou a utilizá-los como “pano de frente” da revolução. Sinclair trazia a rodo uma comuna hippie chamada Trans-Love (Energies) porque naquela época era importante fazer parte de uma família “alternativa”, que não fosse a tradicional. Entre 67/68, os Estados Unidos fervilhavam politicamente. Acreditava-se que a revolução era possível e que estava prestes a acontecer. Nixon e Vietnã. A (re)pressão da polícia acabou sendo tanta que a banda e a comuna se mudaram de Detroit para Ann Arbor, uma cidade bem mais tolerante, a quase cinqüenta quilometros a oeste.

Inicialmente o MC5 comungava com alguns princípios hippies de Sinclair, mas assim que assinaram com a Elektra para o primeiro disco, os Trans-Love foram sendo substituídos por um novo grupo político-reaça e a banda tornou-se a eminência não-parda dos Panteras Brancas (cujo lema era “rock’n’roll, drogas e f...r nas ruas”) que, como o nome diz, era a filial “branca-azeda” dos Panteras Negras, partido fundado em 66 para acabar com a discriminação contra os negros na base da violência e da luta armada.

O “ministro da defesa” do partido-versão-branca, (listado no disco ao vivo como Pun Plamondon) tentou explodir o escritório de recrutamento da CIA com uma bomba caseira. Os Panteras Negras chamavam essa versão do partido com branquelos revolucionários de “palhaços psicodélicos” e como está no livro Mate-me Por Favor, os MC5 treinavam tiro ao alvo no quintal da casa comunitária em que viviam, mais por diversão e por excesso de barbitúricos na idéia, do que por causas revolucionárias. No final das contas, para eles, e somente para eles, tudo não passava de diversão. Os shows foram acontecendo, os tumultos na platéia também, o nome da banda foi se espalhando, mas um evento deixou o nome MC5 na história musical e política dos States.

O caos aconteceu no Chicago Festival of Light em agosto de 1968. O cenário era esse: a banda protestava, em um curtíssimo set de apenas cinco músicas, contra a convenção do Partido Democrata que ocorria na cidade. A cena já estava montada quando a banda detonou seu show-protesto e o retorno veio sem se fazer esperar: garrafas voaram, a polícia sedenta por sangue e montada em eqüinos desceu o cacete no povo: power to the people e black is beautiful. A fama estava feita. O romancista Norman Mailer, cobrindo a Convenção para a revista Harper, descreveu o poder sônico dos cinco poeticamente: “As trombetas dos hunos fariam o mesmo barulho?”, além de acrescentar que “O ápice do ruído elétrico tornara-se o clímax eletro-mecânico de toda uma era”.

A Elektra correu para assiná-los, através do diretor artístico do selo, o amigo/gay/loucaço Danny Fields (que em 2002, disse ter transado com Pete Townshend, do Who naquela época). “Nós realmente acreditávamos que poderíamos mudar o mundo”, Kramer afirmou certa vez. “Queríamos crescer e ser como John Coltrane ou o Camarada Mao.” Um pouco distante dessa opinião, o vocalita Rob Tyner alegava que a “politicalização” em torno deles era apenas uma fantasia do empresário: “John Sinclair criou a ilusão de algo grande e forte atrás dele, para dar a impressão de que se alguém tentasse nos f...r, na verdade estaria f.....o com uma grande organização que te pegaria de jeito.”

O primeiro disco, Kick Out The Jams, gravado no reveillon Zenta (o que quer que seja isso) entre os dias 30 e 31 de outubro de 68 foi promovido com o slogan: “Fo..-se a Hudson” porque essa cadeia de lojas havia banido o álbum, exatamente pelo título chulo na capa. Tira o Motherfucker!, deixa o Motherfucker! A gravadora Elektra, assistindo o LP chegar ao trigéssimo lugar da parada como um foguete, decidiu recolher o trabalho por causa da canção-título, além de apagar o texto-bandeira do empresário John Sinclair da capa, e os demitiu ao iniciar a gravação do futuro segundo LP. Sinclair negociava um acordo para o segundo álbum, quando soube que a banda não poderia se apresentar no Miami Pop Festival, pois a polícia da Flórida expedira uma ordem de prisão para o grupo, caso eles colocassem os pés por lá.

A Atlantic os pescou (mas se arrependeu a posteriori) para lançar esse mesmo segundo álbum. Sinclair ainda trabalhava para que eles musicassem o trabalho Paradise Now do grupo experimental de teatro The Living Theatre. Tudo isso dentro do espírito coletivo plantado (?) pela comunidade Trans-Love em Michigan. Mal sabia Sinclair e o povo da comuna que os cinco estavam doidos para cair fora daquela galera toda, do Trans-Love e dos Panteras Brancas. A resenha do Kick Out The Jams feita por Lester Bangs na Rolling Stone decepcionou a banda. Eles esperavam a aprovação do grande Lester e o que o crítico disse é que Kramer não conseguia tocar e nem afinar a guitarra. Logo o homem que viria a babar o ovo do Raw Power, dos Stooges, anos depois, um disco essencialmente mal tocado (porém genial!).

Um pouco antes, o empresário Sinclair havia sido espancado pelos seguranças e policiais de um clube para adolescentes. Alguns afirmam que ele atraía confusão “Ele se queimava sozinho”, já sentenciou o baixista Michael Davis. O guitarrista Fred “Sonic” Smith apareceu para ajudar Sinclair, agredindo seu agressor. Julgados conjuntamente, Fred foi liberado e Sinclair sentenciado a dois anos e meio com cabeça raspada e tudo. Através de manobras jurídicas, Sinclair foi posto em liberdade mas logo depois foi preso por carregar duas baganas, a terceira detenção por posse de drogas, e o juizão não perdoou. Sinclair foi sentenciado a dez anos, sem apelação, isso em 69. O guitarrista Wayne Kramer sempre acreditou que a detenção e a posterior condenação já estavam armadas, trancafiando o louco do empresário para que a banda se calasse. Pelo baixista e pelo batera, o empresário poderia ter morrido na prisão.

Era uma primeira cisão no seio dos cinco. Foi aí, de uma forma indireta que os Beatles e o MC5 se cruzaram. Os ingleses brigaram em 70 também por causa de um (na verdade dois) empresário(s) e quando Sinclair foi preso, John Lennon escreveu uma música sobre essa detenção (no Sometime In New York City). Chegaram a organizar um concerto pela sua libertação, que teve um público de 125 mil pessoas. Depois Lennon iria se arrepender dizendo que Sinclair, liberto, era um mala.

Sem empresário, o MC5 se autogerenciou, afastando-se dos Panteras para gravar o segundo disco (primeiro de estúdio) chamado Back In The USA, produzido pelo crítico de rock da Rolling Stone Jon Laudau, que nunca havia produzido ninguém. Para muitos fãs (e para Sinclair também) esse é um disco quase arruinado pela produção muito limpa em relação ao primeirão, muito sujo. Davis lembra que Laudau os fazia repetir as músicas em busca de uma versão mais “correta”, mas eles nunca tocavam nada duas vezes igual, então esse método simplesmente não funcionava e o Back deixou, de alguma forma, isso claro.

Lançado em janeiro de 1970, o disco trazia clássicos absolutos como “Tonight” (o único compacto do LP, e que nem atingiu as paradas), “Teenage Lust” (a única canção coreografada como se vê no super-8 de Leni ex-Sinclair), “Looking At You”, “Call Me Animal”, mas que não alcançaram nem o sucesso e nem o respeito esperados. Nesse período, além da banda começar a perder espaço para novos grupos como o Grand Funk Railroad, os novos reis do barulho, o grupo se insurgiu contra a liderança natural do fundador Kramer. A partir dessa primeira crise, a gerência passou a ser dividida entre os dois tocadores de seis cordas, o que na prática não mudou muita coisa, apenas mais composições individuais, e menos coletivas, fizeram parte do repertório.

Após gravar um último trabalho, High Time (para os cinco, o melhor dos três álbuns e o disco que mais teve a cara de “Frederico Smithelini” ainda mais com o mais democrático produtor possível, Geoffrey Haslam) a banda terminou seus dias, melancolicamente. Michael e Rob não estavam mais com a banda na Europa dessa última vez. O baixista foi expulso (posto fora do carro no meio da estrada sem passagem de volta - se vira!, disseram) por estar muito mais doido do que os outros e Rob Tyner tinha uma família e a grana certa começou a falar mais alto e, sem cascalho na parada, nada feito. Dennis Thompson também não segurou a barra. O ressentimento nasceu entre os ex-amigos.

Após um último show no Grande Ballroom em Detroit, em um outro e derradeiro reveillon, só que em 1972, pelo cachê de quinhentos dólares, brigados, viciados e frustrados, cada um foi para o seu lado. Kramer ainda tentou remontar a banda com Fred para uma tour européia em 72 na qual os guitarristas foram acompanhados por uma baixista e um batera que nem conheciam, e com quem nem haviam ensaiado. A brincadeira parece que durou uma semana. Depois Kramer andou vacilando, roubando casa dos outros e traficando drogas e por isso tomou uma cadeiazinha. Os outros foram se agrupando por diversas outras bandas.

Logo depois do fim do MC5, Fred se reuniu com Michael que passou a cantar e a tocar um tecladinho Casio na banda Ascension com os auspícios do batera Dennis (um MC3?); Rob Tyner tentou remontar um novo MC5 sem os músicos originais em 77; anos depois o baixista Dennis montou o Destroy All Monsters, uma espécie de “Velvet mais Nico” com Ron Asheton dos finados Stooges; Kramer, depois da penitenciária, foi tocar no Gang War com o adicto Johnny Thunders, ex-New York Dolls; Fred tocou no Sonic’s Rendezvous Band e Dennis inventou um tal de “New Race”. A lista de bandas-pós-MC é enorme.

Os músicos só voltariam a se reencontrar, todos, em 91 quando foi organizado um concerto em benefício da família de Rob Tyner que falecera na pior, deixando a família que ele tanto protegeu, na maior pindaíba. Michael Davis cantou as músicas na ocasião, mas a banda não seguiu adiante. Terminaram na dor e se reencontraram na dor.

Voltando à prisão, Kramer lia alguns jornais ingleses que os chamavam de “pais do punk” durante os anos 70, mas o guitarrista tratava de dar, literalmente a descarga nos tablóides porque punk na prisão era alguém que dava o r... para os outros presos. Aí, a pergunta que não queria calar era: “Tu é punk?”...
 
A década de 60 é fascinante por diversos aspectos, entre eles o pretensamente revolucionário. O maior representante dessa estética rock e armas foi “os cinco da cidade motorizada” (Detroit), que unidos a um pregador revolucionário (Irmão Jesse C. Crawford ou M.C. Jesse Crawford), a um empresário hippie (John Sinclair), e a um partido de ultra-esquerda chamado “Os Panteras Brancas”, revolucionou o mundo do rock naquele distante ano de 1968 com muita panfletagem, som e fúria.

A lenda básica é essa: os cinco gritaram a plenos pulmões: “Kick out the jams motherfucker!” (algo como “Bota pra f...r, seu filho da p..a!) no seu antológico e primeiro disco ao vivo; e por isso - e outras coisitas revolucionárias a mais - foram dispensados pela gravadora. A banda migrou para outro selo, gravou mais dois discos sem muito sucesso e foi excursionar pela Europa onde tentou reavivar a chama. Pelas convulsões provocadas pelo cansaço, muitas drogas e brigas internas, o MC5 se desfez em 72. 

Babes In Arms (1968)

Kick Out The Jams (1969)

Back In The Usa (1970)

High Time (1971)

Teen Age Lust Live, Saginaw Michigan - 1970 (1996)

Starship Live At Sturgis Armory June, 1968 (1998)

66 Breakout! (1999)

The Big Bang The Best Of The Mc5 (2000)
Purity Accuracy, Box Set (2004)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Pra chorar


Não sei quantas vezes escutei essa musica na escuridão do meu quarto , esperando um dia encontrar a minha ramona...era um sonho quase impossivel , mas os Ramones ajudaram esse sonho virar realidade...obrigado