Lançado originalmente na Inglaterra em 1997, Poison Heart. Surviving The
Ramones, este acerto de contas com a própria vida, chegou ao Brasil em
2004.
Escrito em primeira pessoa, com a colaboração de Veronica Kofman,
Coração Envenenado impressiona pela mistura entre o tom ingênuo e
coloquial da narrativa e a pungência dos fatos narrados.
Os demônios que atravessam o livro, aqueles que infernizaram a
existência de seu autor e dos quais ele tenta se livrar ao escrever, nos
falam também sobre a cena punk nova-iorquina; e o fazem como se
fôssemos, nós leitores, seus camaradas. Não há, portanto, um grande
tratado sobre a história da música, do rock ou do punk neste livro. Não
cabe aqui tal distanciamento.
O que há é alguém, uma personagem de fato histórica, falando sobre sua
infância na Alemanha pós Segunda Guerra, sua família desestruturada, a
iniciação tão prematura nas drogas, a adolescência no Queens, a formação
da banda, seus amigos, namoradas e desafetos, seus vícios e as
tentativas de se livrar deles, seus problemas de adaptação ao mundo.
Terminada a leitura deste relato tão honesto quanto subjetivo (e põe
subjetivo nisso), temos um quadro completo na mente, como se tivéssemos,
a partir de então, acesso a meandros históricos que não nos poderiam
ter sido revelados de outra forma.