A história das emblemáticas jaquetas de couro usadas pela banda confunde-se com a história de uma das mais tradicionais fabricantes de jaquetas dos EUA, a Schott NYC. Criada em 1913 pelos irmãos Irving e Jack Schott, a companhia era responsável pela fabricação de roupas impermeáveis, resistentes e que tinham uma boa resposta contra intempéries.
Mas foi em 1928 que o mais clássico modelo das jaquetas Schott chegou ao mercado. Alcunhado em homenagem ao charuto preferido de Irving Schott, o modelo chamar-se-ia Perfecto. Em 1940, surge o modelo Perfecto 613, apelidado de “The One Star Jacket”, devido à estrela que trazia nas ombreiras.
O pós-guerra trouxe uma grande mudança no ritmo e estilo de vida do cidadão americano. Os garotos que retornavam do front não queriam mais usar o bom e velho terno engomado. Os cabelos já não se apresentavam tão comportados e as jaquetas entram em cena como símbolo de renovação e rebeldia. “É o visual da garotada americana, que está aí há um bocado de tempo, desde os anos 50”, afirma o baixista CJ Ramone. No início da década de 50, o modelo Perfecto 618 chega ao mercado.
Apesar de fabricarem inúmeros modelos de jaquetas, as Schott Perfecto 613 e 618 marcaram definitivamente. Ambas ficaram amplamente conhecidas através das telas dos cinemas. Marlon Brando, em “The Wild One”, tornou-se um ícone da cultura pop ao encarnar Johnny Strabler. A jaqueta de couro e o quepe de lado tornaram-se marcas registradas do filme. É possível ver a influência do estilo em diversos outros filmes, como em “Grease” e “Cry Baby”. Mesmo naquelas jaquetas que não eram fabricadas pela Schott Bros., notamos a influência do modelo Perfecto.
Em 1976, uma capa de disco trouxe, em definitivo, a jaqueta de couro para o visual rocker. Punk rocker, pra ser mais específico. Os Ramones, fotografados naquela ocasião por Roberta Bailey, chamaram a atenção pelo visual minimalista e uniforme. “Era o meu ‘uniforme’, quando eu era garoto”, relembra CJ. Literalmente: Jeans, tênis surrados e a jaqueta de couro. Tudo bem, sabemos que, na primeira capa, apenas Johnny vestia uma Schott Perfecto. Mas o estilo estava definido. Daí por diante, poderíamos ver os garotos desfilando suas jaquetas em praticamente todas as capas de álbuns em que apareciam. E o “praticamente” não foi usado por acaso, pois, na capa do álbum “End Of The Century”, fotografada por Mick Rock, eles quebraram o protocolo. Pareciam bons meninos, bem diferentes da foto do encarte.
A composição das artes dos álbuns era ajudada pelo estilo rústico das jaquetas. Tal característica fica bastante evidente na contracapa do álbum “Too Tough To Die”. O pano de fundo utilizado, com seu zíper devidamente enquadrado, era uma jaqueta Perfecto. Em “Animal Boy”, na atmosfera de backstage criada para sua contracapa, encontramos nada mais nada menos que a boa e velha jaqueta jogada, compondo o visual. Sem mencionar a arte do CD de “Ramonesmania 2”, lançamento exclusivo do Japão.
A rotina não seria diferente no que diz respeito ao material promocional da banda. As sessões de fotos deveriam ser feitas com o “uniforme” completo. George DuBose, fotógrafo oficial dos Ramones por cerca de 13 anos, teve a oportunidade de registrar e imortalizar o estilo da banda em diversas ocasiões. Até mesmo Clem Burke, o famoso Elvis Ramone, que posou com uma inusitada camisa Coco Chanel, trazia consigo sua Perfecto.
CJ, o último Ramone, teve a responsabilidade de receber não só o baixo de Dee Dee, mas também a jaqueta. “Me deram a jaqueta usada por Dee Dee. Usei durante os sete anos em que estive na banda, exceto por uma vez ou outra, quando usei minha própria”, revela.
Com mais de 100 anos de estrada, a Schott NYC continua fabricando seus modelos clássicos. É possível encontrá-las, em grande quantidade e variedade, no próprio site da Schott, no Ebay (em especial pra quem está à procura de um modelo vintage) ou numa terceira opção chamada Rakuten Global Market. É nessa hora que surgem as dúvidas relacionadas ao design de cada tipo de jaqueta.
É muito importante, especialmente para aquisições de jaquetas novas, que seja fielmente seguida a tabela de medidas fornecidas pelo vendedor. As jaquetas costumam ser bem fiéis ao tamanho indicado. Outra dica importantíssima é saber a origem da jaqueta. Ok, todas são fabricadas nos EUA. Mas nem todas são fabricadas para o público americano. Um exemplo clássico disso é o modelo 613US, fabricado nos EUA, mas vendido, exclusivamente, no mercado Japonês.
Exatamente o que você leu. Não é possível, inclusive para cidadãos americanos, adquirir esse modelo nos EUA, mesmo direto com o fabricante. A diferença básica está na largura das mangas. As jaquetas 613 fabricadas atualmente (para o mercado americano) possuem uma circunferência de manga bem exagerada, diferente das vintage.
Essa tendência pode ser explicada, talvez, pela mudança do perfil corporal do cidadão americano. Resumindo: você fica “bem” na jaqueta, mas seus braços “somem” dentro da jaqueta. Se você não for um bombadinho e nem pensa em viver os próximos anos dentro de uma academia, fuja.
Em contrapartida, o modelo 613US, fabricado exclusivamente para o Japão, possui um design mais justo. Lembram bastante os modelos usados por Johnny e Dee Dee nos anos 70. As mangas são bem mais ajustadas ao braço.
É possível encontrar também a Schott 613US Long Riders, feita para japoneses mais altos que a média do país. A diferença no preço é substancial, normalmente de 50 a 100 dólares.
O mais importante é encontrar o modelo que lhe agrade. Como mencionado anteriormente, as jaquetas modelo Perfecto não são fabricadas exclusivamente pela Schott Bros. Inúmeras outras fabricantes foram “inspiradas” pelo modelo. É possível encontrar boas jaquetas por aí, como as das marcas Wilson’s e Excelled. Entretanto, vale ressaltar que a verdadeira Perfecto é originalmente fabricada pela Schott.
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