segunda-feira, 25 de julho de 2011

The Velvet Underground - Os Avós do Punk

Quantas pessoas ouviram falar bem do Velvet Underground a vida inteira, e quando foram ouvir as músicas, se decepcionaram? E assim mesmo seguem falando - até para não fazer feio - que "o V.U. é um banda espetacular, a grande banda dos anos 60", e coisas do tipo. Mas poucos sabem que a maior importância do V.U. foi a quebra que causaram nos valores de uma banda de rock que existia até aquela época.Para entendermos melhor, devemos retornar um pouco na história:

Antes dos Beatles não havia um conceito de banda de rock. Havia sim, o artista solo, que tinha uma banda que o acompanhava nos shows (Elvis Presley, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, e todos os anteriores...) Depois dos Beatles, surgiu na Inglaterra uma explosão de bandas que seguiam a mesma linha, a ânsia pelo sucesso - e estava formado o movimento power pop.Nos Estados Unidos, porém, o impacto dos Beatles foi diferente, criando uma leva inconsistente de bandas, com ícones pop - da original onda surf music americana - como os Beach Boys e Ventures; ou bandas de garagem, como os Trashmen e as bandas da antológica coletânea chamada "Nugget", que se diferenciavam por não serem nada vendáveis segundo os padrões da época.

Dessa última turma, surgia em 1963, em Nova Iorque, uma banda que foi o extremo oposto dos critérios do power pop, o Velvet Underground. Foram eles os primeiros que exigiram a alcunha de arte ao rock que faziam. Não tratavam seu sou apenas como um acessório para se atingir a fama imediata. Surgia assim o conceito das bandas underground, que não tinham como único motivo de existir o sucesso.

A arte como arte não deve ser moldada para se tornar vendável, e o Velvet Underground sabia disso. Ao mesmo tempo que os Beatles, em sua fase iê-iê-iê, tocavam músicas que representavam a ingenuidade angelical da juventude, como "I wanna Hold your Hand" e "She Loves You", o Velvet Underground tocava "Heroin" (Tomei a grande decisão/Vou tentar inutilizar minha vida/Quando a heroína entra no meu sangue e o sangue chega ao meu cérebro/"Obrigado Deus, por me sentir tão bem, tão morto"/Vocês, garotas, com a fala delicada, podem ir embora!/Eu descobri o que há pouco não sabia/Heroína, seja minha esposa, minha vida/Heroína, seja a minha morte), ou "Venus in Furs", ode ao sadomasoquismo (Botas-de-couro brilhante/Chibatadas na escuridão/Entra com sinos, o seu servo - não o abandone!/Bata nele, dominadora, e cure seu coração/Beije a bota-de-couro brilhante/Língua com argolas, o cinto a espera/Fique de joelhos e prove do chicote).

O primeiro disco da banda, "Velvet Underground and Nico", vendeu poucos milhares de cópias e passou desapercebido pela crítica. Mas a lenda conta que cada pessoa que ouviu o disco, formou uma banda. E então, criou-se o rock underground! (mas isto já é outra história...)

...E então fez-se a luz! - O Velvet Underground lança seu primeiro disco, "The Velvet Underground And Nico", em janeiro de 1967. As revistas mais sérias de rock o consideraram como "o disco de rock mais importante que os Beatles nunca lançaram" (inclusive a revista Rolling Stone considerava na época o disco como um atentado à decadência da American Way of Life). Apesar disso, vendeu em torno de mil cópias, e logo seria banido das loja de NY.

Mas o disco teria uma repercussão diferente na Europa, onde chegaria ao patamar de instrumento revolucionário. Um grupo de lutadores pela liberdade da República Checa, por exemplo, consideravam o disco como um reflexo do tipo de revolução que eles queriam e que fariam pouco depois, e se auto-denominavam The Velvet Revolution.

O grande nome por trás do disco é Andy Warhol, o artista plástico mais famoso da Nova Iorque da época, que mantinha The Fabric, um centro de exposições artísticas que era o ponto de encontro dos artistas marginais. Ele adotou a banda depois de assistir estasiado um show deles no Cafe Bizarre, em 64. Planejou um show com dançarinos inusitados e frenéticos, representando fetiches sexuais, holofotes, flashes, barulhos diversos e filmes projetados por trás do palco e em cima dos Velvet Underground. O show se chamaria The Exploding Plastic Inevitable, que cruzaria os EUA e Europa a partir de 66, deixando em todos os lugares que passava pessoas desconcertadas.

"De repente, o show intermedia explode por todo o país. A performance do Velvet Underground é a mais violenta, barulhenta e dinâmica que existe, criando um novo conceito de arte. Eles exploram a expressão mais dramática da geração contemporânea. O disco é apenas uma versão fria e harmonizada do espetáculo anárquico que eles fazem." Village Voice – 1967

"The Exploding Plastic Inevitable é um show sem tréguas de horror. A experiência é brutal, e a verdade é exposta sem critérios. Chega uma hora que o eco em seus ouvidos cessa. Mas o que você fará com o que ficou em seu cérebro? O futuro não será nunca mais como já foi um dia" Chicago Daily News - 1968

"...o som do Velvet Underground parece um produto do casamento entre Bob Dylan e Marquês de Sade. O rock and roll se tornou mais barulhento, os dançarinos mais frenéticos e as luzes piscam desgovernadas. Holofotes te cegam momentaneamente, enquanto buzinas de carro te ensurdece. E a banda - você não acredita que o barulho pode aumentar, numa onda rítmica incessante, tão impura que você passa a entender o show, as música, os dançarinos, os filmes, se tornando num momento psicótico de heresia histérica." World Jornal Tribune - 1968

Lou reed assina a maioria das canções do disco, e John Cale, seu parceiro artístico e o outro pólo criativo da banda, registra em seu nome as canções que fez ("Sunday Morning", "The Black Angel's Song" e "European Son"). Lou Reed e John Cale passam a competir pelo domínio artístico da banda, nascendo assim o fruto de discórdia que afastaria Nico, Warhol e finalmente John Cale, e culminaria com o fim da banda.

Nico (Christa Paffgen), surda de um ouvido, que era atriz e modelo húngara (participou de filmes como La Dolce Vita, de Frederico Fellini) e presença constante na The Fabric, entraria na banda e logo se apaixonaria por Lou Reed, mas pouco tempo depois sacaria que o cara gostava era de peito peludo. Nico, a princípio, iria cantar a maioria das canções do disco como fazia nos shows (sua voz gélida era o ideal), mas foi limada pouco a pouco por Reed, que a deixou cantar somente em "Femme Fatale", "All Tomorrow Parties" e "I'll Be Your Mirror".

Logo depois do primeiro disco, Lou Reed expulsaria a moça da banda, e a partir daí, Andy Warhol iria perder gradualmente o interesse pelo grupo. Nico se muda para a Funhouse, a comunidade dos The Stooges, e teria um caso com Iggy Pop. Depois seguiria em carreira-solo lançando quatro discos depressivos e participaria de alguns filmes, comercias e outros projetos artísticos, até que, em julho de 88, morre em 1988, de aneurisma cerebral, enquanto andava de bicicleta. A banda ainda lançaria três álbuns oficiais que revolucionariam (mais ainda!) o mundo do rock...

...em novembro de 1967, sai o segundo disco do VU, "White Light/White Heat", que vendeu ainda menos que o primeiro. O grande chamariz do disco é a música "Sister Ray", uma epopéia de mais de 17 minutos, sobre um grupo de marinheiros que são flagrados pela polícia enquanto visitavam um drag-queen. Há ainda a magnífica "White Light/White Heat", que David Bowie tocaria freqüentemente como Ziggy Stardust.No terceiro disco, "The Velvet Underground", de 69, John Cale (expulso por Lou Reed) seria substituído pelo o multi-musicionista Doug Yule. É um disco conceitual, sobre a procura de uma garota por um significado existencial através: do niilismo ("Candy Says"), religião ("Jesus") e adultério ("Pale Blue Eyes"), e termina com uma magnífica canção sobre sua derrota em sua jornada, com uma música sobre solidão ("After Hours"). Lou reed estava aperfeiçoando seu lado cronista, e isso estaria comprovado nos vários discos conceituais que lançaria futuramente em carreira-solo.

O Velvet Underground ficaria sem gravadora depois do terceiro disco, mas com "Loaded", de 70, um genuíno disco de rock and roll, consegue reaver o contrato. O irmão de Doug Yule, Billy, entraria no lugar de Maureen Tucker na bateria. Mas pouco antes de ser lançado, Lou reed abandona a banda quando finalmente conseguem alcançar algum interesse do público. Há pelo menos três clássicos do rock and roll, que são: "Sweet Jane", "Oh! Sweet Nuthing" e "Rock and Roll".

Os membros restantes (nenhum da formação original), ainda lançariam o álbum "Squeeze", em 72, que seria excluído da discografia da banda pouco tempo depois. Há ainda dois discos ao vivo póstumos, o "Live At Max's Kansas City" e o "1969". "VU", lançado em 85, e "Another View", em 1989, são coletâneas de músicas nunca lançadas anteriormente do que seria o quarto disco da banda, de 1969, além de vários takes obscuros. "VU" foi irônicamente o disco do Velvet Underground que mais vendeu nos Estados Unidos.

Em 1993, John Cale, Lou Reed, Sterling Morrison e Maureen Tucker, se reuniriam para lançar um disco duplo ao vivo, o "Live MCMXCIII". Apesar da reunião ser oportunista - em função do descobrimento da banda pela nova geração - nada que seja desconsiderável, já que o Velvet Underground é considerado, para muitos, a banda norte-americana mais significante para a história do rock and roll.

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