domingo, 24 de janeiro de 2021

Provérbios do Inferno - William Blake

No tempo de semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.

Conduz teu carro e teu arado sobre a ossada dos mortos.

O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

A prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência.

Aquele que deseja e não age engendra a peste.

O verme perdoa o arado que o corta.

Imerge no rio aquele que ama a água.

O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê.

Aquele cuja face não fulgura jamais será uma estrela.

A Eternidade anda enamorada dos frutos do tempo.

À laboriosa abelha não sobra tempo para tristezas.

As horas de insensatez são medidas pelo relógio, as de sabedoria, porém, não há relógio que as meça.

Todo alimento sadio se colhe sem rede e sem laço.

Toma número, peso & medida em ano de míngua.

Ave alguma se eleva a grande altura, se se eleva com suas próprias asas.

Um cadáver não revida agravos.

O ato mais alto é priorizar o outro.

Se o tolo persistice em sua tolice, sábio se tornaria.

A tolice é o manto da malandrice.

Prisões se constroem com pedras da Lei; Bordéis, com tijolos da Religião.

A vanglória do pavão é a glória de Deus.

O cabritismo do bode é a bondade de Deus.

A fúria do leão é a sabedoria de Deus.

A nudez da mulher é a obra de Deus.

Excesso de pranto ri. Excesso de riso chora.

O Rugir de leões, o uivar dos lobos, o furor do mar em procela e a espada destruidora são fragmentos de eternidade, demasiado grandes para o olho humano.

A raposa culpa o ardil, não a si mesma.

Júbilo fecunda. Tristeza engendra.

Vista o homem a pele do leão, a mulher, o velo da ovelha.

O pássaro um ninho, a aranha uma teia, homem amizade.

O tolo, egoísta e risonho, & tolo, sisudo e tristonho, serão ambos julgados sábios, para que sejam exemplo.

O que agora se prova outrora foi imaginário.

O rato, o camundongo, a raposa e o coelho espreitam as raízes: o leão, o tigre, o cavalo e o elefante espreitam os frutos.

A cisterna contém: a fonte transborda.

Uma só idéia impregna a imensidão.

Dize sempre o que pensas e o vil te evitará.

Tudo em que se pode crer é imagem da verdade.

Jamais uma águia perdeu tanto tempo como quando se dispôs a aprender com a gralha.

A raposa provê a si mesma, mas Deus provê ao leão.

De manhã, pensa. Ao meio dia, age. Ao entardecer, come. De noite, dorme.

Quem consentiu que dele te aproveitasses, este te conhece.

Assim como o arado segue as palavras, Deus recompensa as preces.

Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.

Da água estagnada espera veneno.

Jamais saberás o que é suficiente, se não souberes o que é mais suficiente.

Ouve a crítica do tolo! é um direito régio!

Os olhos de fogo, as narinas de ar, a boca de água, a barba de terra.

O fraco em coragem é forte em astúcia.

A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão ao cavalo como apanhar sua presa.

Quem reconhecido recebe, abundante colheita obtém.

Se outros não fossem tolos, seríamos nós.

A alma imersa em deleite jamais será maculada.

Quando vês uma guia, vês uma parcela do Gênio; ergue a cabeça!

Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para pôr seus ovos, o sacerdote lança suas maldições sobre as alegrias mais belas.

Criar uma pequena flor é labor de séculos.

Maldição tensiona: Bênção relaxa.

O melhor vinho é o mais velho, a melhor água, a mais nova.

Orações não aram! Louvores não colhem!

Alegrias não riem! Tristezas não choram!

A cabeça, sublime; o coração, Paixão; os genitais, Beleza; mãos e pés, Proporção.

Como o ar para o pássaro, ou o mar para o peixe, assim o desprezo para o desprezível.

O corvo queria tudo negro; a coruja, tudo branco.

Exuberância é Beleza.

Se seguisse os conselhos da rapoza, o leão seria astuto.

O Progresso constrói caminhos retos; mas caminhos tortuosos sem Progresso são caminhos de Gênio.

Melhor matar um bebê em seu berço que acalentar desejos irrealizáveis.

Onde ausente o homem, estéril a natureza.

A verdade jamais será dita de modo compreensível, sem que nela se creia.

Suficiente! ou Demasiado.


Os Poetas antigos animaram todos os objetos sensíveis com Deuses e Gênios, nomeando-os e adornando-os com os atributos de bosques, rios, montanhas, lagos, cidades, nações e tudo quanto seus amplos e numerosos sentidos permitiam perceber.

E estudaram, em particular, o caráter de cada cidade e país, identificando-os segundo seu deidade mental;

Até que se estabeleceu um sistema, do qual alguns se favoreceram, & escravizaram o vulgo com o intento de concretizar ou abstrair as deidades mentais a partir de seus objetos: assim comecou o sacerdócio;

Pela escolha de formas de culto das narrativas poéticas.

E proclamaram, por fim, que os Deuses haviam ordenado tais coisas.

Desse modo, os homens esqueceram que todas as deidades residem no coração humano.


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