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O ROCK AND ROLL DE BOTECO , O Tio bebum do punk ou "Pub Rock".Pois é, muita gente diz que o punk nasceu nos EUA ( A mais pura verdade ) através de grupos como Ramones e New York Dolls, de fato, não há como negar a importância desses grupos no processo, mas do outro lado do oceano também haviam precursores como The 101ers, Eddie and the Hot Rods e Dr. Feelgood. Os motivos que justificam o nascimento do pub rock são exatamente os mesmos do punk rock: uma reação à cena musical da época, dominada por um rock de virtuosismos, em alguns casos até com elementos de música clássica (no caso do rock progressivo) e por bandas super produzidas. Para muitos, isso era inacessível e até um tanto quanto chato. Então foi uma retomada, algo tipo “voltando às raízes”, pregando uma música simples e de fácil assimilação, baseada em rock’n’roll, blues, rhythm and blues, country e até mesmo jazz, que poderia ser apreciada em pequenos pubs e clubes. Há duas grandes diferenças em relação ao punk: a primeira, é que não havia aquela preocupação com a contestação de valores, nem uma atitude agressiva, a coisa estava mais para o “just for fun”, ou seja: só por diversão. E a segunda, é que pub rock, não é um propriamente um estilo musical, mas a definição de um local onde essa música acontece, porque no final das contas Dr. Feelgood, Elvis Costello, Ace, Dave Edmunds, The Stranglers, Kilburn and the High Roads (Ian Dury), são, ou foram, considerados pub rock, mas musicalmente são bem diferentes entre si. O pub rock tem essa diretriz de simplicidade, sem determinar o tipo da sonoridade.
Isto posto, vamos ao que interessa: esta onda surgiu em meados dos anos 70, mais especificamente ao norte de Londres, numa cidade chamada Essex, na Canvey Island, em Southend on Sea. Terra natal do Dr. Feelgood, certamente o maior e mais emblemático grupo deste peculiar rótulo musical. O nome é uma gíria inglesa referente à heroína, também relacionado aos químicos (médicos) que preparam e/ou receitam a droga. Mas o Dr. Feelgood já foi tema de um post deste blog em 2007, e naquela ocasião não entrei em detalhes sobre a história dele, pois a saga já foi contada, e muito bem, pelo site Mofo, se alguém tiver interesse em conhecer a biografia do grupo é só acessar este link. No entanto, falar de pub rock ignorando Dr. Feelgood é o mesmo que ler a bíblia sem mencionar Jesus Cristo. Para não cometer esse disparate, vou focar o assunto em Wilko Jonhson, guitarrista da banda e um figuraça da minha mais alta consideração. Johnson tinha um estilo bem particular: armado de uma Telecaster preta, da qual tirava uns riffs meio cortados, sempre vestindo preto, usando um corte de cabelo em forma de cuia e se movia no palco em movimentos espasmódicos. Sua performance gerou diversos imitadores, tornando-se uma das imagens clássicas do rock. Seu estilo de guitarra era bem simples, mas combinava as funções de solo, ritmo e riffs quase que ao mesmo tempo como o gaguejar de uma metralhadora, alterando as concepções do “guitar hero”.
Ainda hoje ele mantém o mesmo estilo, a única diferença é a falta de cabelos, pois o cabra está “carequinha da silva”. Nascido como John Wilkinson, em 12 de Julho de 1947, Wilko Johnson é natural do berço do pub rock: Canvey Island. Foi educado na Westcliff High School e tocou em diversos grupos locais até se mudar para a Universidade de Newcastle onde estudou Inglês. Retornando a Essex, se juntou a Charlie Pigboy Band, que acabou se tornado Dr. Feelgood em 1971. Apesar da citação que fiz acima, a adoção do nome não é uma alusão direta à heroína, foi inspirada no pianista e cantor de blues norte-americano Willie Perryman (aka Piano Red) que em 1962 gravou uma música de sua própria autoria chamada "Dr. Feel-Good", adotando o pseudônimo de "Dr Feelgood & The Interns". Essa canção se tornou cover para algumas bandas britânicas da época, inclusive Johnny Kidd & The Pirates (uma das influências de Johnson), que usou a música no lado B do single “Always and Ever” em 1964.
Foi no Dr. Feelgood que Wilko ficou famoso, vivendo seu melhor momento e se destacando, também, como compositor. Esse período durou sete anos, de 1971 a 1977, gerando os quatro primeiros álbuns do grupo: Down by the Jetty (1975), Malpractice (1975), Stupidity (1976) e Sneakin' Suspicion (1977). Criando clássicos como “She Does It Right”, “All Through the City”, “Back in the Night”, “Don't Let Your Daddy Know”, “Sneakin' Suspicion”, e outros tantos. O Dr. Feelgood continuou na estrada e mesmo depois da morte do vocalista Lee Brilleaux (em 1994), último membro da formação original, a banda seguiu em frente, o mais recente disco Repeat Prescription, saiu em 2006 contando com músicos que, provavelmente, eram crianças quando a banda apareceu, ou mesmo nem tinham nascido. Não é um disco ruim, mas não chega nem aos pés dos trabalhos lançados na época e Johnson, para muitos, o verdadeiro e único Dr. Feelgood. Nunca descobri exatamente por que ele deixou o grupo, reza a lenda que a sua relação com Lee não ia nada bem e que a gota d’água foi uma discussão sobre uma canção que iria entrar no novo disco. Wilko se encheu de Lee e resolveu partir para outra. Mas se o Dr. Feelgood já não era o mesmo sem ele, a recíproca também foi verdadeira.
Em 1977 Johnson já estava à frente de uma nova banda o Solid Senders, assinou com a Virgin Records no ano seguinte, lançando um LP homônimo e fazendo uma passagem marcante pelo Front Row Festival que acabou registrada em um disco duplo. Porém, o Solid Senders não decolou e um ano depois ele se juntou ao The Blockheads, de Ian Dury onde permaneceu até 1980. Como eu nunca curti muito esse tal de Ian Dury (nem dury, nem moly), achei que não foi bom negócio, mas foi lá que ele conheceu o baixista Norman Watt-Roy que depois se tornou um colaborador regular na Wilko Johnson Band. Em 1981 ele lançou seu segundo trabalho solo Ice on the Motorway e dois anos depois o EP "Bottle Up and Go!" com Lew Lewis (ex-Eddie & The Hot Rods), na década de 80 ainda rolaram mais alguns LPs, lançados em escala menor e por pequenos selos europeus: Pull the Cover (1984), Watch Out! (1985), Call It What You Want (1987), Barbed Wire Blues (1988) e o EP Back In The Day (1988) em parceria com Steve Hooker.
Dos anos noventa até os dias de hoje, o guitarrista continuou na ativa, mas longe da mídia e do mainstream, as gravações se tornaram mais esporádicas e quando aconteciam muitas vezes traziam releituras de velhos clássicos ou eram de apresentações ao vivo. Em 1992 ele participou do Eurockéennes Music Festival, e no ano seguinte do GuilFest. A oportunidade para um novo álbum surgiu em 1998 quando ele lançou Going Back Home pelo desconhecido selo Mystic. Ao final da década de 90 Johnson passou a evitar aparições em grandes concertos, mas abriu uma exceção para gravar Live in Japan 2000, lançado no ano seguinte. No entanto ele continuou firme e forte no circuito dos pubs, mesmo depois da morte da sua esposa e booking manager (pessoa responsável pelo agendamento dos shows) Irene em 2004. Em abril 2005 sai o CD Red Hot Rocking Blues, seu mais recente lançamento até o momento, o disco traz apenas uma música assinada por ele, todas as outras faixas são interpretações dos seus artistas prediletos como Lowell Fulson (autor da faixa que emprestou o nome ao disco), Leadbelly, Johnny Otis, Van Morrison, Chuck Berry...
Na maior parte do ano até o começo de 2006 a Wilko Jonhson Band esteve ao lado do The Hamsters e John Otway na turnê The Mad, the Bad & the Dangerous, que acabou gerando o DVD homônimo lançado em 2007. Em 2008 o aclamado diretor de cinema Julien Temple teve a idéia de fazer um documentário sobre Dr. Feelgood ('Oil City Confidencial', que seria lançado em outubro, no Reino Unido). Ele não imaginava que no decorrer das filmagens conheceria pessoalmente um dos grandes excêntricos da Inglaterra (nas palavras dele): o próprio Wilko Johnson.. Fascinado pelo inusitado encontro, o projeto foi muito além da data de conclusão (e orçamento), a fim de acomodar as muitas facetas desse caráter extraordinário, o herói inesperado do filme. Como resultado de tudo isso, tem havido recentemente um frenesi de interesse renovado em Wilko. Figurinha carimbada do rock britânico, uma verdadeira lenda viva, Wilko Jonhson continua firme a forte, tocando nos pubs do sul da Inglaterra. Até quando? Só o diabo sabe a resposta. Se eu caísse para aqueles lados, vasculharia todos os cantos para descobrir onde ele estaria se apresentado, pois valeria muito a pena.
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