terça-feira, 28 de abril de 2009

PARA CORTAR OS PULSOS

Na espera do 4º capitulo da saga Ramonica , um Texto de um dos maiores críticos musicais brasileiros sobre o disco Rocket to Russia...putz como eu queria ter escrito isso

RAMONES: ROCKET TO RUSSIA

É duro ser um garoto de doze anos afundado até o queixo no lodoso tédio urbano. Todo mundo dá palpite na sua vida. O status em casa e na rua, a voz e até o corpo ainda são de criança – mas os instintos são de homem, e as garotas, todas ficando peitudas, não estão nem aí com você. Escrotas. Piranhas.

A única saída é dar uma de muito mais durão do que você realmente é. Começar a beber, fumar, bater punheta direto. E estar pronto para sacrificar qualquer coisa por alguns momentos de diversão adrenal. Mas dá mesmo para sacrificar? É difícil. Nem todo mundo é durão de verdade. Dá até para afetar a cara de mau, mas no fundo você gosta de sessão da tarde… jogar fliperama, tomar milkshake, ouvir rock altão no seu quarto só para zoar com a mãe, pegar uma praia, passear ao crepúsculo de mãos dadas com sua baby (quem dera)…

Dá para jogar tudo para o alto só por um pouco de alegria? Vale a pena matar aula o tempo inteiro, não estar nem aí com a escola? Sim, se isso garantir a admiração das minas e o respeito dos colegas. Mas e se depois você acaba tomando pau por causa disso? Cheirar cola é gostoso… mas faz mal! Mas… qual é o problema de fazer mal? No fundo você vai acabar morrendo mesmo!

Viver é uma confusão desgraçada – e nunca isso fica mais claro na vida de um homem do que quando começam a aparecer os primeiros pêlos na cara. O absurdo é que quatro nova-iorquinos broncos tenham capturado com tanta precisão este estado de espírito púbere que-se-foda. Sem intelectualismo nem autoparódia e em plena hegemonia Yes-Led, os Ramones inventaram o som da adolescência. Puro, sem misturas, sem gelo.
As bases já existiam, claro. O rock de garagem dos anos 60, a surf music, o bubblegum, Stooges, os Stones do começo, New York Dolls. O próprio Joey Ramone começou a cantar numa banda glam (o Sniper). Mas os Ramones levaram a coisa um passo adiante, indo direto ao esqueleto do negócio: músicas de dois minutos, refrões simples e riffs primários, letras que viam a dor e a delícia de ser teenager através do rayban da cultura popular mais acessível e rastaqüera. Tudo tão rápido, pesado e pegajoso quanto possível. Urgente como um comercial de TV. Punk rock, mesmo – se você pensar que punk originalmente significa vagabundo de rua, tranqueira, cara inútil para a sociedade.

Rocket To Russia pegou o que já era perfeito – os dois primeiros discos do grupo, Ramones e Leave Home, ambos de 76 – e elevou à categoria de transcendental. Tem duas covers, "Do You Wanna Dance?" e "Surfin’ Bird", que dispensam comentários. E outras doze faixas originais essenciais, escritas com senso de humor, produzidas com capricho minimalista e executadas com a fúria e o tesão de quem está se divertindo pra cacete – contra tudo e todos. Entre "Rockaway Beach" e "Teenage Lobotomy" está tudo o que você precisa saber sobre rock.

Também tem "Sheena Is A Punk Rocker", "Cretin Hop", "I Wanna Be Well" – mas escute, não é isso que importa. Não importa que Johnny Rotten e Joe Strummer e esse bando todo de ingleses tenham se inspirado e imitado os Ramones, nem que grande parte da new wave, do punk e todo o hardcore deva as calças ao quarteto. Não importa a famosa cena do CBGB, nem o Blondie, nem os Talking Heads. Se discos futuros seriam irregulares, se eles bebiam ou se drogavam, se eles se repetiram, se Dee Dee compunha melhor que Johnny, se Mark isso e aquilo – naaaada disso importa.

O que importa é Joey Ramone cantando "I don’t care about this world/I don’t care about that girl… I don’t care". Eu não tô nem aí, não tô nem aqui e quero que tudo mais vá pro inferno. I just wanna have some fun.
Andre Forastieri

EU AMO A IMPERFEIÇAO – VIVA A PORNOGRAFIA AMADORA

Eu não sinto nenhum tesão quando vejo uma BARBIE GIRL , silicone nos seios , botox nos lábios , magreza hospitalar , quilos de maquiagem e discurso vazio .Pode parecer loucura mas prefiro olhar donas de casa amadoras exibindo seus corpos normais nuas na internet do que folhear uma playboy , as posições sempre parecem as mesmas ...as fotos parecem as mesmas ...os sorriso são tão artificiais quantos os corpos retocados pelo photoshops da vida . Mas não me sinto sozinho hoje parece uma tendência mundial , sites e mais sites de fotos amadoras em contrapartida a pornografia chique vê aos poucos seu império decair , todos se sentem livres para expor suas fantasias e seus corpos na rede , porque apesar de anos de mentiras , tanto da igreja quanto da sociedade conservadora , sexo é bom....saudável ...um encontro com deus...mesmo que seja praticado de forma solitária.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Ramones - Disco A Disco Capitulo 3

O MELHOR DISCO DE PUNK ROCK DE TODOS OS TEMPOS

01. "Cretin Hop"
02. "Rockaway Beach"
03. "Here Today, Gone Tomorrow"
04. "Locket Love"
05. "I Don't Care"
06. "Sheena Is A Punk Rocker"
07. "We're A Happy Family"
08. "Teenage Lobotomy"
09. "Do You Wanna Dance?"
10. "I Wanna Be Well"
11. "I Can't Give You Anything"
12. "Ramona"
13. "Surfin' Bird")
14. "Why Is It Always This Way?"


Rocket to Russia é um divisor de águas , tanto na história dos Ramones quanto do Punk Rock. Na história dos Ramones porque é seu melhor disco , também é o último disco feliz da família ( We’re a Happy Family ) , os problemas que sempre existiram entre eles, pouco a pouco se agravavam com a convivência nas longas turnês , no futuro esses mesmos problemas ficariam gigantescos com o afastamento que surgiria entre Joey e Johnny , mas até então eles ainda conseguiam se falar . Ainda quanto aos Ramones é o último disco de de estúdio com Tommy nas baquetas , ele se tornaria uma eminência parda , ora como produtor , ora com mediador nos momentos difíceis da banda ou simplesmente como um amigo. Ele não agüentava as longas viagens no meio daquele hospício , ele sabia que se continuasse ficaria tão louco como seus amigos...definitivamente ser um RAMONE não era para qualquer um.

Para o PUNK ROCK , ROCKET TO RUSSIA lançado em 77 é considerado a obra prima do gênero , a perfeição beira todas as faixas do disco . Do Clash , Green Day , Queers passando pelos Raimundos e indo até mesmo a bandinha de moleques com calças rasgadas que toca numa garagem perto de você leitor , todos ....ou já escutaram ou tem esse disco como o seu preferido .

Assim como querendo ou não o Punk nasceu em Nova Iorque , A discoteca também nasceu na grande maça , e Cretin Hop é uma ode ás avessas ao ritmo colorido que infestava as boates da cidade.

Dança Cretina

Não há forma de parar
Os idiotas de dançar
Você tem de fazer continuar
Para todos os cretinos dançantes
Cretino! Cretino!

Brian Wilson ( o líder dos Beach Boys ) , considerado como um dos maiores músicos de todos os tempos e criador da surf music , certa vez em entrevista quando perguntado quais eram os maiores discos de Surf Rock de todos os tempos , para surpresa de muitos mencionou Rocket To Russia na sua lista . Mas basta escutar com atenção o disco que fica claro...o terceiro disco dos malucos do Queens é o disco onde a influência do ritmo ensolarado da Califórnia é mais presente , chegando ao ponto de muitos críticos que torciam o nariz para o grupo , olhassem com outros olhos a partir de então a banda. Rockaway Beach deixa isso bem claro tanto no ritmo como na letra.

Praia Rockway

Mascando um ritmo em meu chiclete
O sol saiu e eu quero mais
Não é difícil, nem longe demais para chegar
Podemos pegar uma carona
Para a praia rockaway

Mas existiam ainda mais três Surf Songs no álbum : "Do You Wanna Dance?" ,
"Sheena Is A Punk Rocker" e "Surfin' Bird" . Muito dessa influência surfer se deve a Joey , que apesar de ter colocado no titulo da musica “ Sheena é Uma Roqueira Punk ” , deixa bem claro que o espirito era outro , como nesse trecho da letra.

Bem, todos os garotos estão de pé e prontos para ir
Eles estão prontos para ir agora
Eles estão com suas pranchas

"Do You Wanna Dance?" uma balada açucarada de Bobby Freeman transformou- se em uma das trigêmeas do album....Trigêmeas?...preste bem atenção nas semelhanças entre ela , Rochaway Beach e Sheena is A Punk Rocker ....semelhanças não só no que refere-se aos acordes mas nas levadas de bateria , no ritmo ensolarado e alegre que as três nos remetem e no baixo sinuoso . Rockaway Beach foi escrita por Dee Dee , talvez a letra mais alegre que ele tenha escrito na vida , bem diferente do seu padrão normal , isso se deve com certeza a influência do amigo Joey.

"Surfin' Bird" é um caso a parte , talvez de todas as covers que os Ramones fizeram na vida , ela tenha se tornado a mais famosa , e como que quase em todos os casos ficou bem melhor do que a original, mesmo sendo a original uma das melhores musicas de rock garageiro dos anos 60 , tocada por uma das 5 melhores bandas de todos os tempos , segundo Joey Ramone , os Trashmen. ( ele colocaria nessa lista ainda Stooges , Stones , Beatles e claro os Ramones )

The Trashmen gravou "Surfin’ Bird", em 1963 , mas aliados a um processo de plágio ( a canção usava riffs originais de composições do grupo de soul The Rivingntons, "Papa-Oom-Mow-Mow" e "The Bird's The World") e o fato também de estarem ligados a um pequena gravadora , ainda existia o fato que eles faziam um som muito sujo para a época.....quase proto punk....daí eles serem chamado de avós do punk. Gravaram dois discos e desapareceram como um dos grupos mais injustiçados da história do Rock .

Bem a lenda......Segundo Joey , os Ramones queriam ter gravado o lado b do compacto De “Surfin Bird” dos Trashmen , mas ele tinha perdido o disco e não se lembrava dos acordes de “ King of Surf “ , essa declaração foi dada em um programa de rádio em São Paulo , na primeira visita ao brasil da banda. Nos bastidores surgiu uma nova versão para a história ( que convenhamos é bem mais aceitável , afinal uma coletânea dos Trashmen foi lançada logo que foi inventado o formato Compac Disc ...o que não deixa de também ser estranho esse lançamento para uma banda desconhecida que nunca vendeu nada ) , segundo pessoas ligadas a banda a não gravação de “ King Of Surf “ se deu porque Johnny jamais conseguiria reproduzir os acordes iniciais dessa musica ao vivo , já que em estúdio poderia ser contratado um musico para substitui-lo , mas era consenso que a gravação faria um tremendo sucesso e teria que ser tocada ao vivo , então a banda resolveu gravar o lado A...que se tornaria também uma constante nos Shows da banda , mas essa não continha nem um solo de guitarra complicado. Lendas a parte “ Surfin Bird “ foi a primeira musica Punk gravada no planeta , mas se tiver curiosidade escute seu lado b.....indispensável.

Duas musicas do disco eram do repertório da primeira banda de Joey , Sniper . "I Don't Care" e "Here Today, Gone Tomorrow", a primeira típica musica da raiva adolescente e a segunda uma balada romântica de letra simples , mas que mostrava bem o que se passava na cabeça e no coração do vocalista;

Oh oh oh, oh oh oh
Eu te amo
Oh oh oh, oh oh oh
Eu te amo
Eu amo, eu amo

Mas eu disse a ela porque nós não podemos dar certo
Eu ainda quero você, mas simplesmente não aguento
O momento chegou, nós temos que nos separar
Alguém tem que pagar o preço

Oh oh oh, oh oh oh
Acabou
Oh oh oh, oh oh oh
Acabou
É verdade, é verdade

E eu penso nos momentos que passamos juntos
Quando o tempo passava, parecia eterno
Mas os tempos mudaram, agora as coisas estão melhores
Alguém teve que pagar o preço

Mas ao mesmo tempo que eram românticos , eles mantinham seu lado sarcástico sempre em ponto de bala , como em “ Locket Love “ algumas fontes mencionam que a inspiração para essa letra tenha sido a famosa corrente com cadeado pendurada por Nancy Spuggen em Sid Vicious ( baixista dos Sex Pistols ).

Adorável medalhão do amor
Você poderia ser usado um pouquinho
Pendurar uma corrente ao seu redor
Você também está pendurado
Espere um pouco mais
Espere, você é uma coisa perdida
Adorável medalhão do amor
Pois uma foto nunca
Tenta te expor
Por que você me telefonou?

"We're A Happy Family" é uma canção chave para entender o disco e a Banda , eles chegavam no terceiro disco mais felizes do que nunca , mas logo a família perderia um membro ( Tommy ) e as diferenças começariam a aparecer mais do que nunca , todos sem exceção tinham problemas em relação as suas respectivas famílias e encontraram na banda um lugar seguro , onde podiam viver suas loucuras particulares . Todos adotaram o sobrenome Ramone para deixar claro que eram unidos ( claro hoje sabemos que não eram ) , mas na época eles passavam essa imagem para o público ou melhor queriam que fosse assim.... era um desejo. Uma letra que parece pueril , mas que é ao mesmo tempo cínica e verdadeira.....que conseguia criticar as famílias americanas , as famílias de cada um na banda e a eles próprios com a tentativa frustada de serem uma família como banda.


Somos uma Família Alegre

Somos uma família alegre
Somos uma família alegre
Somos uma família alegre
Eu, mamãe e papai

Sentados aqui no Queens
Comendo feijões requentados
Estamos em todas as revistas
Tomando thorazines
Não tenho amigos
Nossos problemas nunca terminam
Não temos cartão de natal para mandar
Papai gosta de homens

Papai está contando mentiras
O bebê está comendo moscas
Mamãe está nas pílulas
O bebê está com calafrio
Sou amigo do presidente
Sou amigo do papa
Estamos fazendo uma fortuna
Vendendo as drogas do papai

De todas as letras do album “Teenage Lobotomy” é a melhor , os malucos do Queens provaram que podiam fazer uma musica psicodélica sem ser chata , ela fala do dia a dia do vocalista em um hospício , suas viagens e alucinações e onde segundo a lenda ele faturava as doentes mais gostosas. O mais curioso na historia é que ele foi internado por vontade própria.

Lobotomia Adolescente

DDT fez algo em mim
Agora eu sou um cara muito doente
Acho que eu vou ter de contar
Que eu não tenho mente para perder
Todas as garotas estão apaixonadas por mim
Sou uma lobotomia adolescente

Caramujos e lesmas estão me seguindo
DDT me mantêm feliz
Agora acho que vou ter que contar para eles
Que eu não tenho cérebro
Vou pegar meu Ph.D.
Sou uma lobotomia adolescente

“I Wanna Be Well “ é um hino a porralouquisse , do refrão explosivo a letra completamente chapada , é prima irmã de I Wanna Be Sebated , lançada anos depois. Elevando a loucura do dia a dia de um drogado , em arte. Uma letra clássica do baixista.

Sim, eu quero ficar bom
Eu quero ficar bom
Eu quero ficar
Eu quero, eu quero, eu quero
Eu quero, eu quero, eu quero
Sim, eu quero ficar bom
Eu quero meu lsd, cara

I can't give you anything – Fala de uma garota que quer mais do que o seu autor pode dar , parece simples , mas ao mesmo tempo é um recado para toda a pressão que a banda sofria para fazer sucesso , um sucesso que eles mesmo se cobravam em virtude das bandas que eles influenciaram estarem ganhando rios de dólares e eles , ao contrário vivendo as duras penas .

Eu Não Posso Te Dar Qualquer Coisa
É melhor você saber o que você quer
Você sabe o pouco que eu tenho
Eu não posso te dar qualquer coisa

“ Ramona “ fala de uma garota ( Seria Linda Ramone ? a namorada de Joey que casou com Johnny ? ) , Joey apresenta elas aos amigos dizendo que ela é doce mas ao mesmo tempo uma espiã do Fbi ( ou seja linda , mas com idéias reacionárias....bem encaixa-se perfeitamente no perfil de Linda ...que trocou o maluco Joey pelo reacionário Johnny ) ...

Doce pequena ramona
Ela sempre quer se juntar a nós
Doce pequena ramona
Acho que tentarei telefonar para ela
Eu a deixei entrar se você quer saber o por que
Pois ela é uma espiã do fbi

E parecendo previr o futuro par de chifres que ganharia do amigo guitarrista , o final é pura premonição.

Escrevi uma carta para ela e comecei a chorar
E então eu sabia que eu queria morrer
Oooh, pequena ramona

Encerrando o disco mais uma Surf Song ( sim leitor eu errei o disco tem cinco e não quatro canções inspiradas em ondas e pranchas ) letra triste , mas melodia alegre

Por Que Isso É Sempre Assim?
Hei, hei, hei
Por que isso é sempre assim?

A última vez que a vi com vida
Ela estava surfando, surfando adeus adeus
Ela estava contemplando o suicídio
Agora ela está descansando
Numa garrafa de formaldeído*

E oh, eu simplesmente não sei
Por que não posso deixa-la ir
Oh eu simplesmente não sei

Hey hey hey
Por que isso é sempre assim?
A última vez que a vi com vida
Ela estava indo tomar banho e se enxugar
Ela estava lá fora pegando uma carona
Agora ela está descansando
Numa garrafa de formaldeído

Desobediência:A Virtude Original do Homem

Oscar Wilde (in The Social Soul of a Man uder Socialism, 1891)

Pode-se até admitir que os pobres tenham virtudes, mas elas devem ser lamentadas. Muitas vezes ouvimos que os pobres são gratos à caridade.Alguns o são, sem dúvida, mas os melhores entre eles jamais o serão. São ingratos, descontentes, desobedientes e rebeldes - e têm razão. Consideram que a caridade é uma forma inadequada e ridícula de restituição parcial, uma esmola, geralmente acompanhada de uma tentativa impertinente, por parte do doador, de tiranizar a vida de quem a recebe. Por que deveriam sentir gratidão pelas migalhas que caem da mesa dos ricos? Eles deveriam estar sentados nela e agora começam a percebê-lo. Quanto ao descontentamento, qualquer homem que não se sentisse descontente com o péssimo ambiente e o baixo nível de vida que lhe são reservados seria realmente muito estúpido.

Qualquer pessoa que tenha lido a história da humanidade aprendeu que a desobediência é a virtude original do homem. O progresso é uma conseqüência da desobediência e da rebelião. Muitas vezes elogiamos os pobres por serem econômicos. Mas recomendar aos pobres que poupem é algo grotesco e insultante. Seria como aconselhar um homem que está morrendo de fome a comer menos; um trabalhador urbano ou rural que poupasse seria totalmente imoral. Nenhum homem deveria estar sempre pronto a mostrar que consegue viver como um animal mal alimentado. Deveria recusar-se a viver assim, roubar ou fazer greve - o que para muitos é uma forma de roubo.

Quanto à mendicância, é muito mais seguro mendigar do que roubar, mas é melhor roubar do que mendigar. Não! Um pobre que é ingrato, descontente, rebelde e que se recusa a poupar terá, provavelmente, uma verdadeira personalidade e uma grande riqueza interior. De qualquer forma, ele representará uma saudável forma de protesto. Quanto aos pobres virtuosos, devemos ter pena deles, mas jamais admirá-los. Eles entraram num acordo particular com o inimigo e venderam os seus direitos por um preço muito baixo. Devem ser também extraordinariamente estúpidos. Posso entender um homem que aceita as leis que protegem a propriedade privada e admita que ela seja acumulada enquanto for capaz de realizar alguma forma de atividade intelectual sob tais condições. Mas não consigo entender como alguém que tem uma vida medonha graças a essas leis possa ainda concordar com a sua continuidade. Entretanto, a explicação não é difícil, pelo contrário. A miséria e a pobreza são de tais modos degradantes e exercem um efeito tão paralisante sobre a natureza humana que nenhuma classe consegue realmente ter consciência do seu próprio sofrimento. É preciso que outras pessoas venham apontá-lo e mesmo assim muitas vezes não acreditam nelas. O que os patrões dizem sobre os agitadores é totalmente verdadeiro.

Os agitadores são um bando de pessoas intrometidas que se infiltram num determinado segmento da comunidade totalmente satisfeito com a situação em que vivem e semeiam o descontentamento nele. É por isso que os agitadores são necessários. Sem eles, em nosso estado imperfeito, a civilização não avançaria. A abolição da escravatura na América não foi uma conseqüência da ação direta dos escravos nem uma expressão do seu desejo de liberdade. A escravidão foi abolida graças à conduta totalmente ilegal de agitadores vindos de Boston e de outros lugares, que não eram escravos, não tinham escravos nem qualquer relação direta com o problema. Foram eles, sem dúvida, que começaram tudo. É curioso lembrar que dos próprios escravos eles recebiam pouquíssima ajuda material e quase nenhuma solidariedade. E quando a guerra terminou e os escravos descobriram que estavam livres, tão livres que podiam até morrer de fome livremente, muitos lamentaram amargamente a nova situação. Para o pensador, o fato mais trágico da revolução francesa não foi o de que Maria Antonieta tenha sido morta por ser rainha, mas que os camponeses famintos da Vendée tivessem concordado em morrer defendendo a causa do feudalismo.

terça-feira, 7 de abril de 2009

A RODA DE POGO


Há mais de 25 anos fui assistir o meu primeiro show punk e desde então sou um freqüentador assíduo (às vezes nem tanto) de shows de punkrock e hardcore em Porto Alegre. Diferente de shows de cantores e bandas famosas onde os fãs vão para ver a banda e cantar as músicas, num show punk o objetivo principal é dançar. Uma dança bem peculiar, que até parece uma briga campal com chutes e socos para todos os lados. Essa é a "Roda de Pogo" (pronuncia-se pôgo), aquele aparente tumulto em frente ao palco, que na verdade é a dança amigável de várias pessoas que estão felizes, chutando o estresse e curtindo um som. Esse documento vai tentar descrever essa dança e as suas características.

O Ambiente, Vazio

Vamos começar com o lugar onde acontecem os shows. Nada de grandes galpões, palcos espaçosos de 2 metros de altura, camarotes, seguranças, jogos de luzes, gelo seco, inspeções sanitárias e dos bombeiros. Esqueça tudo isso. Os shows acontecem em bares, porões, garagens e similares. São lugares comuns e apertados, que às vezes têm um palco. Então imagine um bar comum, um boteco com balcão e mesas. No fundo, uma porta que está sempre fechada e leva a uma sala pequena, escura e vazia, sem móveis, sem decoração. Essa é a sala onde acontecem os shows. Suas características: * As paredes são escuras (pintadas de preto ou simplesmente sujas).
* Não há janelas, pois o som não pode escapar para a vizinhança.
* Ventiladores são um extra e ar condicionado não existe.
* A iluminação é mínima, com luzes amareladas e cansadas.
* O cheiro é uma mistura de mofo com fumaça de cigarro, cerveja e suor dos shows anteriores, porém é suportável.
* O chão é grudento.

No canto da sala tem um "palco", um tablado preto de 20cm de altura onde cabe uma banda de três integrantes. O palco é vazio também, pois os amplificadores, instrumentos e toda a aparelhagem são trazidas pelas bandas. Extintores? Saída de incêndio? Luzes de emergência? Esqueça.

O Ambiente, Cheio

O público chega e o lugar fica cheio. Mas cheio no sentido "lotado" da palavra. Não há espaço para se movimentar livremente, é preciso que outras pessoas saiam do caminho para que você possa andar. Tem de tudo: punks de moicano colorido, metaleiros cabeludos de preto, carecas de suspensório, gurizada de 14 anos, bêbados do boteco, surfistas de bermuda e até gurias bem arrumadas. Os caras (e gurias) das bandas são pessoas não identificáveis no meio do público, que na sua vez vão ao palco para tocar. Nas outras bandas eles são como todos os outros, assistem e participam do pogo. A porta fica sempre fechada para o som não escapar para a vizinhança e lembre-se que não há janelas. O resultado é que o ar não circula, não se renova. Verão ou inverno, tanto faz. Dentro da salinha é sempre um forno e todos suam. "Calor humano" ganha um novo sentido nesse ambiente. O cheiro que antes era suportável agora fica realmente forte. São adicionados mais ingredientes à mistura: respiração, flatulência e suor dos presentes, cerveja derramada no chão (Ah, por isso que é grudento!) e fumaça de cigarro (nicotina e maconha). Depois de um tempo você aprende a ignorar o seu nariz.

Devido ao calor do ambiente, a maioria dos caras está sem camisa e pingando de suor, e como todos estão espremidos, o contato de sua pele com o suor de vários indivíduos é inevitável. O tato é outro sentido que você aprende a ignorar. O lugar é fechado, então as paredes começam a suar. O teto também fica molhado e gotas de sei-lá-o-quê caem na sua cabeça. O chão fica igualmente molhado de suor e de cerveja, passando de grudento a escorregadio. Este é um elemento dificultador do pogo. Não há seguranças. Não há policiamento. Não há qualquer tipo de controle. O dono do bar raramente se incomoda com o show. As bandas e o público tomam conta de tudo. O bom senso funciona, mesmo tendo vários bêbados e drogados no recinto. A primeira banda vai ao palco e o show vai começar. São cinco integrantes que se espremem para caber no mini-palco. É comum eles se trombarem durante o show. A primeira fileira da platéia consegue ver a banda toda, o resto do público só vê cabeças. Mas como o objetivo é dançar, ou melhor, pogar, isso não importa.

O Pogo

Ah, o pogo. A razão da existência de um show punk. O momento de alegria e energia quando o punk e o surfista se abraçam, depois se chutam, depois se abraçam de novo e por aí vai. Tudo numa boa. Pogar é simplesmente "dançar" num contexto punk. O termo "poguear" também pode ser usado, porém é menos comum. O som punkrock/hardcore é forte, rápido e cheio de energia, e a dança reflete essas características. Ao ouvir a música, seu corpo inteiro vibra e a vontade que dá é a de extravasar essa energia: pular, correr, sair chutando o mundo. E assim é a dança, consiste em pulos, correrias e movimentos cadenciados de braços e pernas.
O pogo clássico foi eternizado com o desenho da banda Circle Jerks: O pogo clássico
O movimento é o seguinte: você anda, dando os passos no ritmo da música. A cada passo, a perna é levantada e esticada, dando-se um chute no ar, como se estivesse chutando uma bola de futebol. Um chute médio, nem fraco nem forte.

Nota: O detalhe é que ao invés de chutar o ar, você chuta outras pessoas, pois estão todos espremidos, lembra? Mas preste atenção, você não está chutando outra pessoa porque você quer. A música faz você chutar o ar e por acaso há outra pessoa no lugar do ar. Tanto o chutante quanto o chutado estão cientes disso, então todos se chutam o tempo todo e isso é normal. O tronco e a cabeça são movimentados para um lado e para o outro, acompanhando o ritmo e os chutes. É a ginga. Os braços ficam dobrados em 90 graus e os punhos fechados, fazendo um movimento alternado, para frente e para trás, no ritmo da música. É como um boxeador em posição de defesa do rosto, só que com a guarda mais aberta (os punhos não se tocam) e os cotovelos bem afastados. A cabeça fica levemente abaixada. Esta é uma posição de defesa da cabeça, para evitar colisões. Assim, nos choques o que se bate são os cotovelos e antebraços. Algumas variações incluem uma posição diferente dos braços, dobrados na vertical e fazendo movimentos para cima e para baixo. Ou ainda dar joelhadas no ar ao invés de chutar.
Então se você nunca viu, imagine a dança. Um boxeador defendendo a cabeça, gingando e dando chutes no ar. Isso é pogar. Agora imagine vários boxeadores suados e fedidos fazendo isso em um espaço minúsculo, se chocando e se batendo o tempo todo. Isso é um pogo.

Se passa a semana inteira, o que fazer para melhorar?
As contas estão esperando e o salário não vai dar.
Chega o fim de semana e eu sei que algo vai mudar,
Quando esqueço os meus problemas e começo a POGAR.
-- banda Sociedade Armada

A Roda de Pogo

A roda de pogo é uma evolução natural do pogo. Com cada um andando em uma direção diferente, os choques frontais são muito freqüentes e a dança fica prejudicada. Apesar de se trombar fazer parte do jogo, se trombar demais impede que se faça a ginga no ritmo da música. Nada é combinado, mas intuitivamente todos começam a andar para uma mesma direção, diminuindo o caos de colisões frontais. Como o espaço é reduzido, só é possível andar em círculos, ao redor do centro do pogo. Esta é a roda de pogo. O sentido não importa, mas parece ser mais "natural" andar no sentido anti-horário. Não sei porque, experiência própria. A roda geralmente se forma na frente do palco, logo atrás do pessoal do gargarejo na primeira fileira. Ela pode ser pequena ou imensa, dependendo do número de integrantes. Geralmente há apenas uma. O resto do público que não quer pogar se acomoda ao redor da roda, levando uns chutes, cotoveladas e encontrões de vez em quando. No intervalo das músicas a roda pára e todos descansam. É comum ver abraços entre amigos, sorrisos e gritos, típicos de quem está se divertindo bastante. Os sorrisos também são comuns de ver no meio da roda. Chutar e ser chutado faz parte do jogo e todos fazem isso com alegria. É a libertação. É uma grande festa punk.

Quero uma festa com os Kennedys
Eles é que sabem o que é hardcore
Depois pra resfriar e afastar os junkies
POGUEAR um monte ouvindo Circle Jerks
Quero uma festa punk!
-- banda Replicantes

As Variações da Dança

Quando a banda é realmente boa e todos estão muito empolgados, é comum ver variações do pogo clássico, que podem incluir:

* Rodar a camiseta acima da cabeça e gritar.
* Jogar cerveja para o alto e gritar.
* Subir no ombro de outro cara e rodar a camiseta e/ou jogar cerveja.
* Pular no ar num momento de ápice da música.
* Dar vários pulos consecutivos no ápice do momento de ápice da música.
* Levantar um braço com o punho fechado e cantar frases da letra.
* Levantar os dois braços e com os punhos e olhos fechados cantar a frase da letra que realmente é especial para você.
* Abraçar o primeiro cara que ver na frente e pogarem juntos por alguns segundos. Não ficar muito tempo abraçado que senão é viadagem.
* Fechar os olhos e simplesmente deixar o corpo solto, sendo jogado para todos os lados junto com o pogo.
* Fazer um mosh.

Como se a vida fosse um punkrock em show
Temos 15 minutos para mostrar o que queremos
E você segue em frente contente com o show
CHUTANDO as coisas ruins, deixe tudo de lado
-- banda Tequila Baby

O Mosh

O mosh (pronuncia-se móchi) não é uma exclusividade de shows punk, mas por ser bem freqüente a sua execução, merece ser comentado também. "Dar um mosh" é subir no palco e se jogar de lá, caindo em cima da platéia. O nome gringo é "stage dive", mas eu aprendi como mosh. Funciona assim: você se joga. As pessoas te seguram não porque querem, mas porque é a única maneira de não se machucarem com o choque do seu corpo, já que o lugar está lotado e não é possível sair debaixo. Por isso é mais sábio pular em cima das pessoas que estão assistindo o show, e não no pogo. O pulo é uma questão de estilo. Pode ser frontal (tipo mergulho), de costas, com giro, com mortal, braços abertos, qualquer coisa menos pular "em pé". Isso é coisa de frutinha que está com medinho de se machucar. E ainda pode machucar os outros com a pisada. Aconteça o que acontecer, saia logo do palco. Se você subiu para dar um mosh, corra e pule. Não fique saracoteando ou querendo tomar o lugar do vocalista da banda. Se você quer mesmo cantar monte sua própria banda.

Também não fique feito um trouxa pedindo para que o pessoal se junte para te segurar, ou fazer "cadeirinha". Se não há onde pular, simplesmente desça do palco na boa e volte para o pogo. LEMBRE-SE: Qualquer permanência não solicitada de mais de 5 segundos em cima do palco é considerada manézisse extrema.

As Regras

Punks e regras não combinam. Mas o pogo é como um mundinho à parte, com as suas regras de conduta e de boa convivência que devem ser respeitadas. É muito comum para um iniciante ver a roda de pogo e logo concluir: "Ah, saquei, basta socar e chutar todo mundo e estarei dançando". E lá vai o pequeno gafanhoto fazer isso no pogo. Ele com certeza sairá machucado. Todos no pogo sabem quem são os que estão dançando na boa e os que estão abusando. Qualquer pancada diferente do normal é facilmente reconhecida e a repreensão pode vir verbalmente ou com outra pancada mais forte. "Sem querer", é claro. Brigas no pogo são raríssimas.


ETIQUETA DO POGO

* Cada um pode dançar como quiser, batendo nos outros de maneira amigável e não intencional, sem abusos.
* Se alguém cair no chão (escorregadio, lembra?) os que estão ao redor fazem uma "cabaninha" para protegê-lo e o ajudam a levantar.
* Se precisar amarrar o tênis/bota/coturno, faça isso fora do pogo.
* Se você achar alguma coisa no chão, entregue para o cara da banda anunciar no microfone no intervalo das músicas.
* Uma guria pogando ou dando mosh deve ser encarada como um punk suado fedido. Nada de aproveitar para tirar uma lasquinha. Isso é coisa de mané.
* Se você quer que sua namorada pogue, deixe-a. Ficar protegendo a mulher no meio do pogo é ineficiente e atrapalha os demais. Ou deixe-a livre ou saiam da roda.
* Pogo e cigarro não combinam, pois brasa quente e caras sem camisa se atraem. Se quiser fumar, saia do pogo.
* Cansou? Saia do pogo, não fique parado no meio atrapalhando o fluxo.
* Tomou uma pancada forte? Tente identificar se foi intencional ou sem querer. Geralmente é sem querer. Saia da roda para se recuperar. Se foi intencional, marque o cara e depois bata nele "sem querer" também em outra música, para que ele saia do pogo. Se quiser ser mais construtivo tente conversar e explicar o que ele fez de errado.
* Bateu forte em alguém sem querer? Peça desculpas na hora para não ser confundido como intencional. Mesmo se desculpando, sair do pogo por alguns minutos pode ser uma boa idéia. Avalie a situação.
* Não brigue. Você notou que não há brigas no pogo? Faça a sua parte para que isso continue assim.

O Fim

Terminados os shows, você está exausto, sem ar, com sede, com fome, fervendo, suando e com dores por todo o corpo. As roupas estão encharcadas numa mistura de suor, cerveja e as gotas de não-sei-o-quê que caem do teto. Perder a camiseta é comum, não se preocupe. Seu cheiro é insuportável. Suas roupas devem ir direto para o tanque ou para o lixo. A nuca dói. Há arranhões e hematomas no seu corpo, principalmente no antebraço e nos cotovelos. Seu tênis/bota/coturno está irreconhecível, todo pisoteado e sujo. E o principal: há um BAITA sorrisão em seu rosto e você se sente renovado, vivo, feliz

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Bem esse blog tem muito texto e quase nenhuma imagem....entao para decorar esse ferro velho sentimental de bytes...a tia Elvira ...rendi varias em sua homenagem

Vagabundagem

Arthur Rimbaud

Tradução de Ferreira Gullar.

Lá ia eu com as mãos em meus bolsos furados;
O paletó também se tornara irreal;
E sob aquele céu, Musa! eu era teu vassalo;
E imaginava amores nunca imaginados!
Nas calças um buraco e eu só tinha aquelas.
- Pequeno Polegar das rimas, sonhador,
Instalei meu albergue na Ursa Maior.
- Lá no céu o frufru de seda das estrelas...
Eu as ouvia, sentado à beira das estradas,
nas noites boas de setembro,
quando o orvalho revigorava-me a fronte como um vinho;
E em meio às sombras fantásticas, então,
dedilhava, como se fossem lira,
os elásticos de meus sapatos,
o pé junto do coração!

Me despeço com esse poema, vou seguir minha caminhada solitaria nessas pradarias virtuais...e tudo que voce precisapara ser feliz esta dentro da sua cabeça , meu irmão...faça o seu dia valer a pena ...escute rock....faça sexo...seja educado...faça o que voce gosta e ignore as merdas do dia-a dia....bom final de semana rapeize

Do Fundo do Bau

OS CASCAVELLETES

O Rock hoje em dia salva vaquinhas , é politicamente correto , nada conforme a correnteza , mamães e papais escutam rock nos seus carros confortáveis...nas suas casas burguesas....ou seja o bom e velho rock and roll virou Pop Rock .Mas nem sempre foi assim.....

Nos anos 80 em Porto Alegre existiu um banda que era essência , a alma do “sexo ,drogas e Rock and Roll”...que cultivava os ensinamentos do mestre Chuck Berry....que dizia que o verdadeiro Rock and Roll é aquele tipo de musica que seus pais não vão gostar , eu completo é o tipo de musica que te faz sentir três sensações , em separado ou juntas.São elas: montar uma banda , sair e quebrar tudo ...e a principal trepar. Os Cascavelletes eram o sinônimo de tudo isso , fui a quatro shows deles , assisti três ( em um deles fiquei comendo uma garota no banheiro....uma das três sensações mencionadas acima ).

Os Cascavelletes eram energia pura , primal e instintiva. Flavio Basso ( vocal e guitarra ) parecia um Mick Jagger Punk , louco berrando uma deliciosa pornografia inconsequente sobre a platéia ( quase na maioria feminina ) ....me fazia lembrar daqueles filmes sobre a Beatlemania ,alias João Gordo ( Ratos de Porão ) os chamava de Beatles Punks. Mas tínhamos ainda Neia Wan Soria na guitarra e vocais com seus solos simples e precisos , oriundos do bom e velho rockabilly de sua banda anteriror ( TNT -  outra lenda gaucha , da qual Nei e Flávio faziam parte )...no baixo o mestre Frank Jorge com seus Backing Vocals memoráveis e estilo Buddy Holly de ser na epóca , completando essa banda dos sonhos na batera , o monstro Alexandre Barea que socava como um animal seu kit.

Qual banda tirou uma radio do ar por causa de suas letras pornográficas ? Qual banda fez shows onde as garotas da platéia acabavam a maioria deles sem calcinhas ? Qual banda te faz comer uma garota linda em um banheiro sujo e imundo? Cascavelletes meus caros , como dizia Flavio Basso sem modéstia e com arrogância sulista...A Maior Banda De Rock And Roll Do Mundo , e vou ser sincero naqueles três shows que assisti eram mesmo.


Lembranças ( ou nada dura para sempre )




A alguns dias recebi um foto antiga , meio amarelada , a foto mostrava uma turma de garotos adolescentes com idades que variavam de 18 a 14 anos , todos rasgados ,sujos e cheios de cerveja barata e quente na cabeça .Mas isso não me chamou tanto a atenção , o que me chamou mais a atenção foi o olhar desafiador deles , o sorriso sarcástico de quem não se importava com o futuro , um sorriso para quem o passado era apenas passado nada mais , nada para se ter orgulho , um sorriso de quem vivia o presente no limite mesmo...as vezes ultrapassando ele .

Acho que o mais complicado na passagem da adolescência para a vida adulta , é saber conviver com as perdas , é aprender...parece simples mas não é , que nada vai ser para sempre , tudo tem prazo de validade. Um dia você se acorda no meio da noite para dar uma mijada e se olha no espelho e se enxerga com 39 anos....pai de dois filhos .....mas o mais engraçado que por dentro dessa carcaça de rugas , cicatrizes , quilos a mais e cabelos a menos....você sente-se ainda adolescente , você não consegue dormir então caminha até a loja de conveniência de um posto de gasolina próximo a sua casa e pede um cappuccino e tenta se consolar que nada mais pode te machucar...

Porque nada dura pra sempre , o fliperama na subida da Borges não existe mais , nem o boteco que ficava ao lado , onde tinha o garçom mais camarada da cidade , o Clark Kent - o maluco era a cara do Superman , a lanchonete que vendia doces baratos numa ruela suja próximo ao meu colégio também desapareceu , as lojas de vinis usados ainda resistem ,o cheiro de bolor que exala do seu interior parece perfume para mim , claro os cds usados hoje ocupam mais espaço que os vinis e tampouco eu vou encontrar um vinil do Sex Pistols no meio das velharias como aconteceu em 1983 , até mesmo a farmácia que ficava na esquina da Borges com Fernando Machado onde a gurizada comprava melhoral infantil para misturar com Coca-Cola também sucumbiu ....nada dura para sempre , assim como aquela turma na foto também por motivos diversos não existe mais , cada um seguiu seu caminho , no meu mundo de fantasia espero que todos ainda mantenham os ideais daquela época mágica onde existiam dias e noites que valiam por uma vida , mas um dia a festa acaba , a tarde termina....Como se digita Lágrimas?